Finisterra , LX ( 129 ), 2025, e36428 I SSN: 0430 - 5027 doi: 10.18055/Finis3 6428 Artigo Published under the terms and conditions of an Attribution - NonCommercial - NoDerivatives 4.0 International license. O PAPEL DOS SIG NA MODELAÇÃO DA ANÁLISE DE REDES: O CASO DA MOBILIDADE ATIVA PEDONAL EM GUIMARÃES V ÍTOR R IBEIRO 1 R AFAELA S ILVA 1 RESUMO Caminhar é uma prática essencial no quotidiano da população, dada a sua simplicidade e acessibilidade . Sendo um meio de deslocação amplamente disponível, torna - se fundamental investir em infraestruturas que sejam agradáveis e confortáveis. A publicação da Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa Pedonal 2030, em julho de 2023, veio reforçar a importânc ia de promover uma mobilidade mais sustentável e de integrar a mobilidade ativa nas políticas de planeamento urbano. Este estudo procurou explorar os contributos dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) para a análise espacial da caminhabilidade na cida de de Guimarães. Tradicionalmente, os estudos sobre caminhabilidade baseiam - se na criação de um índice estruturado que utiliza o eixo de via na modelação em SIG. Para obter resultados mais realistas, o presente trabalho propõe uma metodologia inovadora, ce ntrada na utilização da rede pedonal. A análise foi complementada com dados recolhidos através de Smart Survey s , que permitem uma recolha geográfica otimizada e a definição de velocidades médias por grandes grupos etários . Conclui - se que a modelação basea da em passeios e passadeiras gera resultados mais eficazes, sendo igualmente essencial considerar a diversidade de públicos e serviços urbanos na abordagem às questões de caminhabilidade. Palavras - chave: Análise de r edes , c aminhabilidade , m obilidade a tiva , SIG , Smart Survey s . ABSTRACT THE ROL E OF GIS IN THE NETWORK MODELLING : THE CASE OF ACTIVE PEDESTRIAN MOBILITY IN GUIMARÃES. Walking is an essential practice in people’s daily lives, given its simplicity and accessibility. As a widely available mode o f transport, it is crucial to invest in infrastructure that is both pleasant and comfortable. The publication of the National Strategy for Active Pedestrian Mobility 2030, in July 2023, reinforced the importance of promoting more sustainable mobility and o f integrating active mobility into urban planning policies. This study aimed to explore the contributions of Geographic Information Systems (GIS) to the spatial analysis of walkability in the city of Guimarães. Traditionally, walkability studies are based on the creation of a structured index that uses the road axis in GIS modelling. To obtain more realistic results, this study proposes an innovative methodology centred on the use of the pedestrian network. The analysis was complemented by data collected th rough Smart Survey s, which allow for optimised geographic data collection and the definition of average walking speeds by major age groups. The findings suggest that modelling based on pavements and pedestrian crossings produces more effective results. It is also essential to consider the diversity of users and urban services when addressing walkability issues. Keywords: Network analysis , walkability , a ctive m obility , GIS , Smart Survey s. HIGHLIGHTS A utilização de SIG focado nos passeios melhora a a nálise da mobilidade pedonal. Smart Survey s recolhem velocidades de caminhada por grupo etário e inclinação. Modelação em rede revela diferenças consideráveis no tempo de caminhada. Índices de caminhabilidade devem integrar grupos etários e relevo urbano. Recebido: 18/06/2024. Aceite: 18/ 02 /202 5 . Publicado: 21/07/2025. 1 Instituto de C iências Sociais, Universidade do Minho, Departamento de Geografia, Campus de Azurém, 4800 - 058, Guimarães, Portugal . E - mail: vitor@geografia.uminho.pt , rafa ela - silva2000@hotmail.com
Ribeiro, V., Silva, R ., Finisterra, LX (129), 2025, e36428 2 1. INTRODUÇÃO O ato de caminhar nas áreas urbanas tem um impacto significativo na qualidade de vida da população, nomeadamente ao nível da saúde, bem - estar e funcionamento geral das cidades ( Dovey & Pafka, 2020 ) . Neste cont exto, e particularmente n o do envelhecimento, destaca - se o quotidiano das pessoas idosas que implica uma forma diferente de pensar e organizar as cidades ( Marques da Costa et al., 2023 ; Ribeiro, 2009 ; Ribeiro & Remoaldo, 2009 ) . No âmbito da Geografia dos Transportes , a caminhabilidade é estruturante na geração de comunidades ativas/sustentáveis a partir do deslocamento a pé e da redução de dependência do veículo privado. De facto, um dos trabalhos pioneiros sobre este tema remonta ao inicio da década de 90 do século XX ( Bradshaw, 1993 ) . O autor identificou quatro características fundamentais para a caminhabilidade privilegiando um ambiente físico favorável para o pedestre, a variedade de destinos próximos, um ambiente natural moderado e uma cultura loc al , social e diversa. Com base nestes critérios, o autor propôs um índice que atribuía pontuações a diferentes aspetos do ambiente urbano, permitindo avaliar e comparar a qualidade das áreas para pedestres. De modo a obter uma imagem mais realista do terri tório e para suportar as tomadas de decisão é fundamental recorrer à análise espacial através da modelação em Sistemas de Informação Geográfica (SIG) . A atratividade do tema está relacionada com as comunidades e as cidades saudáveis e caminháveis , a qual t em vindo a crescer técnica e cientificamente . De igual modo, a modelação através dos SIG tem vindo a acompanhar esse crescimento designadamente para a criação de índices compósitos de caminhabilidade dos espaços ( Telega et al., 2021 ; Yin, 2017 ) . A generalidade dos estudos que se debruçam sobre a modelação do deslocamento do peão é feita a partir dos eixos de via pa ra representar a respetiva conetividade da rede. Estas abordagens quando usadas para modelar o transporte motorizado ou, eventualmente ciclável não levanta m grandes reservas metodológicas. Porém, quando se trata do modo pedonal claramente apresenta debilid ade s metodológicas e de análise porventura grosseiras , pois não atendem às especificidades das vias dedicadas para os peões , como por exemplo passeios e passadeiras (Ribeiro et al., 2015) . Neste sentido Ribeiro et al . (2015) alertava m que na modelação em redes do modo andar a pé, designadamente nos estudos da acessibilidade aos transportes públicos, é fundamental atender à modelação para os difer entes grupos etários ( Li et al., 2023 ; Shields et al., 2023 ) . Com efeito, no presente artigo pretendemos aliar estes dois temas relevantes cientificamente na atualidade e que permite m conjugar os SIG na modelação da caminhabilidade através de uma abordagem metodológica diferenciadora e inovadora. O tema ganha ainda maior relevância se atendermos às problemáticas a ssociad a s às questões relacionadas com as alterações climáticas , onde os transportes têm um papel determinante na sua mitigação ( Bernard et al., 2021 ) . Por este facto, é necessário adotar medidas de deslo camento, de curtas distância, mais sustentáveis que permitam melhorar a qualidade de vida e mitigar os processos de exclusão social devido aos transportes ( Remoaldo & Ribeiro, 2012; Ribeiro, 2012a , 2012b , 2014 ) . Neste sentido, a exclusão social é aqui entendida numa perspetiva geográfica que se materializa na privação de meios de transportes que permita m ao cidadão aceder a um conjunto de bens essenciais, de modo a satisfazer as necessidades do seu dia - a - dia (e.g., emprego, saúde, educação). Considerando , a elevada concentração de pessoas e oferta d e serviço s à disposição da população nas cidades, é importante criar infraestruturas seguras e agradáveis à circulação de pedestres. Estas estratégias para criar ambientes mais caminháveis destinam - se a resolver numerosos problemas, desde a crise da obesidade e a f alta de vitalidade no centro da cidade até ao congestionamento do trânsito, à injustiça ambiental e ao isolamento social ( Forsyth, 2015 ; Lo, 2009 ) . A preocupação crescente d esta temática enquanto motora da redu ção d as emissões de CO2 até 2035, a nível europeu, e da publicação d a Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa Pedonal 2030 (2023) , a nível nacional, surgem co mo elementos fundamentais para demonstrar a relevância crescente deste tema. Em Portugal, apes ar da escassez de dados estatísticos que permitam uma análise mais refinada , é consensual que a cultura d a utilização do veículo privado para realizar os deslocamentos quer de média e curta distância é ainda muito acentuada . Assim, em planeamento urbano e designadamente no contexto da Geografia dos Transportes é fundamental atuar sobre a edu ca ção da mobilidade e aumento da acessibilidade da população a bens e serviços essenciais. Uma das motivações ao estudo da caminhabilidade assenta também na necessidade de reduzir os atropelamentos de peões, que têm evoluído de forma crescente, principalmente nas localidades. A aposta em passeios e passadeiras confortáveis e adequados a todas as idades atrai a população a
Ribeiro, V., Silva, R ., Finisterra, LX (129), 2025, e36428 3 escolher a caminhada como meio de deslocação, seja entre destinos seja entre diferentes modos de transportes. Este contínuo interesse pela introdução e aposta no modo andar a pé, dão origem a cada vez mais estudos científicos no âmbito da Mobilidade Ativa Pedonal. Porém, esta temática carece de estudos à microescala que auxiliam , particularmente os planeadores do território a uma escala municipal a adotar soluções mais sustentadas e eficientes na promoção do modo andar a pé. A modelação espacial através dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) é funda menta l para obter uma imagem mais realista dos territórios e suportar de um modo mais informado as decisões adotadas ( Alves et al., 2023 ; Remoaldo & Ribeiro, 2012 ; Remoaldo et al., 2019 ; Ribeiro et al., 2021 ) . Contudo, medir e avaliar a caminhabilidade nã o se restringe apenas às infraestruturas físicas das cidades, mas também à análise do comportamento dos pedestres. Assim sendo, a modelação de velocidades e o mapeamento detalhado de passeios e passadeiras em SIG constituem uma mais - valia na avaliação prec isa e abrangente da mobilidade do pedestre. De modo a atuar no território e priorizar investimentos são combinados diversos indicadores, num Índice de Caminhabilidade para determinar áreas mais vulneráveis. Porém , nesta proposta defendemos que para mode lar de forma mais realista é fundamental integrar: a) modelação a partir dos passeios e passadeiras e não dos eixos de via e b) medir em função dos vários grupos etários (jovens, adultos e idosos) . Ambas as perspetivas têm vindo a ser ignoradas na modelação d os principais estudos porquanto os autores consideram fundamentais para obter uma modelação mais próxima da realidade . Este estudo pretende identificar as diferenças dos resultados obtidos quando utilizadas estas duas abordagens, reforçando a ideia de que se deve adotar uma metodologia diferente , integrando ainda na modelação as velocidades médias de cada grupo. 2. QUATRO DÉCADAS DE ESTUDOS SOBRE A CAMINHABILIDADE: O ESTADO ATUAL Os primeiros artigos científicos relacionados com a caminhabilidade surgiram no início da década de 1990, com origem no campo do desenvolvimento urbano e preocupados com a qualidade do ambiente urbano e dos subúrbios ( Rišová & Madajová, 202 0 ; Southworth & Ben - Joseph, 1995 ; Southworth & Ben - Joseph, 1997 ; Southworth & Owens, 1993 ) . Os estudos de caminhabilidade estavam inicialmente bastante ligados à área da saúde com o objetivo de reduzir os casos da doença de obesidade, promovendo a atividade física. A necessidade de influenciar a população a caminhar, levou a uma evolução no conceito e direcionou a atenção dos investigadores para o desenho urbano, priorizando os investimentos em espaços seguros, confortáveis e apelativos para o pedestre. Ao longo do tempo, estes estudos foram começando a identificar e detalhar os component es específicos que afetam a caminhabilidade, como a presença de passeios, a segurança nas passadeiras, a qualidade do ambiente construído, a presença de espaços verdes agradáveis, entre outros. A preocupação com estas componentes levou a uma compreensão ma is refinada dos elementos que contribuem para uma experiência mais positiva de caminhada. Para perceber o conceito de caminhabilidade é necessário ter em conta a definição de pedestre. Pedestre é uma pessoa que caminha em vez de viajar num veículo (Lo, 2009). As pessoas tendem a deslocar - se a pé entre locais dada a sua praticidade, rapidez e baixo custo associado, tornando - se numa escolha prioritária, nomeadamente nos centros urbanos. O elevado congestionamento de tráfego nas cidades salienta a necessid ade de melhorar os acessos para os pedestres entres vários destinos e modos de transporte para incentivar a caminhada como meio de transporte principal . Lo (2009) explica que o American Heritage Dictionary não faz referência ao pedestre como meio de transp orte, mas define - o como uma pessoa que viaja a pé ou é caminhante , expandindo assim a definição para aqueles que caminham por lazer, exercício físico ou recreação. A caminhabilidade não é apenas acessibilidade para pedestres , m as também uma rubrica que i nclui uma seleção de medidas, por vezes resumidas quantitativamente como um índice de caminhabilidade (Shields et al., 2021). A cidade caminhável tornou - se um slogan tanto nos discursos populares como académicos sobre o futuro das cidades ( Dovey & Pafka, 2020 ) . Existe agora uma literatura bem estabelecida que mostra que o aumento dos níveis de caminhada tem resultados positivos para a saúde da população ( Stevenson et al., 2016 ) e que as cidades de baixo carbono necessárias para a adaptação às alterações climáticas exigem bairros orientados para o trânsito a pé ( Cervero & Kockelman, 1997 ; Cervero et al., 2009 ; Dovey & Pafka, 2020 ; Ewing & Cervero, 2010 ) . Sendo o meio de transporte verde mais básico, a caminhada tem um papel insubstituível em
Ribeiro, V., Silva, R ., Finisterra, LX (129), 2025, e36428 4 qualquer sistema de transporte que se pretenda integrado ( Li et al., 2023 ) e multimodal . Caminhabilidade e caminhável são termos que se tornaram comuns nas áreas de engenharia, planeamento e saúde, em parte porque caminhar é amp lamente reconhecido como tendo benefícios a nível de saúde, sociais, económicos e de bem - estar de uma sociedade ( Abley et al., 2011 ) . Apesar de ter emergido como um tema popular em fóruns relacionados com transportes e planeamento urbano, tem havido uma falta generalizada de consenso sobre o signific ado da caminhabilidad e . Segundo Moura et al . (2017) a caminhabilidade foi definida como a me dida em que o ambiente urbano é favorável aos pedestres. Ao medi - la, os profissionais de planeamento poderão ser capazes de abordar a qualidade do ambiente pedonal, definindo estratégias e intervenções mais objetivas, eficazes e abrangentes relacionadas co m o modo andar a pé ( Moura et al., 2017 ) . Já Telega et al . (2021) refere m que a caminhabilidade depende de fatores como a disponibilidade de diferentes destinos , a densidade populacional , ou das carac terísticas ambientais muito subjetivas, como o conforto e a segurança. Nos anos 80, os SIG ganharam relevância com o desenvolvimento da computação gráfica (Batty, 2005), transformando - se numa ferramenta essencial para estudar as relações entre o ambiente c onstruído e o ambiente físico, e as suas associações com a caminhabilidade (Butler et al., 2011). Consideravam a localização física de áreas, limites, pessoas e serviços, como também os usos do solo e os recursos naturais . Deste modo, permiti ram aos inves tigadores cria r mapas, m edi r distâncias e tempos de viagem, bem como a capacidade de definir a extensão e a natureza das relações espaciais (Agampatian, 2014). A utilização de Índices de Caminhabilidade constitui um dos principais avanços nos métodos e cnicas de SIG utilizados para medir a caminhabilidade (Agampatian, 2014), sendo responsáveis por medir o grau em que uma área oferece oportunidades para caminhar até vários destinos (Manaugh & El - Geneidy, 2011), permitindo assim estabelecer prioridades de intervenção e investimento onde a mobilidade de peões é mais escassa e muito necessária (D’Orso & Migliore, 2020). Uma das primeiras medições de caminhabilidade, com variáveis ambientais derivadas objetivamente de dados SIG, foi elaborada por Frank et al . (2005), que utilizou 3 indicadores: as misturas de uso do solo, a densidade residencial líquida e a densidade d as interseç ões . Ao longo das décadas, os investigadores foram desenvolvendo métricas e ferramentas cada vez mais avançadas para avaliar a caminha bilidade . Progrediram de uma compreensão inicial mais simples do conceito, que visa entender o fenómeno num território, para uma visão mais sofisticada e pragmática que procura tomar ações concretas para melhorar a caminhabilidade nas cidades. As avaliaçõ es mais subjetivas através de questionários foram evoluindo até ao uso dos SIG que permitem uma análise mais objetiva e abrangente do ambiente urbano em relação à caminhabilidade. Os SIG representam atualmente uma ferramenta essencial nos estudos desta tem ática, com o intuito de mapear os níveis de transitabilidade de segmentos rodoviários. Leslie et al . (2007) concluíram que alguns indicadores de caminhabilidade podem ser facilmente determinados n um ambiente SIG e que este pode ser usado para desenvolver um índice de caminhabilidade” ( D'Orso & Migliore, 2020 ) . Mais recentemente, os estudos têm se voltado para a aplicação prática dos resultados, que influenciam as políticas públicas e as intervenções urbanas. Assim são identificadas as áreas prioritárias para melhor ar e sustentar a formulação de diretrizes para o planeamento urbano e mudanças positivas no ambiente urbano , como por exemplo nos Planos de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS) . A investigação científica sobre a caminhabilidade através da integração e modelaçã o em ambiente SIG tem sido , portanto, objeto de interesse crescente nas últimas décadas, refletindo a importância de compreender e melhorar a mobilidade pedestre em ambientes urbanos. Para entender melhor esta evolução do tema a nível mundial foram an alisa dos dados gerados pela base Scopus, considerando três aspetos principais: o número de documentos por ano, por área de estudo e por país . Desde 2004 que se assiste a um aumento exponencial de produção científica sobre caminhabilidade e caminhabilidade assoc iada aos SIG (fig s. 1 e 2) . Segundo Ramakreshnan et al . (2020) , o número de publicações ao longo dos anos foi um indicador fundamental para medir o progresso científico e a importância de uma disciplina . Este tema não se restringe ap enas às áreas das ciências sociais conforme demonstra os gráficos presentes nas figuras 3 e 4. Estes evidenciam os trabalhos realizados por investigadores de áreas como a saúde, a engenharia, ou o ambiente. O desenvolvimento de ferramentas SIG vocacionadas para a análise de redes ampliou as opções para a investigação sobre a caminhabilidade ( Shields et al., 2023 ) . O número de documentos publicados contribuiu para a evolução crescente do conceito de caminhabilidade e o desenvolvim ento contínuo das tecnologias de SIG desempenhou um papel
Ribeiro, V., Silva, R ., Finisterra, LX (129), 2025, e36428 5 fundamental, para aprimorar a qualidade e precisão dos estudos. Fig. 1 N úmero de documentos publicados no mundo, entre 1989 e 2024 , relativos a o termo caminhabilidade . Fig. 1 N umber of docum ents published around the world, between 1989 and 2024 , relating to walkability word . Fonte: Autores com base na plataforma Scopus Fig. 2 N úmero de documentos publicados no mundo, entre 2004 e 2024 , combina n do os termos cami nh abilidade e SIG . Fig. 2 N umber of documents published around the world, between 2004 and 2024 , combining walkability and GIS words . Fonte: Autores com base na plataforma Scopus A evolução das ferramentas SIG foi permitindo uma análise mais detalhada e abrangente dos padrões d e caminhabilidade dos pedestres, integrando dados geoespaciais de forma a criar soluções mais eficazes na melhoria dos ambientes urbanos. Em conjunto com o conceito de cidade habitável, os decisores e as instituições financiadoras começaram a investir em p rojetos de acessibilidade nos últimos anos devido aos seus impactos na sustentabilidade ambiental e no desempenho económico ( Ramakreshnan et al., 2020 ) . 0 100 200 300 400 500 600 1989 1994 1999 2004 2009 2014 2019 2024 Nº docs. Ano 0 10 20 30 40 50 60 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2022 2024 Nº docs. Ano
Ribeiro, V., Silva, R ., Finisterra, LX (129), 2025, e36428 6 Fig. 3 Documentos publicados por área de estudo, entre 1988 e 2024, relativos ao termo ca minhabilidade . Fig. 3 Documents published by study area, between 1988 and 2024, relating to walkability word . Fonte: Autores com base na plataforma Scopus Fig. 4 Documentos publicados por área de estudo, entre 1988 e 2024, combina n do os termos cam inhabilidade e SIG . Fig. 4 Documents published by study area, between 1988 and 2024, combining walkability and GIS word . Fonte: Autores com base na plataforma Scopus A s publicações de estudos sobre caminhabilidade concentram - se nos Estados U n idos da Amé rica (fig s. 5 e 6 ) , onde os primeiros estudos surgem mais direcionados para o problema da obesidade e da necessidade de promover estilos de vida mais saudáveis na população. Os autores também consideram que esta rápida aceleração de publicações num curt o e spaço de tempo poderá ser explicada pelas várias descobertas que vão sendo feitas nas várias áreas, principalmente no apoi o que a caminhada proporciona a o desenvolvimento económico dos retalhos locais e também nos avanços na área da medicina que exploram a s vantagens de caminhar na saúde humana. 0 5 10 15 20 25 30 Ciências sociais Medicina Ciências do ambiente Engenharia Informática Energia Enfermagem Economia Ciências da Terra Profissões da área da saúde Artes e Humanidades Matemática Psicologia Multidisciplinar % Área 0 5 10 15 20 25 30 Ciências sociais medicina Ciências do ambiente Engenharia Informática Ciências da Terra Energia Profissões na área da saúde Enfermagem Economia Matemática Artes e Humanidades % Área
Ribeiro, V., Silva, R ., Finisterra, LX (129), 2025, e36428 7 Fig. 5 Número de documentos publicados por país , entre 1988 e 202 4 , relativos a o termo caminhabilidade. Fig. 5 Number of documents published by country , between 1988 and 202 4 , relating to walkability word . F onte: Autores com base na Scopus Fig. 6 Número de documentos publicados por país , entre 1988 e 2025, combinando os termos caminhabilidade e SIG . Fig. 6 Number of documents published by country between 1988 and 2025, combining walkability and GIS wo rds . Fonte: Scopus 3. METODOLOGIA Este estudo adotou uma abordagem qualitativa e quantitativa para uma melhor análise do tema. Inicialmente foi explorado o conceito de caminhabilidade e a sua evolução, seguido da importância dos 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 Portugal Bélgica Malásia Paises Baixos Índia Alemanha Coréia do Sul Brasil Espanha Hong Kong Itália Japão Reino Unido China Austrália Canadá Estados Unidos Número Países 0 20 40 60 80 100 120 140 160 Alemanha Portugal Brasil Dinamarca Países baixos Nove Zelândia Coreia do Sul Malásia Japão Espanha Bálgica China Hong Kong Reino Unido Itália Canadá Austrália Estados Unidos Número Paises
Ribeiro, V., Silva, R ., Finisterra, LX (129), 2025, e36428 8 SIG na elaboração de projet os no âmbito da caminhabilidade. A análise incidiu numa área de estudo no núcleo urbano d o Município de Guimarães . Este município apresentou, em 202 4 , uma densidade populacional de 6 50,6 hab./km 2 ( Instituto Nacional de Estatística , 202 4 ) . A área de estudo selecionada apresenta uma variedade de serviços ao dispor da comunidade, que intensifica o tráfego pedonal diário. O estudo centrou - se numa abordagem cuja modelação se centra na deslocação pelos passeios e passadeiras , tendo - se recorrido ao s Smart Survey p ara obter as velocidades por grupo etário . Depois de delimitada a área em estudo procedeu - se à vetorização da rede de passeios e passadeiras em ambiente SIG (segundo a topologia de rede arco/nó) . Foi também recolhida informação geográfica relativa aos gran des geradores de tráfego que se incluíam na área em estudo, como escolas, hospital, supermercados, etc. Para tornar o estudo mais completo, foram definidas velocidades dos pedestres, em terreno inclinado, distinguindo os três grandes grupos etários de form a a evitar as grandes desigualdades que as velocidades médias totais representam. A inclusão deste indicador na modelação de análise de redes torna - se bastante importante, na medida em que proporciona uma perspetiva mais ampla da caminhabilidade segundo os diferentes públicos, os jovens, os adultos e os idosos. Foram definidos dois troços para análise, como ilustrados na figura 7 , com 94 e 99 metros, na Avenida Conde Margaride, em Guimarães, uma rua com uma consider ável inclinação, onde foi efetuada a recol ha de dados. Fig. 7 Localização dos troços em análise . Fig. 7 Location of sections under analysis . Para obter as velocidades médias foi necessário cronometrar o tempo de deslocação dos pedestres ao longo dos dois troços definidos previamente . O co ntrolo e registo foi efetuado individualmente com recurso ao cronómetro do telemóvel através de Smart Survey s produzido com a tecnologia ESRI Survey 123 . O inquérito possuía oito campos/questões pertinentes ao estudo. Estas questões facilitaram a análise dos resultados, visto que, através da aplicação utilizada, estava a ser criada uma base de dados em tempo real. As questões eram breves e objetivas e pretendiam obter informação relevante para a posterior análise, nomeadamente: o troço (1 ou 2); o género e grupo etário correspondente; o estado do tempo; o tempo em segundos; o tipo de apoio utilizado; a carga (por exemplo sacos de compras); o sentido (subida ou descida). A utilização do Smart Survey facilitou a recolha em tempo real de um total de 154 regis tos ( q uadro I ), uma amostra considerável que nos possibilita uma análise sustentada das velocidades, entre elas 52 relativ a s a os jovens, 53 a os adultos e 49 a os idosos, segundo o sentido do troço. Estes dados foram recolhidos nos dias 27, 28 e 29 de junho, em dias de sol , com céu limpo.
Ribeiro, V., Silva, R ., Finisterra, LX (129), 2025, e36428 9 Quadro I Registos totais obtidos através do Smart Suvey segundo o grupo etário e sentido do troço . Table I Total records obtained through Smart Survey according to the age group and direction of the section. Sentido d o troço Jovens Adultos Idosos Subir 21 24 26 Descer 31 29 23 Total 52 53 49 Por último, procedeu - se à modelação em SIG através da ferramenta Network Analyst , onde foram elaboradas modelações em Matriz Origem - Destino (Matriz OD) e Rotas para comparar a s duas abordagens (eixo de via e passeios e passadeiras). Os dados referentes ao eixo de via foram fornecidos pela Câmara Municipal de Guimarães, enquanto que para a rede pedonal recorremos à vetorização dos passeios e das passadeiras recorrendo ao softwar e ArcGIS . De modo a podermos comparar a eficiência de medir através do m o do convencional, através do eixo das vias, ou da proposta que fazemos, através dos passeios e das passadeiras, elabo ramos uma matriz Origem - Destino . Assim, obtivemos o tempo de desloc ação a pé , em minutos, em ambos os ambientes (passeios e passadeiras e eixos de via) entre um ponto de origem ( Shopping ) e três pontos de destino (equipamentos de segurança ) (fig. 8) . Fig. 8 Matriz OD com o tempo de deslocação a pé, em minutos, da Ce ntral de Camionagem a três equipamentos de segurança, na área de estudo. Figura a cores disponível online. Fig. 8 OD Matrix with the walking time, in minutes, from the Bus Center to three - safety equipment, in the study area. Colour figure available onlin e. De seguida, usamos os resultados da Matriz O - D para calcular a diferença de tempo em minutos da deslocação a pé, uma deslocação pelos eixos de via ou pelos passeios e passadeiras para os três percursos, segundo cada grupo etário. Para as velocidades mé dias por grupo foram consideradas penalizações de 10 segundos para os jovens, 15 segundos para os adultos e 30 segundo para os idosos pelo tempo de travessia e espera nas passadeiras.