Entre bonecas e parentes: uma reflexão sobre as ritxo(k)o karajá

Autores

  • Joana Silva de Araujo Farias Departamento de Antropologia, Universidade de São Paulo, Brasil, joana.farias@usp.br

Resumo

O presente artigo busca revisitar o tema das bonecas karajá a partir de extensa revisão da bibliografia e de minha experiência em campo. A intenção é articular duas discussões historicamente separadas nas pesquisas sobre os Karajá: os estudos sobre os objetos e as discussões sobre a produção da pessoa, parentesco e corpo. Defendo que as ritxo(k)o fazem parte das redes de relações de parentesco. A produção, a venda ou o presentear das peças ativa relações entre grupos de mulheres. Ao mesmo tempo, o ato de presentear as meninas pequenas com ritxo(k)o integra um conjunto de atos que constroem corpos aparentados, como os de avó e neta. As ritxo(k)o também são um modo de estabelecer relações com a alteridade dos brancos através do presente, da venda e da relação com pesquisadores. Com os benefícios adquiridos das relações com os brancos, os Karajá põem em movimento, novamente, a produção dos corpos aparentados, transformando dinheiro e bens materiais em comida e presentes para sua família. A alimentação, os cuidados diários, o uso dos termos corretos de parentesco e presentes, como as ritxo(k)o, mas também de bens industrializados, a troca de afetos, o aconselhamento, a proteção através da categoria de brotyré são parte das ações que garantem um processo bem-sucedido de parentesco.

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Publicado

2023-07-20

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Secção

Artigos