"... cada macaco no seu galho". A participação democrática na escola pública

Autores

  • Pedro Patacho Instituto Superior de Ciências Educativas, Portugal
  • Jurjo Torres Santomé Universidade da Coruña, España

DOI:

https://doi.org/10.21814/rpe.11834

Resumo

A participação das famílias e da comunidade foi um dos dois argumentos em que se apoiou o regime de autonomia, administração e gestão das escolas aprovado em Portugal em 2008. Contudo, não existe evidência de que esta participação esteja a contribuir para introduzir melhorias significativas nas escolas. O presente artigo emerge de um estudo de casos mais amplo que analisou a participação das famílias em dois agrupamentos de escolas dos subúrbios de Lisboa, ambos com boa reputação na comunidade, mas bastante diferentes relativamente às variáveis de contexto. Foram aplicados 438 questionários a pais e mães, 122 questionários a docentes da Educação Básica, e foram realizadas 20 entrevistas semiestruturadas com diversos participantes. Os resultados evidenciam sobretudo uma visão conservadora da educação escolar e uma contradição entre a retórica e a prática da participação democrática, parecendo esta constituir o mero cumprimento de um formalismo legal. 

Palavras-chave: Participação das famílias e da comunidade; Escola democrática; Justiça social; Autonomia escolar

 

ABSTRACT

The participation of the families and the community was one of the two arguments underlying the Portuguese school governance model approved in 2008. However, there is no evidence that this participation has contributed to significant improvements in schools. This article emerges from a larger case study that analyzed the participation of families in two school clusters in the suburbs of Lisbon, both with a good reputation in the community, but quite different regarding the context variables. 438 questionnaires were applied to families, 122 to teachers, and 20 semi-structured interviews were conducted with several participants. Results show, above all, a conservative vision of education and a marked contradiction between the rhetoric and the practice of democratic participation, which seems to constitute the mere fulfillment of a legal formalism.

Keywords: Family and community participation; Democratic school; Social justice; School autonomy

 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografias Autor

Pedro Patacho, Instituto Superior de Ciências Educativas, Portugal

Professor Adjunto no Instituto Superior de Ciências Educativas, Portugal, e Professor Convidado na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto, Angola. Os seus principais interesses de investigação situam-se no campo das Políticas  da Educação e da Formação, em particular, os processos de participação democrática nas escolas, a sua relação com a justiça social e curricular, a formação de professores.

Jurjo Torres Santomé, Universidade da Coruña, España

Professor Catedrático de Didática e Organização Escolar na Universidade da Corunha, Espanha, onde dirige o Departamento de Pedagoxía e Didáctica. Foi anteriormente professor nas Universidades de Salamanca e Santiago de Compostela. Orienta frequentemente cursos e seminários em diversas universidades em Espanha, na Europa e na América. Os seus principais interesses de investigação são a análise sociopolítica do currículo e das políticas educativas, o currículo integrado, o currículo anti-discriminação, o multiculturalismo, e a formação de professores.

Referências

Angrosino, M. (2012). Etnografía y observación participante en investigación cualitativa. Madrid: Ediciones Morata.

Angrosino, M., & Rosenberg, J. (2011). Observations on observations. Continuities and chalenges. In N. Denzin & Y. Lincoln (Eds.), Handbook of qualitative research (4th ed., pp. 467-478). Thousand Oaks: Sage Publications.

Apple, M. (2010). "Endireitar" a educação. Mercados, Deus, padrões e desigualdade. Mangualde: Edições Pedago.

Barroso, J. (2011). Conhecimento e acção pública: As políticas sobre gestão e autonomia das escolas em Portugal (1986-2008). In J. Barroso & N. Afonso (Orgs.), Políticas educativas. Mobilização de conhecimentos e modos de regulação (pp. 27-58). Vila Nova de Gaia: Fundação Manuel Leão.

Bolívar, A. (2006). Familia y escuela: Dos mundos llamados a trabajar en común. Revista de Educación, 339, 119-146.

Canário, R. (2005). O que é a escola? Um "olhar" sociológico. Porto: Porto Editora.

Canário, R. (2008). Escola/família/comunidade para uma sociedade educativa. In M. Miguéns (Dir.), Escola/família/comunidade (pp. 104-113). Lisboa: Conselho Nacional de Educação.

Carvalho, M. E. P. (2009). Rethinking family-school relations. A critique of parental involvement in schooling. New York: Routledge.

Darder, A. (2015). Cultura e poder na sala de sula. Bases educacionais para a educação de estudantes biculturais. Ramada: Edições Pedago.

Davies, D. (2008). School-family-community partnerships in the United States. In M. Miguéns (Dir.), Escola/família/comunidade (pp. 33-45). Lisboa: Conselho Nacional de Educação.

Dudley-Marling, C. (2007). Return of the deficit. Journal of Education Controversy, 2(1), Article 5. Disponível em: http://cedar.wwu.edu/jec/vol2/iss1/5

Epstein, J. (2011). School, family, and partnerships. Preparing educators and improving schools. Boulder: Westview Press.

Everard, P. (2013). O Conselho Geral: Um desafio estratégico à autonomia (Dissertação de Mestrado). Disponível em: http://repositorio.ipl.pt/bitstream/10400.21/ 3142/1/O%20conselho%20geral.pdf

Faria, J. (2011). A vez e a voz dos pais. A autopoiesis do movimento associativo parental (Tese de Doutoramento). Universidade de Lisboa, Lisboa.

Fernández Enguita, M. (2007). Educação e transformação social. Mangualde: Edições Pedago.

Fine, M., Weis, L., & Powell, L. C. (1997). Communities of difference: A critical look at disaggregated spaces created for and by youth. Harvard Educational Review, 67(2), 247-284.

Flyvbjerg, B. (2011). Case study. In N. Denzin & Yvonna Lincoln (Eds.), Handbook of qualitative research (4th ed., pp. 301-316). Thousand Oaks: Sage Publications.

Gibbs, G. (2012). El análisis de datos cualitativos en investigación cualitativa. Madrid: Ediciones Morata.

Gimeno Sacristán, J. (2001). Educar e convivir en la cultura global. Madrid: Ediciones Morata.

Giroux, H. (2009). Tempo público e esperança educada. Liderança educacional e a guerra contra os jovens. Mangualde: Edições Pedago.

Gosine, K., & Islam, F. (2014). "It’s like we’re one big family": Marginalized young people, community, and the implications for urban schooling. School Community Journal, 24(2), 33-62.

Ishimaru, A. M., Torres, K. E., Salvador, J. E., Lott, J., Williams, D. M. C., & Tran, C. (2016). Reinforcing deficit, journeying toward equity. Cultural brokering in family engagement initiatives. American Educational Research Journal, 53(4), 1-33.

Kainz, K., & Aikens, N. L. (2007). Governing the family through education: A genealogy on the home/school relation. Equity & Excellence in Education, 40, 301-310.

Kvale, S. (2011). Las entrevistas en investigación cualitativa. Madrid: Ediciones Morata.

Lareau, A. (1987). Social-class differences in family-school relationships: The importance of cultural capital. Sociology of Education, 60(2), 73-85.

Lareau, A. (1989). Home advantage: Social class and parental intervention in elementary education. New York: Falmer Press.

Lareau, A., & Horvat, E. M. (1999). Moments of social inclusion and exclusion: Race, class, and cultural capital in family-school relationships. Sociology of Education, 72, 37-53.

Lincoln, Y., Lynham, S., & Guba, E. (2011). Paradigmatic controversies, contradictions, and emerging confluences, revisited. In N. Denzin & Y. Lincoln (Eds.), Handbook of qualitative research (4th ed., pp. 97-128). Thousand Oaks: Sage Publications.

Montadon, C. (2001). O desenvolvimento das relações família-escola. In C. Montadon & P. Perrenoud (Orgs.), Entre pais e professores, um diálogo impossível? Para uma análise sociológica das interacções entre a família e a escola (pp. 13-28). Oeiras: Celta Editora.

Nóvoa, A. (1992). Para uma análise das instituições escolares. In A. Nóvoa (Org.), As organizações escolares em análise (pp. 13-43). Lisboa: Publicações Dom Quixote e Instituto de Inovação Educacional.

Roubeni, S., De Haene, L., Keatley, E., Shah, N., & Rasmussen, A. (2015). "If we can’t do it, our children will do it one day": A qualitative study of West African immigrant parents’ losses and educational aspirations for their children. American Educational Research Journal, 52(2), 275-305.

Sá, V. (2004). A participação dos pais na escola pública portuguesa. Uma abordagem sociológica e organizacional. Braga: Universidade do Minho.

Silva, P. (2003). Escola-família, uma relação armadilhada. Interculturalidade e relações de poder. Porto: Edições Afrontamento.

Silva, P. (2008). O contributo da escola para a actividade parental numa perspectiva de cidadania. In M. Miguéns (Dir.), Escola/família/comunidade (pp. 115-140). Lisboa: Conselho Nacional de Educação.

Sousa, A. (2012). A intervenção dos pais no governo da escola pública: Estudo de caso (Tese de Doutoramento). http://repositorio.ucp.pt/bitstream/ 10400.14/12586/1/ Tese_%20Ana_Maria_Sousa.pdf

Theodorou, E. (2007). Reading between the lines: Exploring the assumptions and implications of parental involvement. International Journal about Parents in Education, 1(0), 90-96.

Torres Santomé, J. (1998). El currículo oculto. Madrid: Ediciones Morata.

Torres Santomé, J. (2011). La justicia curricular. El caballo de Troya de la cultura escolar. Madrid: Ediciones Morata.

Turner, E. O. (2015). Districts’ responses to demographic change: Making sense of race, class, and immigration in political and organizational context. American Educational Research Journal, 52(1), 4-39.

Viñao, A. (2007). Sistemas educativos, culturas escolares e reformas. Mangualde: Edições Pedago.

Downloads

Publicado

2017-12-07

Como Citar

Patacho, P., & Santomé, J. T. (2017). ". cada macaco no seu galho". A participação democrática na escola pública. Revista Portuguesa De Educação, 30(2), 275–304. https://doi.org/10.21814/rpe.11834

Edição

Secção

Artigos