Finisterra, LX(126), 2024, e 35670

ISSN: 0430-5027

doi: 10.18055/Finis35670

Recensão Crítica





L’APPROCHE CULTURELLE”,

POR PAUL CLAVAL






Mariana Tavira Guerreiro da Costa1





  1. INTRODUÇÃO


Ilustre pesquisador da Universidade de Paris-Sorbonne, Paul Claval é aclamado como uma das maiores referências da Geografia francesa. O seu interesse abrangente pela Geografia Cultural, Regional, Económica e a epistemologia geográfica tornaram-no numa referência incontornável na disciplina. Com uma trajetória eclética e curiosa que o levou a explorar todos os continentes e a criar a revista “Géographie et Cultures” em 1992.

Claval construiu um repertório singular sobre o mundo que reside na análise das sociedades, utilizando a história como caminho para entender a transformação cultural e espacial. Desde os anos 1970, a atenção da Geografia aos factos culturais ganhou destaque, marcando uma reestruturação na disciplina. No entanto, é fundamental reconhecer que essa mudança de foco não foi universal. Em comunidades geográficas como a dos EUA - onde a Geografia Quantitativa predominou nas décadas de 1950 e 1960 - a viragem cultural nos anos 1970 foi significativa. Por outro lado, em países como Portugal e Brasil, essa transição ocorreu de maneira diferente e em distintas épocas. Em Portugal, a década de 1970 viu um movimento em direção à quantificação, enquanto no Brasil, a Geografia Crítica começou a incorporar a cultura nos seus estudos, especialmente dentro da corrente humanista. Portanto, a evolução da Geografia Cultural varia amplamente entre contextos nacionais, e a obra de Claval deve ser entendida dentro desse panorama mais amplo.

A verdade é que já era conferida alguma atenção à cultura, porém, de forma confinada às práticas no meio geográfico (millieu), remetendo apenas para os modos de vida (genre de vie), essencialmente. Vidal de La Blache, renomado geógrafo do século XX, sublinha a centralidade da cultura no processo de civilização, destacando a iniciativa humana na adaptação e transformação do ambiente. Esta perspetiva, enraizada no naturalismo do seu tempo, ressalta a importância da cultura material e das interações humanas com o ambiente físico, uma visão da Geografia Humana como um estudo das interações entre cultura e ambiente, destacando a capacidade humana de moldar ativamente o seu universo.

Este livro, imbuído com a riqueza conceitual que caracteriza o trabalho de Claval, promete ser uma leitura enriquecedora e essencial para estudiosos e entusiastas da Geografia e das particularidades da Geografia Cultural e das suas nuances.



  1. ESTRUTURA E ASPETOS MAIS RELEVANTES


L’Approche Culturelle está organizado em treze capítulos, num total de trezentas e cinco páginas que desenovelam a Geografia Cultural e mostram exemplos práticos e rápidos que fazem o leitor compreender a dimensão da cultura e a mudança dos tempos. Começa-se por delinear os princípios fundamentais e as principais perspetivas – de modo a constituírem-se bases para a restante leitura –, e entre o capítulo um e cinco, explora-se a cena geográfica, a interpretação cultural, as definições e conteúdos culturais, a comunicação e a relação intrincada do indivíduo com a cultura. A narrativa aprofunda-se nos capítulos seis a oito, examinando como a cultura institui o mundo e influencia as dinâmicas sociais. Os capítulos nove a doze conduzem uma análise mais minuciosa sobre a interpelação entre cultura, realização pessoal e destino, bem como a apreensão cultural do espaço, seja ele paisagem, lugares, regiões ou grandes extensões. O décimo terceiro capítulo, por sua vez, concentra-se na especificidade da geografia cultural, desvendando como a cultura é moldada tanto por fatores internos quanto externos. O livro tem o seu fim de forma reflexiva, recapitulando os fundamentos da nova abordagem e destacando o seu impacto na Geografia Cultural.

A obra inicia-se com uma afirmação, seguida de exemplos reavivadores de memórias de tempos e circunstâncias que então pareciam imutáveis – como a queda do Bloco de Leste. Le monde change à une folle vitesse, preludia Claval, e não é possível explicar as mudanças com base em modelos puramente económicos, uma vez que o motor da evolução mudou.

Na complexa relação entre cultura e sociedade, defende-se a interligação indissociável entre ambas – estas são diferentes de território para território, nação para nação. A cultura emerge como o fornecedor primordial dos instrumentos que capacitam os indivíduos a comunicar e viver em sociedade, contudo, é crucial destacar que a cultura não é uma entidade estática, mas antes uma entidade maleável e moldada por interações e experiências sociais diversas e contribui para a inserção social. Como afirmado por Claval:

Le fait de créer entre des individus des registres de relations qui ne se limitent pas à l'échange de personnes, de biens ou aux rapports de force, les conduit à partager leurs acquis et leurs expériences – à participer à une même culture. Elle les dote du même ensemble d’outils corporels (des gestes ou des séquences de gestes mémorisés) et intellectuels (des connaissances sur le monde et sur la société) qui les arment pour la vie active. (Claval, 2020, p. 103)

A sua manifestação abrange diversos registos, desde o não verbalizado (ancorado nas técnicas corporais e produtivas que repercutem na esfera emocional (ex.: a prática da dança), verbalizado (ancorado na linguagem e oralidade), ou o artístico e simbólico (ancorado na carga emocional e nas memórias, respetivamente).

O papel da cultura na vida social revela-se como elemento essencial para a cooperação, o intercâmbio e as relações humanas, enquanto, simultaneamente, a vida social comporta dinâmicas de competição e conflito. Manifesta-se tanto em formas físicas, através de estruturas e espaços sociais, como em formas conceptuais, por meio de representações e significados partilhados. A transmissão geracional da cultura, um processo fundamental para a sua longevidade e internalização, ocorre através da socialização e da aprendizagem, proporcionando aos indivíduos um capital cultural que, embora adquirido, encontra-se limitado a esferas específicas de interação.

No seio dessas esferas de interação, emergem subculturas e contraculturas, fundamentadas em variáveis como profissões, religiões e grupos etários. A cultura, além de dotar os indivíduos de ferramentas para se integrarem na sociedade, coexiste com sistemas institucionalizados de normas e regras, em que rituais e cerimónias desempenham um papel crucial na integração social. A cultura, portanto, desempenha um papel central na vida social, conferindo sentido à existência individual e coletiva.

A cultura dá sentido ao espaço e ao ambiente e influência a forma como as pessoas percecionam, organizam e utilizam a paisagem com base nos seus valores, identidades e imaginários. A abordagem cultural atual analisa as experiências vividas, as representações e os significados simbólicos que as pessoas atribuem aos lugares, o que revela como as relações de poder, as lutas sociais e as ideologias moldam a formação dos territórios. A cultura também influencia o sentimento de pertença e a ligação das pessoas aos lugares a várias escalas, desde a local à nacional.

Enquanto a geografia tradicional dividia o espaço em regiões com base em critérios supostamente objetivos e externos ao sujeito (morfologia, clima, organização do espaço agrário, forma dos aglomerados…), a abordagem cultural centra-se no aspeto simbólico e afetivo do espaço.

A nova abordagem cultural realça a complexa interação entre território, poder e cultura na formação das configurações espaciais, discutindo a forma como a globalização e os meios de comunicação social estão a transformar as hierarquias dos lugares e a criar escalas de visibilidade (ex. a visibilidade online é ampla e é uma forma de afirmação, porém, permanece confinada a um determinado ambiente social ou intelectual). Como observado por Claval (p. 207): «La géographie d'hier était très consciente de l’échelle d’accessibilité. L'approche culturelle s'attache à l'échelle de visibilité, jusqu'ici négligée : cela tient au changement de perspective que connaît la discipline, mais aussi aux transformations initiées par les médias moderne ». Por exemplo, a tradicional visão geopolítica, centrada no Estado, expande-se para incluir dimensões simbólicas e culturais dos espaços políticos, proporcionando uma compreensão mais ampla das atuais crises do Estado-Nação moderno. A perspetiva cultural enriquece a nossa compreensão dos Estados e dos grandes espaços geopolíticos, realçando o papel das representações, das identidades e das ideologias.

Na Geografia, o estudo da cultura emerge como uma transformação fundamental que redefine a disciplina, uma vez que se centra na influência daquela na configuração do espaço e na interação humana com o ambiente ao invés da obsessão pelos modelos económicos e elementos físicos como forma de explicar as transformações territoriais. Essa perspetiva, que considera a cultura como o "ADN da sociedade", estabelece um novo paradigma ao transferir o foco da Geografia de uma visão funcionalista e utilitária para “la perspective de l'accomplissement” (traduzido à letra, “perspetiva de realização”) – focada nas atitudes, preferências, convicções e projetos do individuo, ou seja, tudo o que foi mencionado anteriormente.

Ao contrário das limitações das abordagens passadas, a nova perspetiva cultural abraça a amplitude da cultura, transcendendo simplesmente artefactos materiais ou paisagens humanas. Ela reconhece que a cultura reside não apenas nas construções tangíveis, mas também nas mentalidades, atitudes, práticas, conhecimentos e crenças dos indivíduos. Assim, compreende-se que a cultura trespassa a mente e o corpo, moldando a perceção e a ação no meio. A abordagem cultural atual vai além da visão tradicional da geografia, que se concentrava na sobrevivência e reprodução das gerações. Em vez disso, encara a cena geográfica como um palco onde os indivíduos procuram a realização pessoal, reconhecendo que a ação humana está intrinsecamente ligada aos imaginários culturais que a condicionam. A cultura duplica o mundo real com mundos imaginários.



  1. REFLEXÃO CRÍTICA


A interação entre cultura e espaço na geografia contemporânea desafia os paradigmas estabelecidos, convocando-nos a uma reflexão crítica que transcende as fronteiras convencionais entre disciplinas. Inspirados pela obra prolífica de figuras como Vidal de La Blache – que, na sua perspetiva, fundamentou a importância da cultura na configuração do tecido social – emergimos numa jornada intelectual rumo à compreensão mais profunda das complexas inter-relações entre a sociedade, o ambiente e a identidade.

A abordagem cultural na Geografia, enraizada desde os alvores dos anos 1970, revela a cultura não apenas como um artefacto imóvel, mas como uma força dinâmica que permeia todos os recantos do espaço geográfico. Neste caminho de pensamento, impulsionado por titãs como Paul Claval, o estudo das geografias culturais descobre a diversidade de práticas, perceções e significados que conferem à paisagem uma riqueza inigualável, dando crédito à cultura – algo “recente”.

Claval aborda a cultura como um conceito com várias facetas, explorando desde a identidade e os valores sociais até às implicações da era digital sobre as estruturas culturais. Adotando uma perspetiva histórica e cronológica, o autor observa que a cultura é uma força dinâmica que se adapta e responde aos contextos sociais e históricos em constante mudança. Tal abordagem é essencial para compreender o papel da cultura na formação de civilizações e na configuração de comportamentos e espaços humanos.

L’Approche Culturelle” inicia a análise com uma definição abrangente de cultura, remetendo à conceção de Edward Tylor: "la culture, ou civilisation… est cet ensemble qui inclut la connaissance, les croyances, l’art, la loi, la morale, la coutume et toutes les autres aptitudes ou habitudes acquises par l’homme en tant que membre de la société" (Tylor, 1871, p. 1; Claval, 2020, p. 5). Esta definição amplia-se para incluir práticas quotidianas e crenças que moldam a vida coletiva. No entanto, Claval também destaca definições mais restritas de cultura, como aquelas focadas em sistemas simbólicos ou em atividades intelectuais e artísticas (Grésillon, 2008). Ele explora a cultura material, social e intelectual, discutindo como cada uma contribui para a formação dos espaços geográficos e sociais, argumentando que essas dimensões culturais são cruciais para entender a maneira como os indivíduos interagem com o seu ambiente e entre si.

O livro oferece uma análise filosófica e detalhada sobre o que é a cultura, abordando desde conceitos fundamentais como identidade, tradição e valores sociais até como pequenos detalhes do nosso quotidiano estão profundamente ligados à cultura.

A obra desenrola-se em ordem cronológica, lança-se pela memória da queda do Bloco de Leste, prosseguindo pelas pandemias, chegando à era digital de visibilidade e exposição, transmitindo uma sensação de viagem no tempo e progresso, que levanta novas questões sobre a cultura, mostrando a intemporalidade da temática.

A obra mergulha na conceptualização de cultura, demonstrando como esta molda as capacidades humanas, influencia comportamentos e configura espaços. Claval explora a transmissão cultural através da linguagem, dos símbolos e dos meios de comunicação, e como esses elementos estruturam o espaço social e proporcionam identidade aos indivíduos. Discute como a cultura, além de dar ferramentas de integração social, também desempenha um papel crucial nas dinâmicas de competição e na formação de civilizações.

O autor reflete sobre questões que, para alguns seriam contemporâneas, como as críticas à civilização ocidental, a crise das elites intelectuais e o surgimento de fundamentalismos. Claval enfatiza é uma força dinâmica que se adapta e responde aos contextos sociais e históricos em mudança. Esta visão é particularmente relevante ao considerar a era digital, onde a visibilidade online e a comunicação mediada estão a transformar as estruturas de poder e as formas de interação social, bem como as visões da sociedade.

Porém, apesar da riqueza da sua análise, a obra de Claval pode ser considerada desatualizada e limitada em termos de diálogo com perspetivas teóricas contemporâneas. A crítica mais notável é que o autor se apoia fortemente na Nova Geografia Cultural e na literatura francófona, o que é limitador, uma vez que se foca em questões sociais com tendência à reificação da cultura, tratando-a como uma entidade tangível e descritível, e esta abordagem ontológica é vista como uma limitação, pois pode negligenciar a importância das identidades e significados concentrando-se excessivamente nas relações de poder e na produção simbólica (Silva, 2021), o que pode acabar por descurar importantes desenvolvimentos teóricos do espaço anglófono e latino-americano, bem como as abordagens modernas (como os novos materialismos, teorias não-representacionais, geo-humanidades, geografias mais-que-humanas, criativas, feministas, pós-coloniais e queers, áreas que têm sido centrais no debate atual). Além disso, Claval é criticado por não abordar suficientemente as implicações metodológicas da sua abordagem cultural. A falta de exploração das técnicas e métodos que poderiam materializar a sua investigação deixa-nos um vazio significativo.

Em contraste com Claval, as abordagens contemporâneas, como a de Ben Anderson (2019), enfatiza a importância de metodologias que capturam a fluidez e a complexidade da cultura nas suas múltiplas manifestações. Anderson delineia três abordagens distintas: cultura como "efeito montado", cultura como "experiência mediada" e "formas-de-vida". Anderson vê a cultura como um conjunto dinâmico de elementos materiais e afetivos organizados para reproduzir formas de poder.

Esta perspetiva destaca as práticas e significados que os atores sociais continuamente montam e desmontam para alcançar objetivos específicos, especialmente no contexto das indústrias culturais e da economia criativa. A abordagem da "cultura como experiência mediada" destaca a experiência vivida das transformações geográficas e históricas, entendendo a cultura como uma composição de experiências práticas e relacionais, e não apenas como um sistema de significados onde se estuda como as condições afetivas, atmosferas e estruturas de sentimento, mediam essa experiência. A abordagem das "formas-de-vida" amplia a ideia de cultura para além do modo de vida humano, incluindo forças e entidades tanto humanas quanto não-humanas, o que desafia diferenciações tradicionais entre animado e inanimado, material e imaterial, questionando como a Geografia Cultural deve responder à heterogeneidade das forças num contexto de reconfiguração das fronteiras entre vida e não-vida.

Posto isto, a obra de Paul Claval constitui, sem dúvida, uma contribuição significativa para o estudo da cultura, especialmente pela forma como integra a análise histórica e a adaptação cultural ao longo do tempo, no entanto, a sua falta de envolvimento com teorias e metodologias contemporâneas limita o seu alcance e relevância para os debates atuais na Geografia Cultural. Ao considerar definições e perspetivas mais recentes, como as apresentadas por Anderson (2019), podemos obter uma compreensão mais alargada e dinâmica da cultura e do seu impacto nas sociedades atuais. Este confronto entre abordagens clássicas e contemporâneas sublinha a necessidade contínua de evolução teórica e metodológica no estudo da cultura, assegurando que este campo de investigação permaneça relevante e capaz de responder aos desafios do mundo moderno.



  1. CONCLUSÃO


A abordagem cultural na geografia contemporânea desempenha um papel fundamental na redefinição do nosso entendimento das emaranhadas interações entre cultura e espaço. Ao conceber a cultura como uma espécie de "ADN" da vida coletiva, esta perspetiva sublinha a importância da dimensão informacional da cultura, os constrangimentos impostos pela comunicação mediada e a formação de estruturas socioculturais fortemente entrelaçadas com as dinâmicas socioeconómicas e sociopolíticas.

Ademais, esta abordagem cultural tem catalisado uma reestruturação profunda no domínio da disciplina geográfica. Num passado recente, muitos geógrafos menosprezavam os colegas especializados em estudos culturais, considerando as suas análises superficiais em comparação com as narrativas económicas mais abrangentes e estruturais que serviam de explicação para toda a possível mudança. Contudo, ao longo do tempo, tornou-se claro que as abordagens tradicionais são limitadas na sua capacidade de captar a complexidade das interações entre cultura e espaço, impulsionando assim a uma retificação fundamental.

Esta perspetiva ilumina-nos sobre as dinâmicas multifacetadas do mundo contemporâneo, destacando a centralidade da informação, comunicação e conhecimento na tessitura da vida moderna. Com a ascensão da internet e das redes sociais, as estruturas de poder tradicionais foram desafiadas, desencadeando uma onda de movimentos populistas e questionando os fundamentos dos sistemas representativos ocidentais. Neste cenário em constante mutação, uma análise crítica e holística das transformações sociais, económicas e políticas é imperativa, e é aqui que a abordagem cultural emerge como uma lente de compreensão perspicaz e essencial, uma vez que as diversas culturas variam na maneira como são transmitidas, moldando sociedades que podem ser predominantemente orais, escritas ou mediáticas. Dependendo do grau de importância atribuído à comunicação simbólica, essas culturas podem enfatizar mais ou menos as emoções e paixões, marcando a sociedade de uma forma ou de outra.

No epicentro desta reflexão, somos compelidos a transcender as narrativas unidimensionais, reconhecendo a subjetividade intrínseca à experiência humana e a influência profunda da cultura na composição do espaço. Ao sondarmos os meandros das geografias culturais, confrontamo-nos com a necessidade insistente de desconstruir conceções estereotipadas, abrindo espaço para a multiplicidade de vozes e saberes que habitam os territórios periféricos.

Neste contexto, a análise crítica da interação entre cultura e espaço na Geografia revela-se não apenas como uma excursão intelectual, mas como um convite ao diálogo interdisciplinar, onde se entrelaçam as narrativas da História, da Sociologia e da Antropologia (de mão dada com a Geografia).

Inspirados por esta miríade de perspetivas, vislumbramos a promessa de um entendimento mais profundo das dinâmicas sociais e espaciais que moldam a realidade, abrindo caminho para uma nova era de compreensão mútua e respeito pela diversidade cultural e compreensão e discussão sobre as suas bases.

Em síntese, o livro desvela-se como uma jornada filosófica e analítica através dos meandros da cultura, revelando a sua influência profunda e multifacetada na sociedade e no espaço. Num intricado enredo de conceitos e reflexões, Claval conduz o leitor desde os fundamentos primordiais até às implicações mais amplas da cultura na experiência humana contemporânea.

Em cada tornar de página, somos transportados por uma narrativa que se desenrola desde os eventos históricos marcantes até aos desafios existenciais da era digital, revelando como a cultura permeia cada fibra do nosso ser, tecendo uma teia complexa de perceções, comportamentos e interações. Através de uma abordagem meticulosa e sempre contextualizada, Claval apresenta um panorama abrangente que desafia as conceções tradicionais da Geografia, convidando-nos a mergulhar nas profundezas da condição humana e a contemplar as nuances e complexidades da cultura.

Assim, esta obra revela-se não apenas como um convite à reflexão, mas também como um testemunho eloquente da beleza e da complexidade da experiência humana, convidando-nos a explorar as fronteiras do conhecimento e a expandir os horizontes da compreensão.

Posto isto, recomenda-se vivamente a leitura de “L’Approche Culturelle” a todos os interessados em compreender as profundezas da cultura e as suas ramificações na sociedade moderna, bem como aqueles que buscam uma reflexão crítica sobre os desafios e as possibilidades que ela apresenta, a todos aqueles abertos a explorar a “crise existencial” que pode ser a cultura, e a todos aqueles que têm longanimidade para refletir além do texto diante de si.




ORCID ID


Mariana Tavira Guerreiro da Costa https://orcid.org/0009-0004-2420-9981





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


Anderson, B. (2019). Cultural geography III: the concept of ‘culture. Progress in Human Geography, 44(3), 608-617. https://doi.org/10.1177/0309132519856264

Claval, P. (2020). L’Approche Culturelle [The Cultural Approach]. Collection Les Dynamiques Géographiques.

Grésillon, B. (2008). Ville et création artistique. Pour une autre approche de la géographie culturelle. Annales de Géographie, 660-661(2), 279-198. https://doi.org/10.3917/ag.660.0179

Silva, L. L. S. (2021). Entre o cultural e o social nas abordagens geográficas [Between the cultural and the social in geographic approaches]. GEOgraphia, 23(50). https://doi.org/10.22409/GEOgraphia2021.v23i50.a40772

Tylor, E. B. (1871). Primitive Culture. John Murray.





1Recebido: 27/04/2024. Aceite: 10/07/2024. Publicado: 24/07/2024.

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