A lusofonia no interior da África Central na era pré-colonial. Um contributo para a sua história e compreensão na actualidade

Autores

  • Beatrix Heintze Frobenius-Institut, Frankfurt am Main, Alemanha

Palavras-chave:

Pré-colonialismo, Língua portuguesa, Língua franca, África Central, Angola

Resumo

A difusão da língua portuguesa em Angola, iniciada com a chegada dos portugueses no século XV, está estreitamente ligada ao comércio atlântico de escravos. Os principais impulsos dessa difusão partiram das cidades, feitorias e presídios portuguesas junto à costa e no hinterland. No entanto, atribuir as raízes históricas da actual lusofonia em Angola única e exclusivamente aos portugueses e ao seu domínio colonial, seria incorrer num erro grosseiro e num simplismo inadmissível. Desde o século XVII que um grupo de africanos que adoptou elementos da cultura portuguesa – para além do vestuário, principalmente a língua falada e escrita – teve uma participação decisiva neste processo, não só no hinterland costeiro, mas a partir do início do século XIX também no interior profundo do continente, longe de qualquer influência directa dos portugueses. No interior do continente, este processo terminou após a conferência de Berlim e a criação do Estado Livre do Congo. Nos territórios ocidentais da Angola actual, o processo complexo, protagonizado por portugueses, luso-africanos e alguns africanos, criou no entanto as bases em que assenta a lusofonia posterior.

Referências

Alexandre Alberto da Rocha Serpa PINTO, 1881, Como eu atravessei África do Atlantico ao mar indico, viagem de Benguella á contra-costa. Atravès regiões desconhecidas; determinações geographicas e estudos ethnographicos, Londres, Sampson Low, 2 vols.

Ana Paula TAVARES & Catarina Madeira SANTOS, 1998/1999, «Fontes escritas africanas para a história de Angola», Fontes & Estudos. Revista do Arquivo Histórico Nacional, vols. 4-5, pp. 87-133.

Ana Paula TAVARES & Catarina Madeira SANTOS, 2000, «Uma leitura africana das estratégias políticas e jurídicas. Textos dos e para os dembos, Angola c. 1869-1920», in Maria Emília Madeira SANTOS (ed.), A África e a instalação do sistema colonial (c. 1885 - c. 1930). III Reunião Internacional de História de África – Actas, Lisboa, Instituto de Investigação Científica Tropical, pp. 243-260.

Ana Paula TAVARES & Catarina Madeira SANTOS, 2002 (eds.), Africae monumenta – A apropriação da escrita pelos Africanos. Arquivo Caculo Cacahenda, Lisboa, Instituto de Investigação Científica Tropical.

Anton Erwin LUX, 1880, Von Loanda nach Kimbundu. Ergebnisse der Forschungsreise im äquatorialen West-Afrika (1875-1876), Viena, Eduard Hölzel.

Beatrix HEINTZE (ed.), 1999, Max Buchners Reise nach Zentralafrika 1878-1882. Briefe, Berichte, Studien, Colónia, Köppe.

Beatrix HEINTZE & Achim von OPPEN (eds.), Angola on the Move: Transport Routes, Communications, and History, http://www.zmo.de/angola.

Beatrix HEINTZE, 1979, «Der portugiesisch-afrikanische Vasallenvertrag in Angola im 17. Jahrhundert», Paideuma, vol. 25, pp. 195-223.

Beatrix HEINTZE, 1980a, «The Angolan Vassal Tributes of the 17th Century», Revista de História económica e social, vol. 6, pp. 57-78.

Beatrix HEINTZE, 1980b, «Luso-african Feudalism in Angola?», Revista Portuguesa de História, vol. 18, pp. 111-131.

Beatrix HEINTZE, 1983, «Probleme bei der Interpretation von Schriftquellen: Die portugiesischen Richtlinien zur Angola-Politik im 17. Jahrhundert als Beispiel», in Rainer VOSSEN & Ulrike CLAUDI (eds.), Sprache, Geschichte und Kultur in Afrika, Hamburgo, Buske, pp. 461-480.

Beatrix HEINTZE, 1985 (ed.), Fontes para a história de Angola do século XVII. I. Memórias, relações e outros manuscritos da Colectânea Documental de Fernão de Sousa (1622-1635), Estugarda, Steiner.

Beatrix HEINTZE, 1996, Studien zur Geschichte Angolas im 16. und 17. Jahrhundert, Colónia, Köppe.

Beatrix HEINTZE, 2002, Afrikanische Pioniere: Trägerkarawanen im westlichen Zentralafrika (ca. 1850-1890), Francoforte do Meno, Lembeck.

Beatrix HEINTZE, 2003, «Orale Traditionen als Mittel zentralafrikanischer Tagespolitik im 19. Jahrhundert», Intervenção no workshop Inszenierung von Geschichte, Francoforte do Meno, manuscrito.

Beatrix HEINTZE, 2004a, Pioneiros Africanos: Caravanas de carregadores na África Centro- Ocidental (entre 1850 e 1890), Lisboa e Luanda, Caminho e Nzila.

Beatrix HEINTZE, 2004b, «Between Two Worlds: The Bezerras, a Luso-African Family in Western Central Africa (19th Century)», paper presented at the Charles Boxer Centenary Conference Creole Societies in the Portuguese and Dutch Colonial Empires, King’s College, Londres, 9 de Setembro de 2004.

Beatrix HEINTZE, 2004c, «Long-distance Caravans and Communications beyond the Kwango (c. 1850-1890)», in Beatrix HEINTZE & Achim von OPPEN (eds.), Angola on the Move: Transport Routes, Communications, and History, http://www.zmo.de/angola.

Carlos COUTO, 1972, Os capitães-mores em Angola no século XVIII, Luanda, Instituto de Investigação Científica de Angola.

Catarina Madeira SANTOS, 2004, «‘Escrever o poder’. Os autos de vassalagem e a vulgarização da escrita entre os africanos: o caso dos Ndembu em Angola (séculos XVII-XX)», in Beatrix HEINTZE & Achim von OPPEN (eds.), Angola on the Move: Transport Routes, Communications, and History, http://www.zmo.de/angola.

David LIVINGSTONE, 1858, Missionary Travels and Researches in South Africa, Nova-Iorque, Harper & Brothers.

David LIVINGSTONE, 1963, Livingstone’s African Journal 1853-1856, ed. I. Schapera, Londres, Chatto & Windus, 2 vols.

H[ermenegildo] CAPELLO & R[oberto] IVENS, 1881, De Benguella ás terras de Iácca, Lisboa, Imprensa Nacional, 2 vols.

Henrique Augusto Dias de CARVALHO (ed.), s.d. [1890], «Álbum de fotografias da Expedição Portuguesa ao Muatianvua», 1884/88 de Manuel Sertorio de Almeida Aguiar (fotografias) e Henrique Augusto Dias de Carvalho (textos), AMNE (Arquivo do Ministério dos Negocios Estrangeiros, Lisboa), Secretaria de Estado, 3° P., A. 7, M. 108.

Henrique Augusto Dias de CARVALHO, 1890-1894, Descripção da Viagem à Mussumba do Muatiânvua, Lisboa, Imprensa Nacional, 4 vols.

Henrique Augusto Dias de CARVALHO, 1890a, Ethnographia e história tradicional dos povos da Lunda, Lisboa, Imprensa Nacional.

Henrique Augusto Dias de CARVALHO, 1890b, A Lunda ou os Estados do Muatiânvua, dominios da soberania de Portugal, Lisboa, Adolpho, Modesto & Ca.

Herman SOYAUX, 1878, «Nur ein Neger», Die Gegenwart, vol. 13, (10), pp. 152-156.

Herman SOYAUX, 1879, Aus West-Afrika. 1873-1876. Erlebnisse und Beobachtungen.

Hermann von WISSMANN, 1892, Unter deutscher Flagge quer durch Afrika von West nach Ost. Berlim (1889). Nach der siebenten Auflage des großen Werkes vom Verfasser selbst bearbeitete kleinere Ausgabe, Berlim, Walther & Apolants Verlagsbuchhandlung.

Hermann von WISSMANN, Ludwig WOLF, Curt von FRANÇOIS & Hans MÜLLER, 1891, Im Innern Afrikas. Die Erforschung des Kassai während der Jahre 1883, 1884 und 1885. Lípsia, F.A. Brockhaus.

Jan VANSINA, 2001, «Portuguese vs Kimbundu: Language Use in the Colony of Angola (1575 - c. 1845)», Bulletin des Séances de l’Académie royale des Sciences d’Outre-Mer, vol. 47, (3), pp. 267-281.

Jean-Luc VELLUT, 1972, «Notes sur le Lunda et la frontière luso-africaine (1700-1900)», Etudes d’Histoire africaine, vol. 3, pp. 61-166.

Jill DIAS, 1986, «Changing Patterns of Power in the Luanda Hinterland. The Impact of Trade and Colonisation on the Mbundu ca. 1845-1920», Paideuma, vol. 32, pp. 285-318.

Jill DIAS, 1998, «Angola», in Valentim ALEXANDRE e Jill DIAS (eds.), O Império africano 1825-1890, Lisboa, Editorial Estampa, pp. 319-556.

Jill DIAS, 2000, «Esterótipos e realidades sociais: Quem eram os ‘Ambaquistas’?», in Construindo o passado angolano: As fontes e a sua interpretação, Actas do II Seminário International sobre a História de Angola. Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, pp. 597-623.

Joachim John MONTEIRO, 1875, Angola and the River Congo, Londres, MacMillan and Co, 2 vols. «Noticias de alguns dos districtos de que se compõe esta provincia», 1867, Annaes do Conselho Ultramarino, parte não official, Lisboa, vol. II (1859), pp. 81-82; (1860), pp. 83-93, 123-157.

John K. THORNTON, 1987, «The Correspondence of the Kongo Kings, 1614-35: Problems of Internal Written Evidence on a Central African Kingdom», Paideuma, vol. 33, pp. 407-421.

Joseph C. MILLER, 1988, Way of Death. Merchant Capitalism and the Angolan Slave Trade 1730-1830, Londres, James Currey.

Jutta LIMBACH, 2005, «Ich liebe unsere Sprache. Englisch ist ein Muß, Deutsch ist ein Plus: Plädoyer für eine aktive Sprachpolitik – in Innern wie im Ausland», Frankfurter Allgemeine Zeitung, 8.2.2005.

Lípsia, F.A. Brockhaus, 2 Theile in einem Band [volume composto por duas partes].

Manoel Alves de Castro FRANCINA, 1867, «Itinerario de uma jornada de Loanda ao districto de Ambaca, na provincia de Angola», Annaes do Conselho Ultramarino, parte não official, vol. I [1854], Lisboa, pp. 3-15.

Maria Emília Madeira SANTOS, 1997, «A apropriação da escrita pelos Africanos», Actas do Seminário Encontro de povos e culturas em Angola, Luanda, 3 a 6 de Abril de 1995, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, pp. 351-359.

Mário FONTINHA, 1983, Desenhos na areia dos Quiocos do nordeste de Angola, Lisboa, Instituto de Investigação Científica Tropical.

Ntambwe LUADIA-LUADIA, 1974, «Les Luluwa et le commerce luso-africain (1870-1895)», Etudes d’Histoire africaine, vol. 6, pp. 55-104.

Otto H. SCHÜTT, 1881, Reisen im südwestlichen Becken des Congo. Nach den Tagebüchern und Aufzeichnungen des Reisenden, editado e trabalhado por Paul Lindenberg, Berlim, Reimer.

(Paul GIEROW), 1881-1883, «Die Schütt’sche Expedition. Bericht des Mitgliedes der Expedition, Herrn Paul Gierow», Mittheilungen der Afrikanischen Gesellschaft in Deutschland, vol. III, pp. 96-135.

Paul POGGE, 1880, Im Reiche des Muata-Jamvo, Berlim, Reimer.

Paul POGGE, 1883-1885, «Mittheilungen aus Dr. Paul Pogge’s Tagebüchern, bearbeitet von Dr. A. von Danckelman», Mittheilungen der Afrikanischen Gesellschaft in Deutschland, vol. IV, pp. 228-264.

Verney Lovett CAMERON, 1877, Quer durch Afrika, Lípsia, Brockhaus, 2 vols.

Downloads

Publicado

2016-02-25

Edição

Secção

Artigos