RESPONSABILIDADE EDITORIAL.
REFLEXÕES SOBRE A FINISTERRA 2016-2021i
No término deste mandato, relembro a geógrafa Maria João Vilar Queirós, minha tia. Na memória que guardo dela prevalece a enorme biblioteca de livros de geografia, no seu escritório, e os incontáveis números da Finisterra que ocupavam um lugar de destaque na sala. Em grande parte, foi em sua memória que decidi abraçar o projeto da edição da revista (Queirós, 2016).
Desde a sua fundação, em 1966, a Finisterra – Revista Portuguesa de Geografia foi dirigida por figuras proeminentes da Geografia portuguesa. Os padrões de elevada exigência científica e a publicação ininterrupta ao longo dos anos, contribuíram para que a Finisterra se afirmasse como a revista Portuguesa de Geografia de referência.
A tarefa da direção da Finisterra, na atualidade, apresenta-se como uma herança de grande responsabilidade, à qual acresce a complexidade da internacionalização, a competição pela captação de produção científica de elevada qualidade num mundo editorial altamente profissionalizado e caracterizado por uma consequente aceleração da publicação.
A qualidade das revistas científicas não é facilmente mensurável, já que os critérios de avaliação têm diferentes propósitos, desde o impacto do conteúdo científico, a indexação em bases de dados, a captação de financiamento da publicação por instituições financiadoras de ciência e tecnologia, o desenvolvimento da coleção, etc. Quanto ao conteúdo, que expressa a relevância da publicação, são valorizados resultados de investigações através de artigos originais, tematicamente relacionados com a missão da revista e que representam contribuições para o avanço do conhecimento. Outros indicadores da qualidade do conteúdo, de grande centralidade, correspondem à revisão por pares, ao corpo editorial constituído por investigadores e investigadoras de reconhecida atuação na área científica, respeitabilidade e reconhecimento pelos pares, provenientes de instituições com diversidade nacional e internacional.
A periodicidade, a duração, a normalização, o trabalho editorial, a difusão e a indexação são também indicadores de qualidade formal e assumem atualmente um papel preponderante na avaliação das revistas científicas. Como é sabido, o prestígio de uma revista científica é cada vez mais medido por indicadores internacionais (contagem de citações, h index, impact factor, scimago jornal rank, ...).
A política editorial da Direção anterior, sob 15 anos de orientação da Professora Maria João Alcoforado, lutou continuamente para preservar o alcançado prestígio da Finisterra no mundo cada vez mais competitivo das editoras internacionais que tendem a absorver a produção científica. Desde então, a revista passou a contar com financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia e deram-se inúmeras alterações de funcionamento: reestruturação das diversas comissões que compõem os corpos diretivos, executivos e consultivos; alargamento da rede de especialistas externos e a definição explícita de princípios éticos da publicação. Sublinha-se ainda o acesso online livre de todos os textos da revista, desde o seu início, cumprindo assim uma missão pública e abrindo caminhos para o importante desígnio da ciência aberta. Refira-se ainda a adesão à plataforma do Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP), através da qual se procede ainda hoje a todo o processo de gestão dos textos submetidos, permitindo a diminuição do tempo entre a submissão, a avaliação por pares e a posterior publicação de textos; a manutenção do rigor e a transparência dos critérios de publicação; o alargamento do âmbito geográfico de autores e autoras que publicam na revista; a integração em bases de dados internacionais e a adoção do identificador de conteúdos (DOI).
Em resultado deste esforço coletivo, espírito de missão e supervisão eficiente, a Finisterra iniciou um processo de internacionalização, como se pode comprovar pelo crescente número de citações dos conteúdos da revista nas bases de dados que efetuam contagens de citações (Scopus, Google Scholar, etc.). Indexar a Finisterra nas principais bases de dados multidisciplinares foi uma meta conseguida. Esse processo de afirmação no mundo editorial científico não está, todavia, terminado, constituindo um desafio permanente.
Foi alcançado o objetivo do seu reconhecimento na Web of Science, bem como se deu continuidade ao processo de expansão da sua presença noutras bases de dados online, melhorando os indicadores bibliométricos de desempenho, encurtando os tempos entre a submissão e a publicação. A Finisterra encontra-se hoje indexada nas plataformas científicas Web of Science (Emerging Sources Citation Index – ESCI); SciELO Citation Index; SCOPUS; ERIH PLUS (European Reference Index for the Humanities and the Social Sciences); WebQualis (CAPES); SCImago; SciELO – Scientific Electronic Library; EBSCO (Academic Search Complete); DOAJ (Directory of Open Access Journals); Dialnet; Latindex (Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal); REDIB (Red Iberoamericana de Innovación y Conocimiento Científico); Sherpa/ROMEO (Journals database).
Sem descurar o incentivo à produção científica portuguesa, a Finisterra tem contado ainda com uma visão eclética, apostado em estratégias de internacionalização, atraído autores e autoras de reconhecido mérito, estimulando a colaboração internacional nas publicações. Na atualidade, a Finisterra apresenta um Índice H١٠ (Scopus) e procurará melhorar este indicador, tarefa que se afigura difícil e morosa, mas não impossível. Desde ٢٠١٩, a revista encontra-se no Q٣. Em ٢٠٢٠, ٣٣ textos foram citados e em ٢٠٢١, em cada dois textos surge uma citação. A revista continua gradualmente a subir o número de citações por artigo.
A Finisterra está comprometida com esta missão de continuidade da expansão do horizonte de autores e autoras que comunicam os resultados das suas investigações e, simultaneamente, de leitores e leitoras da produção científica, ainda maioritariamente de expressão portuguesa, mas que cada vez mais se estende a outras línguas. Este compromisso de validação do conhecimento e de canal formal de comunicação e disseminação científica é igualmente importante para a evolução do Centro de Estudos Geográficos (CEG). A Finisterra, enquanto veículo de legitimação de avanços científicos do CEG, do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT) e de investigações desenvolvidas noutras instituições académicas de reconhecido mérito, carece de renovação da sua direção e comissão executiva, privilegiando a integração de atuais e futuras gerações de jovens cientistas que aprendam, conheçam e desenvolvam competências de edição de textos científicos. Esta mudança dará assim continuidade ao alcançado reconhecimento de mérito da Finisterra na esfera das publicações internacionais.
A equipa que entrou em 2016, e que com ligeiras alterações, cessa agora as suas funções, teve como critérios a paridade de géneros, a integração de pessoas doutoradas das várias áreas científicas da Geografia, a visibilidade científica através de jovens na investigação que publicam e têm experiência de revisão de artigos científicos. Como tal, dominam o processo de publicação da produção científica, nos planos internacional e nacional, e conhecem a edição digital que, sem negligenciar a edição em papel, procura uma melhor posição na esfera editorial digital.
Procurando manter a estabilidade e a experiência de quinze anos no acompanhamento da sua evolução, junto de Maria João Alcoforado, abracei esta função – com o incentivo de Jorge Gaspar e de colegas do CEG –, e pude garantir a transição e a manutenção da qualidade dos aspetos formais/extrínsecos e de conteúdo/intrínsecos, fundamentais ao trabalho editorial, possibilitando que as atuais (e próximas) gerações de jovens que vão chamar a si os destinos da geografia adquiram a experiência e as competências adequadas para que a Finisterra continue a sua missão de divulgação científica, garanta e expanda o processo de indexação, com elevado índice de citação, de acessibilidade e de visibilidade.
O compromisso da equipa editorial nestes últimos seis anos passou ainda pela publicação de três números por ano, fator indispensável para o aumento da sua visibilidade e impacto, e contou com números temáticos respondendo a exigentes critérios de seleção e sem perder a sua característica eclética. A Finisterra tem marcado presença em sucessivas edições do Colóquio Ibérico e mais recentemente na Rede Ibero-americana de Observação Territorial (RIDOT). Desde 2016, a Finisterra instituiu o Prémio anual de Melhor Artigo publicado na revista, selecionado por um grupo de trabalho nomeado pela comissão executiva. Tem ainda promovido diversas Ações de Formação, focadas na transposição da investigação para a divulgação científica.
Embora a cadência de publicação da Finisterra seja uma das suas características, muitas das revistas que o CEG recebe em regime de permuta não o são, o que hoje não traz muitas vantagens para a revista. Todavia, a Finisterra é enviada para muitos serviços públicos, revelando o seu interesse do ponto de vista de atualização de conhecimentos pelo pessoal técnico e profissional da Administração.
Ainda no âmbito da aceleração do processo de difusão, a Finisterra está nas redes sociais, disponibiliza uma página web com informações sobre ética e política editorial, procedimentos de avaliação de textos e de gestão, divulga todos os textos online aceites para publicação, em acesso aberto, mesmo antes da sua publicação oficial (AoP), e disponibiliza um DOI por texto.
A direção cessante da Finisterra comprometeu-se com a criação da Lição Anual. Esta tem-se apresentado como um importante evento do CEG e encoraja a comunidade académica, profissionais e estudantes a encetar um diálogo acerca de assuntos controversos. A Finisterra Annual Lecture tem contado com personalidades proeminentes, convidadas para conduzir o debate sobre assuntos de relevo social e científico na atualidade: Michael Storper, Janice Monk, Tim Cresswell, Ayona Datta, Álvaro Domingues, Jacques Lévy. Esta iniciativa ampliou a visibilidade da revista e apresenta-se como central na estratégia de afirmação do Centro de Estudos Geográficos.
Esperamos com o nosso trabalho e empenho, ter honrado o seu grupo fundador e os que lhe seguiram: Orlando Ribeiro, Ilídio do Amaral e Suzanne Daveau. Temos consciência de que os progressos alcançados se deveram também à liberdade que a anterior, e atual Direção do CEG, nos deram – a confiança depositada nesta equipa, por Mário Vale e José Luís Zêzere, foi essencial para o trabalho que desenvolvemos.
Divulgar ciência foi a missão desta Direção que agora se despede. Obrigada a quem nos procura e lê.
Lisboa, outubro de 2021
ORCID ID
Margarida Queirós https://orcid.org/0000-0001-6843-6861
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Queirós, M. (2016). Editorial. Finisterra – Revista Portuguesa de Geografia, LI(101), 3-4.