Emoções sustentáveis: palcos e bastidores da escravatura na Ilha de Goré

Autores

  • Maria Cardeira da Silva CRIA/FCSH-UNL, Portugal, m.cardeira@fcsh.unl.pt

Resumo

Mais do que meramente simbólicos, os destinos do turismo de raízes, como a ilha de Goré (Senegal), são lugares onde se espera que a emoção despoletada pela escravatura seja experienciada e exibida. Para isso contribuem as múltiplas declarações da UNESCO, os depoimentos políticos de visitantes ilustres, as performances de artistas afro-americanos conhecidos e os comentários registados pelos turistas. O meu modesto argumento é que a ideia de comunidade internacional, baseada no princípio da universalidade dos direitos humanos é recriada e reencenada, através da convocação dos sentimentos para lugares como este. O regime global do património promovido pela UNESCO e por outras plataformas institucionais similares deve ser considerado o aparato mais persuasivo para a criação de um sentimento de pertença coletiva, ultrapassando fronteiras nacionais e difundindo uma ética liberal e formas de memória cosmopolita que já não são definidas em função da moldura dos estados-nação. A questão é que a ideia de comunidade internacional mobiliza para a sua construção os mesmos dispositivos imaginativos e exibicionários e o mesmo pressuposto pancultural das emoções que Anderson descreve para a ascensão das nações, embora paradoxalmente, se assuma como inter-nacional, feita de nações: uma metanação.

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Publicado

2023-07-20

Edição

Secção

Dossier