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RECHERCHES EN ANTHROPOLOGIE AU PORTUGAL, nº 6, 2000
Francisco Reimão Queiroga
Universidade Fernando Pessoa

Este volume do periódico Recherches en Anthropologie au Portugal documenta a passagem do boletim homónimo ao formato de revista, assumindo uma periodicidade anual. Este número, seguindo a orientação monográfica da série, é dedicado a Benjamim Enes Pereira.

A revista, de aspecto agradável e sóbrio, está bem estruturada no alinhamento das matérias. O índice está organizado por rúbricas, padecendo da omissão da referência a páginas, o que dificulta sobremaneira a procura de qualquer artigo.

Os propósitos da revista, bem como a sua estrutura interna, são detalhadamente apresentados no Editorial, pela editora deste número, Fabienne Wateau. Pretende-se dedicar cada número, alternadamente, a um investigador cujo trabalho tenha marcado o desenvolvimento da Antropologia, ou bem a uma área temática. O corpo principal da revista é acrescido de uma rubrica intitulada crónica, a qual contém uma resanha da actualidade antropológica do ano a que se reporta, dividida em quatro secções: uma referência as revistas etnográficas, recensões das obras de edição recente, uma resanha das actividades científicas e, finalmente, uma nota informativa ou crítica sobre um tema de actualidade.

O corpo principal do volume é dedicado ao percurso de Benjamim Pereira pelas lides etnográficas, não só na sua parceria com Jorge Dias e Ernesto Veiga de Oliveira, como no trabalho individual desenvolvido ao longo da sua vida. Este capítulo, é iniciado por uma entrevista conduzida por Fabienne Wateau, na qual se vão insinuando episódios e circunstâncias de um percurso profundamente meditado, nas análises e nas posturas, e disciplinado nas limitações de intervenção sobre o meio que o etnógrafo deve impor a si próprio.

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No decurso do cerca de quarenta anos de trabalho, Benjamim Pereira fez muito e, sobretudo, observou muito, apesar das enormes restrições materiais e operacionais que a equipe tinha. Com a distância que sempre se impôs, mas sem prescindir da sensibilidade crítica que até hoje o acompanhou, observou as profundas modificações que durante este período sofreu a nossa cultura.

Desta entrevista, que procura ser objectiva e raras vezes cede a emoção, sobressai a imagem de um homem que se construiu através do trabalho intenso e dedicado, da observação permanente do meio, e das parcerias profícuas e de perfeita simbiose.

À entrevista segue-se a lista dos trabalhos publicados, de 1959 a 1999, em listagem bibliográfica, seguida de uma resanha analítica, evocando a sua inestimável "Bibliografia Analítica de Etnografia Portuguesa" (1965). Um conjunto que deixa transparecer as vicissitudes do seu percurso, bem assim como a permanente paixão pelo estudo da tecnologia tradicional, da qual -será de justiça salientá-lo- e o mais profundo conhecedor dentre os etnógrafos portugueses.

Na terceira parte deste bloco, temos um pequeno texto inédito de Benjamim Pereira, sobre a sua intervenção no projecto museológico da Aldeia da Luz, no Alqueva, seguido de algumas reflexões, de diversos autores, sobre a obra de Benjamim Pereira.

A crónica do ano de 1999 apresenta uma compilação dos periódicos, livros e manifestações científicas realizadas durante este ano.

A revista encerra com um "A propos ...", uma nótula de Joaquim Pais de Brito sobre a remodelação e reabertura do Museu Nacional de Etnologia. Temos, em suma, uma revista cuidada, rigorosa, que cumpre os objectivos a que se impôs, e que apresenta o mérito adicional de recordar a obra de Benjamim Enes Pereira.