Máquinas e maquinações: as reconfigurações do trabalho familiar no Caparaó cafeeiro/MG (2016-2018)
Resumo
Nas duas últimas décadas, na América Latina, a noção de “agricultura familiar” expandiu-se e tornou-se referencial político e econômico no enfrentamento de problemas referentes à reprodução de pequenos campesinatos cuja produção é ancorada, muito ou exclusivamente, na mão-de-obra familiar. No Brasil, em especial, a agricultura familiar enquanto política de intervenção do Estado ganhou relevo por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), voltado a oferta de crédito subsidiado setorial, criado em 1995 e expandido a partir de 2003. Diante desse contexto, procuro compreender etnograficamente as mudanças vividas, nos planos da concepção e da gestão cotidiana do trabalho, por pequenos agricultores e agricultoras familiares, habitantes de uma comunidade cafeeira do município de Espera Feliz, com os quais vivi no curso de quase três anos de trabalho de campo. Detenho atenção especial às relações entre o aumento das lavouras individuais e a aquisição crescente de máquinas agrícolas, fatores que estariam colaborando para um processo de individualização e competição no trabalho e gerando, assim, debates e tensões em torno da própria caracterização, em contexto, da agricultura familiar nas suas relações com o mercado (capitalista).