Etnográfica https://revistas.rcaap.pt/etnografica <p>A <em>Etnográfica</em> é uma revista académica internacional especializada em antropologia social e cultural. Aceita propostas de artigos científicos, dossiês temáticos, para além de outros contributos que possam ser julgados do interesse do público da revista. Com periodicidade quadrimestral, publica artigos originais em português, inglês, espanhol ou francês. Todos os textos propostos pelos autores ou organizadores deverão ser inéditos.</p> CRIA pt-PT Etnográfica 0873-6561 Agora https://revistas.rcaap.pt/etnografica/article/view/33684 <p><span lang="pt" xml:lang="pt">Inauguramos, com a publicação do terceiro número do volume 27 da&nbsp;</span><em><span lang="pt" xml:lang="pt">Etnográfica</span></em><span lang="pt" xml:lang="pt">,</span><span lang="pt" xml:lang="pt">&nbsp;o novo&nbsp;</span><em><span lang="pt" xml:lang="pt">website</span></em><span lang="pt" xml:lang="pt">&nbsp;da Revista. O&nbsp;</span><em><span lang="pt" xml:lang="pt">Agora</span></em><span lang="pt" xml:lang="pt">&nbsp;(no duplo sentido de significação do tempo presente, do que está a acontecer, e como lugar público figurado de reunião e encontro) apresenta-se como um novo espaço de comunicação da Revista com dois objectivos simples: expandir criativamente as possibilidades de comunicar, alargando o espaço de recepção do conhecimento em, sobre e desde a antropologia. Apresentamo-lo simultaneamente como “uma ante, extra, exa e pós-Revista”; uma proposta editorial que é um desafio para editores, autores, revisores e leitores, porque arriscamos em novas modalidades de representação e de produção de conhecimento que desafiam os limites da convenção académica e científica. “Pisamos o risco”, com o propósito, que assumimos declaradamente, de ter uma Revista inclusiva, criativa, capaz de se pensar no universo do digital e de novos espaços de comunicação, que exigem, por exemplo, múltiplas temporalidades de escrita, de fala e de representação e tarefas de curadoria por parte dos diferentes editores das secções. Mas a criação do&nbsp;</span><em><span lang="pt" xml:lang="pt">site</span></em><span lang="pt" xml:lang="pt">&nbsp;constitui igualmente um desafio em termos de recepção criativa e participativa, apelando a formas de interactividade permanente e dinâmica com leitores e espectadores.</span></p> Humberto Martins Direitos de Autor (c) 2023 Etnográfica 2023-11-20 2023-11-20 27 3 Ver como um routier: borderscapes entre o Sul da Europa e a África Ocidental https://revistas.rcaap.pt/etnografica/article/view/33681 <p><em><span lang="pt" xml:lang="pt">Routier</span></em><span lang="pt" xml:lang="pt">&nbsp;é como se autodenominam os indivíduos senegaleses que conduzem veículos com várias décadas de idade, do Sul da Europa para a África Ocidental. Os veículos viajam sobrecarregados com artigos de vária ordem, na sua maioria usados, que são vendidos, trocados e entregues ao longo do caminho. Esta atividade depende da navegação de uma constelação de fronteiras político-administrativas, socioeconómicas, culturais e geográficas, que se sobrepõem frequentemente. Partindo do conceito de&nbsp;</span><em><span lang="pt" xml:lang="pt">borderscapes</span></em><span lang="pt" xml:lang="pt">, cuja plasticidade e qualidades estéticas permitem interrogar diversos universos fronteiriços, este ensaio explora visualmente as representações e os significados das fronteiras para os&nbsp;</span><em><span lang="pt" xml:lang="pt">routiers</span></em><span lang="pt" xml:lang="pt">. Ao propor “ver como” um&nbsp;</span><em><span lang="pt" xml:lang="pt">routier</span></em><span lang="pt" xml:lang="pt">, interrogam-se as representações de uma multiplicidade de fronteiras, mas também sobre o modo como certos grupos de pessoas encarnam, veem e são vistos pelas fronteiras contemporâneas.</span></p> Pedro Figueiredo Neto Ricardo Falcão Direitos de Autor (c) 2023 Etnográfica 2023-11-20 2023-11-20 27 3 Time to fix: repair heuristics in Estonia and Portugal https://revistas.rcaap.pt/etnografica/article/view/33682 <p>This paper discusses the relevance of repair actions for the maintenance of social bonds, suggesting that these interventions have heuristic possibilities to address the crises of our time. The general argument points to important questions, such as the distinction between caretaking, endurance and resilience. Building on a literature review and ten years of fieldwork in two different locations (Estonia and Portugal), it develops an argument for post-brokenness and repair as a heuristic of the contemporary social condition. The different examples here included show the complex temporality of fixing interventions as well as the urge to understanding contextual nuances of socio-material in/stability and damage. A multi-sited attention to fixing interventions allows us to comprehend the processes and conditions under which certain things acquire socio-material stability against the grain. In this sense, repair work is presented as socially and politically-loaded by putting things to some order, activating other kinds of relations and holding together different dimensions of care.</p> Francisco Martínez Direitos de Autor (c) 2023 Etnográfica 2023-11-20 2023-11-20 27 3 Há uma vida antes do ativismo: emoções incorporadas na infância e juventude de ativistas envolvidos em causas de género, racismo e alterações climáticas em Portugal https://revistas.rcaap.pt/etnografica/article/view/33683 <p><span lang="pt" xml:lang="pt">Partindo das trajetórias pessoais nas primeiras duas décadas de vida, repletas de experiências, encontros e emoções, quais as suas influências nos jovens ativistas em devir? Com base na investigação qualitativa realizada para o projeto “ArtCitizenship – juventude e as artes da cidadania: práticas criativas, cultura participativa e ativismo” (2019-2022), este artigo analisa as trajetórias durante a infância e a adolescência de 30 ativistas em Portugal. Emergem um conjunto de categorias “</span><em><span lang="pt" xml:lang="pt">before activism</span></em><span lang="pt" xml:lang="pt">”, que revelam a importância de incluir as primeiras experiências individuais e coletivas como pilares estruturantes do envolvimento futuro no ativismo e em movimentos sociais. Não se nasce ativista, as ações por uma determinada causa resultam de reações a interações e a emoções vividas desde a infância. Mais do que um interesse pessoal pelo ativismo, este pode resultar de uma urgência física e emocional.</span></p> Alix Didier Sarrouy Direitos de Autor (c) 2023 Etnográfica 2023-11-20 2023-11-20 27 3 Os caminhos do peixe fresco na pesca artesanal em Sesimbra: uma paradoxal maritimidade https://revistas.rcaap.pt/etnografica/article/view/33685 <p>Actualmente, o pescado fresco marítimo assume um papel muito particular como marcador identitário no contexto dos sistemas alimentares dos núcleos piscatórios. Dada a relação, continuamente reiterada pelo discurso público, entre os benefícios do seu consumo e o paradigma da frescura, encontramos aqui uma paradoxal intersecção com o renovado movimento de redescoberta de Portugal como nação oceânica. Numa perspetiva holística, ecológica e cultural propomos aqui revelar alguns momentos da transfiguração do tão publicitado “melhor peixe do mundo” ao longo de um intrincado percurso, desde que é capturado no mar até à sua apresentação como produto artesanal de origem local. Esse amplamente reproduzido passe de magia: “do mar, diretamente para a sua mesa!”</p> Pedro Pereira da Silva Direitos de Autor (c) 2023 Etnográfica 2023-11-20 2023-11-20 27 3 A trajetória industrial do amido nativo na Argentina: escolhas técnicas em uma cooperativa de produtores https://revistas.rcaap.pt/etnografica/article/view/33686 <p><span lang="pt" xml:lang="pt">O amido de mandioca (</span><em><span lang="pt" xml:lang="pt">Manihot esculenta</span></em><span lang="pt" xml:lang="pt">,</span><em><span lang="pt" xml:lang="pt">&nbsp;</span></em><span lang="pt" xml:lang="pt">Cranz) é obtido atualmente na Argentina por meio de técnicas de tratamento industrial de raízes. Com eles é produzido o amido conhecido comercialmente como “nativo”, por ser utilizado para consumo humano na América desde tempos anteriores à colonização europeia. Ao contrário de outros países latino-americanos onde a mandioca se tornou patrimônio da gastronomia de tradição indígena, na Argentina esta cultura seguiu quase exclusivamente um caminho industrial modernizador, onde pequenos produtores descendentes de colonos europeus desempenham um papel protagonista. Através de um trabalho etnográfico com uma cooperativa de produtores que fabrica amidos, analiso algumas escolhas técnicas feitas pelas cooperativas, resolvendo os problemas mais importantes que surgiram ao longo deste percurso industrial nas últimas três décadas, através de comunidades articuladas de prática dentro das fecularias.</span></p> Ana Padawer Direitos de Autor (c) 2023 Etnográfica 2023-11-20 2023-11-20 27 3 Temporalidade da cooperação comunitária transnacional: impactos na governança comunitária https://revistas.rcaap.pt/etnografica/article/view/33687 <p>Neste texto fala-se da temporalidade das relações entre os migrantes e as suas comunidades de origem. Com base em informações de experiências observadas em localidades da microrregião Zoogocho na região da Sierra Norte de Oaxaca, no México, documentam-se os problemas enfrentados pela manutenção da governação comunitária em resultado do enfraquecimento ou desaparecimento dos apoios sociais dos migrantes e da diminuição e envelhecimento da sua população causados pelo processo de migração. O exame destas relações permite destacar a contingência das relações que até há pouco tempo tornaram possíveis ações políticas transnacionais que têm distinguido as organizações migrantes oaxaquenhas.</p> Jorge Hernández-Diaz Direitos de Autor (c) 2023 Etnográfica 2023-11-20 2023-11-20 27 3 Um regime de terror para os indígenas kaiowá no Brasil contemporâneo (ou subjetividade analítica e compreensão da violência) https://revistas.rcaap.pt/etnografica/article/view/33688 <p><span lang="pt" xml:lang="pt">O foco do presente artigo é um regime que analiso como de terror, estabelecido para gerenciamento de relações no Brasil contemporâneo, envolvendo fundamentalmente comunidades indígenas kaiowá, no estado de Mato Grosso do Sul. Tem como base dois eixos, interrelacionados: por um lado, a consideração das condições de possibilidade deste regime, assim como o processo de desenvolvimento de seu&nbsp;</span><em><span lang="pt" xml:lang="pt">modus operandi</span></em><span lang="pt" xml:lang="pt">; por outro, o percurso metodológico que passa por estabelecer como questão antropológica a subjetividade do(a) analista na compreensão dos atos de violência que dão substrato a tal regime. Para isto, contemplo material tanto de manifestações indígenas quanto de outros agentes, incluindo minha própria percepção dos fatos, como antropóloga partícipe ativa no campo dos acontecimentos.</span></p> Alexandra Barbosa da Silva Direitos de Autor (c) 2023 Etnográfica 2023-11-20 2023-11-20 27 3 La deriva como (pre)disposición metodológica: inmersión etnográfica y compromiso ontológico en una práctica espiritual católica https://revistas.rcaap.pt/etnografica/article/view/33689 <p><span lang="es" xml:lang="es">Entendida la etnografía como situación metodológica privilegiada en la producción de conocimiento antropológico, este texto reflexiona desde la propuesta de intervención metodológica de Holbraad y Pedersen, en diálogo con la fenomenología y la antropología de la corporalidad. Desde estos referentes, se ponen en cuestión los modos de aproximarnos a las experiencias religioso-espirituales, con una crítica al ateísmo y al agnosticismo metodológico. Como alternativa, y partiendo de autoras que defienden un modelo de etnografía fenomenológica, encarnada, que asume los mismos&nbsp;</span><span lang="es" xml:lang="es">riesgos ontológicos</span><span lang="es" xml:lang="es">&nbsp;que aquellos con quienes participamos, expongo mis reflexiones desde una inmersión radical en una práctica católica (de espiritualidad ignaciana). El&nbsp;</span><span lang="es" xml:lang="es">abandono o deriva</span><span lang="es" xml:lang="es">, entendida como (pre)disposición a perderse, se torna clave en este modelo de experimentación que pretende desbordar y jugar con los límites de las etnografías posibles</span></p> Luis Muñoz-Villalón Direitos de Autor (c) 2023 Etnográfica 2023-11-20 2023-11-20 27 3 Vulnerabilidades compartilhadas: de grupos corporados a espiritual-funcionalismo entre os saamaka do Suriname https://revistas.rcaap.pt/etnografica/article/view/33690 <p><span lang="pt" xml:lang="pt">Os afro-amazônicos saamaka, do Suriname, falam sobre diversos modos de agência dos mortos. Dentre elas, os&nbsp;</span><em><span lang="pt" xml:lang="pt">kunu</span></em><span lang="pt" xml:lang="pt">, espíritos vingativos que operam matrilateralmente; e os&nbsp;</span><em><span lang="pt" xml:lang="pt">neseki</span></em><span lang="pt" xml:lang="pt">, padrinhos espirituais que amiúde operam patrilateralmente. De certo modo, ambos podem aproximar pessoas que compartilham vulnerabilidades: ser vítima potencial dos mesmos&nbsp;</span><em><span lang="pt" xml:lang="pt">kunu</span></em><span lang="pt" xml:lang="pt">&nbsp;é o que faz das pessoas membros de suas matrilinhagens; possuir o mesmo&nbsp;</span><em><span lang="pt" xml:lang="pt">neseki&nbsp;</span></em><span lang="pt" xml:lang="pt">significa ser afetado pelos mesmos tabus alimentares. Estar sujeito aos mesmos perigos ajuda a criar, por contraefetuação, relações de proteção mútua, que podem ou não gerar algo como grupos sociais. Uma teoria saamaka da corporalidade e da corporação, poderia ser, assim, chamada de espiritual-funcionalista. Afinal, suas ideias ressoam ironicamente com conceitos da antropologia clássica (grupos corporados, filiação complementar), mas vão na contramão das teorias funcionalistas, ao dar mais peso à agência dos mortos do que a estruturas sociais.</span></p> Rogério Brittes W. Pires Direitos de Autor (c) 2023 Etnográfica 2023-11-20 2023-11-20 27 3 Três mulheres, um povo: histórias akuntsú https://revistas.rcaap.pt/etnografica/article/view/33691 <p>O presente artigo aborda trajetórias de três mulheres indígenas, sobreviventes do grupo akuntsú (tupi, tuparí). Apresentamos uma abordagem histórica sobre o território tradicional do povo, localizado entre os rios Caubá e Trincheira – tributários da margem direita do rio Corumbiara, afluente da margem direita do rio Guaporé, na Amazônia brasileira –, com destaque para os processos de ocupação empenhados por levas migratórias de não indígenas em diferentes contextos ao longo do século&nbsp;XX. Posteriormente, desdobramos as trajetórias de Pugapia, Aiga e Babawro, que atualmente vivem na Terra Indígena Rio Omerê, no estado de Rondônia, Brasil. É nesse território que expressam seus conhecimentos na construção de materialidades, nas práticas alimentares e nas experiências contemporâneas do cuidar. Entretanto, levam consigo narrativas de perseguições e de violências contra seu povo.</p> Carolina Coelho Aragon Roslaine Mezacasa Direitos de Autor (c) 2023 Etnográfica 2023-11-20 2023-11-20 27 3 Usos discursivos emergentes e práticas comunicativas digitais entre os chanés https://revistas.rcaap.pt/etnografica/article/view/33692 <p>A emergência das novas tecnologias de informação e comunicação de massa deu origem a novos espaços discursivos, e as línguas indígenas da América do Sul não foram deixadas de fora destes processos. O objetivo deste artigo é realizar uma revisão preliminar dos usos discursivos que os chanés do noroeste da Argentina fazem da sua língua e do espanhol nestes novos espaços comunicativos, com especial ênfase no uso contemporâneo das redes sociais. A relação entre a língua e estes modos de comunicação é complexa uma vez que a natureza mediada destes intercâmbios abre a possibilidade de interagir com um interlocutor que está fisicamente ausente. Além disso, pretendo abordar as formas como estes espaços discursivos se consolidam como um vetor de comunicação relevante, tomando como exemplo a criação e circulação de informação sobre a prevenção da Covid-19 bilingue em guarani chaquenho e espanhol.</p> María Agustina Morando Direitos de Autor (c) 2023 Etnográfica 2023-11-20 2023-11-20 27 3 O “segredo invisível” da amizade: cinco cartas de Ernesto Veiga de Oliveira para Jorge Dias (1961) https://revistas.rcaap.pt/etnografica/article/view/33693 <p><span lang="pt" xml:lang="pt">Em 1960, deu-se uma viragem importante na atividade “metropolitana” da equipa de Jorge Dias (1907-1973), baseada no Centro de Estudos de Etnologia Peninsular (CEEP).</span><a id="bodyftn1" class="footnotecall" href="https://journals.openedition.org/etnografica/14938#ftn1">1</a><span lang="pt" xml:lang="pt">&nbsp;Desde 1953 que essa pesquisa tinha sido assegurada por Ernesto Veiga de Oliveira (1910-1990) e Fernando Galhano (1904-1995), a quem se juntou, a partir de 1959, Benjamim Pereira (1928-2020). Jorge Dias, que estivera até 1953 muito ativo na pesquisa de campo em Portugal, torna-se a partir de então menos presente nessa frente de trabalho.</span></p> João Leal Catarina Belo Direitos de Autor (c) 2023 Etnográfica 2023-11-20 2023-11-20 27 3 Florestas biodiversas em perspetiva antropológica: ressurgências das paisagens em ruína pela monocultura do eucalipto https://revistas.rcaap.pt/etnografica/article/view/33694 <p>A diversidade tem sido tratada por várias áreas do conhecimento. Cabe à antropologia oferecer perspetivas descentradas sobre a sua existência histórica. Neste artigo mobilizo conhecimento etnográfico de contextos que conheço por experiência de trabalho de campo – indígenas na mata atlântica do sul da Bahia e os fataluku da região sociocultural do sudeste asiático (Timor-Leste) – para reforçar historicidades de vivência da paisagem que resultam em biodiversidade. Mostro a relevância de relacionalidades para a emergência dessa biodiversidade, em consonância com os estudos sobre florestas antropogénicas. Com essa perspetiva, enveredo por uma reflexão crítica sobre o território de eucaliptais em Portugal, mostrando a inviabilidade da monocultura de árvores – a reprodução do similar no solo - como floresta. Reequaciono assim os debates públicos sobre floresta (e incêndios rurais), argumentando que ressurgências de biodiversidade não brotam dessa simplificação ecológica.</p> Susana Matos Viegas Direitos de Autor (c) 2023 Etnográfica 2023-11-20 2023-11-20 27 3