Figueiredo, A. A., Martinville, S. Finisterra, LIX(127), 2024, e36569





O PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO COSTEIRO EM ÁREAS DE GALGAMENTO E EROSÃO SEDIMENTAR EM PORTUGAL:

IMPACTO AMBIENTAL NA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO





Alexandra Águeda de Figueiredo1,2

Sarah Martinville1





RESUMOAs áreas costeiras desempenham um papel vital na compreensão da história e da cultura das comunidades passadas. No entanto, estas áreas de importância arqueológica são frequentemente submetidas a ameaças naturais, como o galgamento e a erosão sedimentar, que colocam em risco a preservação de estruturas e vestígios. O avanço do mar e o movimento de sedimentos costeiros são processos naturais que possuem implicações na conservação dos espaços com indícios de ocupação humana. A somar a este processo dinâmico que acarreta preocupações com a manutenção e salvaguarda dos sítios, acrescem os ritmos acelerados do impacto das mudanças climáticas que têm intensificando os desafios enfrentados. O projeto Coastline, desenvolvido pelo Laboratório de Arqueologia e Conservação do Património Subaquático, do Instituto Politécnico de Tomar, realizou um conjunto de análises para apuramento da relevância e extensão deste tipo de problema ao longo da costa portuguesa. Esta análise não concluiu apenas a fragilidade destes locais, como também ressalta a urgência de implementar estratégias eficazes de preservação e gestão. Este artigo propõe-se a apresentar os principais resultados obtidos com o entrosamento entre os dados provenientes da Agência Portuguesa do Ambiente, onde são identificadas várias áreas de alto risco de transformações nos próximos anos e os registos de sítios arqueológicos que, ao longo dos anos, têm sido integrados na base de dados Endovélico do Património Cultural – Instituto Público.

Palavras-chave: Sítios arqueológicos; litoral; preservação; impactes ambientais; alterações climáticas.


ABSTRACT THE COASTAL ARCHAEOLOGICAL HERITAGE IN AREAS OF OVERWASH AND SEDIMENTARY EROSION IN PORTUGAL: ENVIRONMENTAL IMPACT ON HERITAGE PRESERVATION. Coastal zones play a vital role in understanding the history and culture of past communities. However, these areas of archaeological importance are often subjected to natural threats such as overwash and sedimentary erosion, which jeopardize the preservation of structures and remains. The advance of the sea and the movement of coastal sediments are natural processes that have implications for the conservation of areas with evidence of human occupation. Adding to this dynamic process, which raises concerns about the maintenance and safeguarding of sites, are the accelerated impacts of climate change, which have intensified the challenges faced. The Coastline project, developed by the Laboratory of Archaeology and Conservation of Underwater Heritage at the Polytechnic Institute of Tomar, conducted a series of analyses to determine the relevance and extent of this type of problem along the Portuguese coast. This analysis not only concluded the fragility of these locations but also highlighted the urgency of implementing effective preservation and management strategies. This article aims to present the main results obtained from the integration of data from the Portuguese Environment Agency, which identifies several high-risk areas for transformations in the coming years, and records of archaeological sites that have been integrated over the years into the Endovélico Cultural Heritage database of the Public Institute.


Keywords: Archaeological sites; coastal; preservation; environmental impacts; climate change.


RESUMENEL PATRIMONIO ARQUEOLÓGICO COSTERO EN AREAS DE REBASE Y EROSIÓN SEDIMENTARIA EN PORTUGAL: IMPACTO AMBIENTAL EN LA PRESERVACIÓN DEL PATRIMONIO. Las areas costeras desempeñan un papel vital en la comprensión de la historia y la cultura de las comunidades pasadas. Sin embargo, estas áreas de importancia arqueológica a menudo se ven sometidas a amenazas naturales, como el rebase y la erosión sedimentaria, que ponen en riesgo la preservación de estructuras y vestigios. El avance del mar y el movimiento de sedimentos costeros son procesos naturales que poseen implicaciones en la conservación de los espacios con indicios de ocupación humana. A esto se suma el ritmo acelerado del impacto de los cambios climáticos, que ha intensificado los desafíos enfrentados. El proyecto Coastline, desarrollado por el Laboratorio de Arqueología y Conservación del Patrimonio Subacuático del Instituto Politécnico de Tomar, realizó un conjunto de análisis para determinar la relevancia y extensión de este tipo de problema a lo largo de la costa portuguesa. Este análisis no solo concluyó la fragilidad de estos lugares, sino que también resalta la urgencia de implementar estrategias eficaces de preservación y gestión. Este artículo se propone presentar los principales resultados obtenidos con el entrelazamiento de los datos provenientes de la Agencia Portuguesa del Ambiente donde se identifican varias areas de alto riesgo de transformaciones en los próximos años, y los registros de sitios arqueológicos que, a lo largo de los años, han sido integrados en la base de datos Endovélico del Patrimonio Cultural – Instituto Público.


Palavras clave: Sitios arqueológicos; costa; preservación; impactos ambientales; cambios climáticos.





  1. PROJETO COASTLINE: PROBLEMA E PERSPETIVA SOBRE OS IMPACTES AMBIENTAIS


As mudanças climáticas representam uma realidade incontestável, conforme enfatizado pelo último relatório do Intergovernmental Panel on Climate Change Change ([IPCC], 2023), que destaca o aquecimento da atmosfera, oceanos e terra como resultado da influência humana. O aumento da gravidade da erosão e do nível do mar é evidente, com o nível médio global do mar aumentando consideravelmente ao longo dos anos (IPCC, 2023, p. 7; Antunes & Lemos, 2024).

Este aumento, que atingiu um máximo de 3,7mm/ano nos últimos anos (IPCC, 2023, p. 18), traz consigo impactos significativos, como a acidificação e desoxigenação dos oceanos, afetando diretamente a preservação de vestígios arqueológicos submersos (Monteiro, 2015) bem como afetam, pelo galgamento e erosão sedimentar os locais em áreas de interface, presentes na costa.

O conjunto de dados globais do marégrafo de Church and White (2011) e os dados de altimetria de satélite da Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço (NASA), centro de dados AVISO do Centre National d’Études Spatiales (CNES) e da Agência Nacional Australiana de Ciência (CSIRO ) mostram que entre 1880 e 2022 o nível do mar aumentou globalmente cerca de 26 cm. (Antunes & Lemos, 2024, p.1)

e que aparentemente os níveis da subida do nível do mar estão de acordo com os valores médios globais. (Antunes et al., 2019).

A projeção de situações extremas de subida das águas ressalta ainda mais a urgência de adotar medidas eficazes para garantir a salvaguarda dos vestígios arqueológicos.

O projeto CoastLine, arrancou em 2023, com o objetivo de compreender as ameaças iminentes enfrentadas pelo património arqueológico em áreas costeiras de Portugal, excluindo-se a do Algarve por falta de estudos da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

Reconhecendo a necessidade premente de identificar e proteger estes locais, o projeto cruzou dados provenientes desta instituição, que apresentam um conjunto de informações geoespaciais de locais que poderão sofrer profundas alterações nos próximos anos e os registos presentes no portal do arqueólogo Endovélico, até 100 metros da costa portuguesa.

Baseando-se em análises abrangentes dos sítios arqueológicos existentes, considerando as suas cronologias, a natureza perecível dos vestígios e a proximidade com áreas sujeitas a afetação ambiental, o projeto desenvolveu uma proposta de classificação que aponta as áreas de maior vulnerabilidade e necessidade de intervenção imediata e apuramento do estado real de afetação. Esta classificação não apenas visa estimular uma maior conscientização sobre a fragilidade destes locais, como também equacionar estratégias para a implementação de medidas de proteção mais eficazes.

Entre as medidas diretas propostas pelo projeto está a inclusão dos locais identificados como necessitados de intervenção de emergência pelo IPPC, visando contemplá-los com soluções concretas, como o desenvolvimento de projetos de estudo e proteção em colaboração com as autoridades locais. Além disso, é essencial que esta problemática seja contemplada vigorosamente nas estratégias nacionais para a Gestão Integrada da Orla Costeira. Apesar dos recentes documentos políticos demonstrarem sensibilidade, não refletem os problemas associados com a preservação de bens arqueológicos.

Na reflexão académica, está inerente que atualmente um dos desafios na arqueologia é a falta de estratégias possíveis para garantir a integridade destes locais para as futuras gerações (Dawson et al., 2020; Figueiredo & Martinville, 2024), sobretudo aquelas que se localizam em áreas costeiras de risco (Jézégou, 2021). Se observarmos as áreas arenosas ou de baixa, iremos perceber que estamos perante uma percentagem elevada, apresentando 42% da extensão da linha de costa (Pinto et al., 2020; Pinto et al., 2022) e o litoral português está fortemente afetado pela deterioração causada pelo recuo da linha de costa (Dias, 1990; Lira, 2016; Santos et al. 2015).

A dinâmica das ondas que caracteriza a costa oeste portuguesa é também um fator agravante, que, permite, por um lado, descobrir novos sítios arqueológicos, por outro, revolve, galga, agita os contextos e sedimenta (Borges et al., 2009; Dias, 1990; Rocha et al., 2020; Rosa-Santos et al., 2009). A juntar aos riscos ambientais próprios das dinâmicas costeiras acresce o fator agravante da intensidade das ocorrências que temos observado (Silva et al., 2013). Estas situações também são confirmadas no relatório do Grupo Trabalho do Litoral “devido à subida do nível médio global do mar a frequência e magnitude dos valores extremos do nível local do mar (associados à passagem de temporais) está a aumentar” (Santos et al. 2015, p. 44).

A análise realizada pela APA (2023) revela uma situação crítica ao longo da costa, identificando várias áreas sujeitas a processos erosivos intensos. Outros estudos específicos, como o de Sancho (2023) ou o de Silva (2012), que analisou uma parte da costa arenosa de Portugal, entre as praias de Maceda a S. Jacinto, evidenciam os desafios enfrentados por essas áreas.

O aumento da agitação marítima e a redução no fornecimento de sedimentos resultam em taxas de erosão significativas, como evidenciado por uma taxa de erosão de cerca de 4m/ano na área de Maceda. Por outro lado, áreas como S. Jacinto apresentam taxas de acreção que alcançam os 11m/ano. Estas descobertas apontam para previsões preocupantes, com Maceda projetada para registar, desde o estudo, um recuo da linha de costa de 80 metros, até 2030, enquanto S. Jacinto pode avançar 220 metros.

A base de dados Endovélico do Património Cultural, Instituto Público, apresenta um conjunto de 486 sítios, localizados na faixa de 100 metros da linha de costa. Se excluímos os sítios presentes na região do Algarve, não contemplada neste estudo, observamos a contabilização de 288 estações arqueológicas.

Neste artigo propõem-se essencialmente apresentar os resultados quantitativos, com base nos critérios de análise estabelecidos pelo projeto, dos sítios em estado de risco situados sobre ou na proximidade das áreas de galgamento ou erosão sedimentar na costa portuguesa.



  1. CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO


Através do levantamento realizado os sítios caracterizam-se pela sua diversidade tipológica e cronológica, registando-se assentamentos desde a Pré-história à Época Contemporânea.

A escolha de restringir a análise a sítios localizados dentro de uma faixa de 100 metros foi uma decisão estratégica, pois permite captar uma ampla diversidade de ocupações humanas passadas, ao mesmo tempo em que concentra o foco nas áreas mais vulneráveis aos efeitos da erosão costeira e às mudanças ambientais cada vez mais severas. Considerando que a linha costeira atua como uma interface dinâmica entre o ambiente marinho e terrestre, esses sítios estão sujeitos a diversas pressões ambientais que podem comprometer a sua integridade e preservação no curto prazo.

É importante ressaltar que a lista de sítios arqueológicos utilizada para o trabalho reflete os registos disponíveis até 2022. Isto significa que novos sítios descobertos ou registados na plataforma Endovélico, após esse período, não foram considerados nesta análise.

Além do levantamento dos sítios arqueológicos, foram incorporados dados geoespaciais da APA (2023), provenientes dos Programas da Orla Costeira (POC). Esses dados complementares fornecem informações cruciais sobre os riscos de erosão. Ao integrar esses dois conjuntos de dados (figuras 1 a 5), podemos obter uma compreensão inter-relacional dos desafios enfrentados pelos sítios arqueológicos costeiros e das medidas necessárias para sua proteção e preservação.

Relativamente ao litoral arenoso foram considerados os seguintes dados da APA:

  1. As Faixas de Salvaguarda à Erosão Costeira, que correspondem às áreas potencialmente afetadas pela erosão costeira e recuo da linha de costa no horizonte temporal de 50 anos. Esta análise foi considerada pelo resultado da extrapolação das tendências evolutivas observadas nos últimos anos.

  2. As Faixas de Salvaguarda ao galgamento e Inundação Costeira, que correspondem às áreas potencialmente afetadas por galgamentos e inundação previstas para um prazo temporal de 50 anos, resultantes do efeito combinado da cota do nível médio do mar, da elevação da maré astronómica, da sobre-elevação meteorológica e do designado espraio/galgamento da onda. Inclui ainda a previsão sobre a subida do nível médio do mar, em situação referente ao estipulado provocado pelas alterações climáticas (APA, 2023).

A título de exemplo, para ser mais visível o cruzamento dos dados provenientes da APA e do IPPC, aponta-se o mapa seguinte (fig. 1) que apresenta a área da Foz do rio Mondego, e da Figueira da Foz. Nesta, observa-se, na praia a norte do rio, uma grande sensibilidade a inundações costeiras e ao galgamento. Esta vulnerabilidade, de acordo com a APA, é devida ao efeito da elevação do nível do mar, da maré astronómica, da sobre-elevação meteorológica e do espraio, bem como ao galgamento das ondas. Na figura é possível verificar dois sítios arqueológicos: um em risco médio e outro, por se encontrar a mais de 100 metros, não foi integrado na análise. Um pouco mais a sul da Foz do rio Mondego, observa-se, além da faixa de salvaguarda ao galgamento e à inundação costeira, uma área de sensibilidade à erosão e ao recuo da linha de costa.



Fig. 1 – Pormenor da Foz do rio Mondego, Figueira da Foz, sobre fotografia de satélite (basemap imagery da ESRI, 2023). Figura a cores disponível online.

Fig. 1 – Detail of the Foz of Mondego river, Figueira da Foz, on a satellite photograph (basemap, imagery, from ESRI, 2023)Colour figure available online.

  1. Nas figuras 2, 3, 4 e 5 regista-se a associação dos sítios arqueológicos com os dois tipos de informação referente ao risco ambiental sobre a erosão e galgamento, bem como se observam as áreas em que as mesmas estão presentes na costa portuguesa.










Fig. 2 – Pormenor da costa norte de Portugal (da fronteira a Espinho), com o registo dos sítios arqueológicos. Figura a cores disponível online.

Fig. 2 – Detail of the northern coast of Portugal (from the border to Espinho), showing the registration of archaeological. Colour figure available online.







Fig. 3 – Pormenor da costa centro-norte de Portugal (de Espinho a Leiria), com o registo dos sítios arqueológicos. Figura a cores disponível online.

Fig. 3 – Detail of the central-northern coast of Portugal (from Espinho to Leiria), displaying the registration of archaeological sites. Colour figure available online.











Fig. 4 – Pormenor da costa centro de Portugal (de Leiria a Seixal), com o registo dos sítios arqueológicos. Figura a cores disponível online.

Fig. 4 – Detail of the central coast of Portugal (from Leiria to Seixal), displaying the registration of archaeological sites. Colour figures available online.











Fig. 5 – Pormenor da costa centro-sul de Portugal (de Seixal a Odeceixe), com o registo dos sítios arqueológicos. Figura a cores disponível online.

Fig. 5 – Detail of the central-southern coast of Portugal (from Seixal to Odeceixe), displaying the registration of archaeological sites. Colour figure available online


Torna-se notório que a área a norte do território é a mais afetada por estes problemas. As outras três áreas representadas, especialmente a área centro-sul possuem muitos sítios arqueológicos, mas apresentam-se principalmente associadas a um litoral de arriba, também com problemas de preservação não analisados neste artigo.



  1. LIMITAÇÕES E SOLUÇÕES DE REPRESENTATIVIDADE


Durante os trabalhos foi crucial reconhecer algumas limitações dos dados, nomeadamente no que se refere à interpretação dos sítios arqueológicos, sua localização e registo na base de dados Endovélico do IPPC, tais como:

  1. Limitação na Representação Geográfica: O ponto geográfico utilizado como referência para a localização dos sítios arqueológicos representa apenas uma parcela do sítio real. É importante compreender que os sítios de ocupação humana podem estender-se de forma mais ampla e dispersa, abrangendo áreas significativamente maiores do que aquelas consideradas em risco devido à erosão costeira.

  2. Discrepância entre Localização e Risco: Alguns dos pontos identificados como sítios arqueológicos podem estar localizados fora das áreas inicialmente delimitadas como de risco de erosão costeira. No entanto, é crucial reconhecer que a dispersão dos vestígios arqueológicos pode abranger áreas que se estendem para além desses limites pré-estabelecidos e até configurar situações de presença de riscos variados. Esta situação foi resolvida considerando proximidades de afetação a essas áreas.

  3. Falta de Atualização e Precisão dos Registos: Muitas das referências utilizadas para a identificação dos sítios arqueológicos datam de há vários anos, não tendo sido realizadas pelos investigadores que as observaram, de forma criteriosa, por meio de mecanismos ou ferramentas de posicionamento geoespaciais precisos. Isso pode resultar em imprecisões na localização dos sítios e na interpretação de sua relação com as áreas de risco de erosão costeira.

A figura 6 esquematiza as limitações inerentes a esta pesquisa. A título de exemplo, apresenta-se o enclave de Troia e Setúbal. Pelos critérios assumidos, alguns dos sítios arqueológicos não foram integrados nesta análise, encontrando-se a branco. No entanto, é evidente que os mesmos se encontram suscetíveis a riscos ambientais, tanto que no contexto do projeto Safeguarding Cultural Heritage through Technical and Organisational Resources Management (STORM), as autoridades locais e Bombeiros colaboraram com a equipa do referido projeto para conceber medidas apropriadas para lidar com eventos climáticos extremos nesta área (Resta et al., 2018).

Para preencher a lacuna identificada nas análises e melhor esclarecimento dos dados integrados, optamos por:

Nos casos de risco elevado, incluímos os sítios localizados diretamente nas áreas de incidência e, reconhecendo que ocupações com estruturas perecíveis estão particularmente vulneráveis a esses fenómenos, bem que as ocupações, à exceção de casos muito específicos, tendem a dispersar-se e a ocupar longas extensões, optamos, pelas razões apontadas, de integrar também neste grupo, os sítios que apresentam uma localização de proximidade a estas áreas inferior a 100 metros. Estas são representadas por um buffer.










Fig. 6 – Pormenor da área de Troia e Setúbal sobre mapa (basemap, national geographic, da ESRI), com sítios arqueológicos em diferentes tipos de risco. Figura a cores disponível online.

Fig. 6 – Detail of the Troia and Setúbal area on a map (basemap, national geographic, from ESRI), showing archaeological sites with different levels of risk. Colour figure available online.


Para o risco médio, consideramos sítios circunscritos a uma área de proximidade de 100 a 200 metros das áreas mencionadas pela APA em risco de alteração nos próximos 50 anos, nos quais a sensibilidade dos vestígios às mudanças ambientais é significativa. Também incluímos nesta categoria sítios localizados a uma proximidade inferior a 100 metros das áreas de risco, mas que possuem vestígios mais recentes ou construções mais resistentes, como fortalezas e fortificações.

Já para o risco baixo, contemplamos sítios localizados entre 200 e 300 metros das áreas de risco, ou integrados entre 100 a 200 metros, com vestígios de natureza mais resistente aos impactos ambientais.

Essa abordagem permitiu uma análise mais refinada dos sítios arqueológicos costeiros, levando em consideração não apenas sua localização geográfica, mas também a sua vulnerabilidade aos fenómenos de erosão e galgamento, analisados pela tipologia de estruturas e cronologias.

Ao estabelecer diferentes níveis de risco e critérios claros para sua classificação, foi possível identificar áreas prioritárias para ações de preservação e intervenção, contribuindo para uma gestão mais eficaz.

Na figura 7 é possível visualizar os três tipos de critérios associados. Por exemplo, percebemos que o Monumento de São Torpes se localiza sobre as duas faixas, a de erosão e de galgamento e inundação. É possível observar ainda, na imagem inferior – praia do Malhão em Vila Nova de Milfontes – quatro sítios incluídos no nosso estudo.

Os sítios Praia do Malhão / Cruzes e Praia das Galés 1 / Naus encontram-se em risco baixo por estarem localizados entre 200 e 300 metros da faixa de salvaguarda. O sítio Nascedios encontra-se em risco médio, por estar localizado entre 100 e 200 metros da faixa, enquanto o sítio Praia das Galés 2 está a menos de 100 metros da faixa de salvaguarda e consequentemente em risco alto, observando-se na figura o buffer a vermelho.


Fig. 7 – Área do Monumento de São Torpes e Área da Praia das Galés sobre mapa (basemap, topography and imagery, da ESRI) e buffers de proximidade usados às áreas de risco definidas pela APA (2023). Figura a cores disponível online.

Fig. 7 – Area around the São Torpes Monument and Praia das Galés on a map (basemap, topography and imagery, from ESRI) and buffers used around risk zones defined by the APA (2023). Colour figure available online.



  1. RESULTADOS OBTIDOS COM AS ANÁLISES EFETUADAS E DISCUSSÃO


Após estabelecermos os critérios para a análise dos sítios arqueológicos costeiros e considerarmos as diversas características foi possível realizar um estudo quantitativo dos dados observados. Esta etapa envolveu uma compreensão mais detalhada dos dados e metadados, incorporando uma variedade de informações essenciais na compreensão dos atributos dos sítios arqueológicos, nomeadamente o tipo de vestígios, as cronologias dos achados, a data do registo, o método utilizado para a localização geográfica, a dispersão dos achados e as intervenções arqueológicas realizadas, entre outras variáveis relevantes.

Isto permitirá perceber as potencialidades de trabalho na continuação do projeto, bem como explorar as lacunas existentes no conhecimento sobre estes locais.

Além disso, ao considerarmos as intervenções arqueológicas realizadas em cada sítio podemos avaliar o grau de conhecimento existente sobre estes locais e a extensão das investigações anteriores. Estes dados poderão auxiliar a identificar áreas que exigem mais atenção e investimento. Este tipo de perceção é essencial para uma gestão mais eficiente, pois se um sítio arqueológico costeiro tiver sido escavado e estudado no passado, podemos inferir que há um maior entendimento sobre o seu contexto arqueológico.

Por outro lado, se um sítio nunca foi alvo de intervenções ou estudos detalhados, será revelador da necessidade de trabalhos adicionais para entender melhor o seu potencial histórico. Com base nestas análises as entidades de tutela e autoridades locais poderão garantir que os recursos financeiros sejam direcionados de maneira eficaz para maximizar os benefícios sociais, culturais e económicos da conservação do património arqueológico em áreas costeiras vulneráveis e garantir, desta forma, a sua salvaguarda.

A sustentabilidade e preservação deste património pode vir ser relacionada com a capacidade para atrair financiamento público e privado, de forma a incrementar, entre outras vertentes, o turismo cultural, gerando receitas adicionais para as comunidades locais e promovendo o desenvolvimento económico sustentável em áreas costeiras vulneráveis, que posteriormente pode ser injetado na preservação dos ecossistemas e paisagens. Além disso, o conhecimento aprofundado sobre os sítios arqueológicos costeiros pode facilitar o planeamento e o ordenamento do território, garantindo que o desenvolvimento económico seja compatível com a preservação do património cultural e ambiental.

Na análise dos dados, observamos que dos 288 sítios analisados, 57 estão localizados em áreas arenosas e, destes, 39 locais foram integrados na classificação de risco alto, dez em risco médio e oito em risco baixo (anexo I).

Como é possível quantificar, no litoral arenoso, o maior risco está relacionado à erosão costeira e ao recuo da linha de costa, apresentando 66,67% dos casos (fig. 8). Com base na análise, é essencialmente a zona centro de Portugal que está mais sujeita a inundações e galgamentos enquanto, os restantes concelhos litorais estão essencialmente propensos ao fator erosivo costeiro. Os concelhos não apresentados não registam vestígios em risco próximo ou sobre estas zonas.


Fig. 8 – Número de sítios por tipologia de sujeição a risco por município. Figura a cores disponível online.

Fig. 8 – Number of sites by type of risc by municipality. Colour figure available online.


Numa breve análise é possível verificar que, em quase todos os concelhos mencionados, exceto em Peniche, Esposende e Figueira da Foz, são evidentes sítios arqueológicos em risco alto (fig. 9).


Fig. 9 – Número de sítios por tipo de risco por concelho. Figura a cores disponível online.

Fig. 9 Number of sites by types of risk by municipality. Colour figure available online.


Adicionalmente, observa-se, como ilustrado na figura 10, que os sítios do período pré-histórico são os mais afetados. De facto, ainda que os sítios da época romana estejam em segunda posição, com 11 sítios, os locais integrados no Paleolítico (antes de 10/8.000 a.C.), Mesolítico (sensivelmente entre 10/8.000 a.C. e 5500 a.C.) e Neolítico (5500 a.C. a 3000 a.C.) contabilizam, respetivamente, 18, oito e cinco, totalizando 31 estações em risco. Ao somarmos os três sítios do período Calcolítico (3000 a.C. e 2000 a.C.), atingimos um total de 59,5% de sítios em risco.


Fig. 10 – Sítios em risco por cronologia (consideração dos vestígios mais antigos observados). Figura a cores disponível online.

Fig. 10 – Sites at risk by chronology (considering the oldest observed remains). Colour figure available online.


Estes resultados evidenciam a urgência de uma gestão, levando em conta o fator ambiental para priorizar o estudo destes sítios, cujo conhecimento pode ser perdido em alguns anos devido aos eventos extremos ou na continuidade da erosão e das dinâmicas costeiras que atualmente se observam.



  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS


A interdisciplinaridade entre arqueologia e as ciências ambientais emerge como uma necessidade premente no estudo e preservação dos sítios arqueológicos em áreas costeiras. Embora os arqueólogos não sejam especialistas em questões ambientais, é crucial que se envolvam de forma multidisciplinar com investigadores desta área. Da mesma forma, a análise ambiental e o planeamento de manutenção das faixas costeiras devem considerar a presença de vestígios arqueológicos, muitas vezes não percebidos pelos técnicos ambientais, ressaltando a importância da colaboração entre diferentes campos de conhecimento para a salvaguarda destes locais.

Com base nisto, a conscientização das entidades responsáveis pela tutela do património arqueológico é fundamental. Embora haja uma perceção geral da problemática, ainda faltam estudos quantitativos que ofereçam um conhecimento aprofundado da realidade portuguesa. A falta de recursos humanos direcionados para o levantamento destas questões é um obstáculo adicional que limita os estudos existentes e a gestão destes sítios. Neste contexto, é crucial encontrar soluções que envolvam as comunidades locais e as entidades competentes, promovendo uma abordagem colaborativa e participativa na gestão e preservação do património arqueológico em áreas costeiras, essencialmente localizadas em zonas de risco ambiental, a que deverão associar-se as autoridades municipais. Alguns artigos e trabalhos têm sido desenvolvidos apresentando medidas de mitigação, estratégias e possibilidades de contenção e planeamento para um desenvolvimento mais participativo e sustentável (Carmo, 2017; Lima & Coelho, 2019; Pinto et al. 2020; Pinto, 2020; Lima et al., 2021; Barros et al., 2023; Vizinho et al., 2015).

Embora tenhamos identificado limitações em nossa análise, os resultados apresentados podem subestimar a verdadeira extensão do problema. Há motivos para acreditar que a proporção de locais em risco pode ser maior, quer pelo desconhecimento da existência destes, comprometido pela falta de pesquisas orientadas e prospeções aprofundadas junto à costa, quer pela desatualização dos dados sobre os sítios arqueológicos presentes no portal do arqueólogo, site do Património Cultural – Instituto Público, ou pelas mais recentes descobertas, não integradas na análise de dados no projeto.

Como é possível observar nos pontos explanados durante o artigo, as mudanças na costa portuguesa, exacerbadas por eventos extremos ligados às alterações climáticas, como os recuos e avanços bruscos, a elevação do nível do mar, a erosão e as tempestades, estão a colocar em risco a preservação dos sítios arqueológicos costeiros. Estes locais, historicamente fundamentais para a compreensão da ocupação humana devido ao acesso a recursos, mobilidade, comércio ou defesa, só para mencionar alguns, são testemunhos culturais importantes para o entendimento do nosso passado e identidade, refletindo as opções, práticas e comportamentos das comunidades que ali viveram ao longo do tempo. Estas mudanças representam, pois, uma ameaça real para a integridade física dos sítios arqueológicos, levando a galgamento, revolvimentos e assoreamento das áreas, onde artefactos e vestígios estão localizados, comprometendo irremediavelmente a sua preservação.

A comunidade científica (Cunha et al., 2015, De Vicente et al., 2011; Dias, 2004; Gouveia, 2022) tem sido hábil em documentar os efeitos das mudanças costeiras ao longo do tempo, especialmente durante períodos de grande transformação, decorrentes das transgressões com o degelo dos períodos glaciários. No entanto, o estado atual enfrenta novos desafios e uma ameaça crescente apontando grandes vulnerabilidades e uma destruição irreparável dos contextos arqueológicos nas áreas que a APA definiu como em risco de sofrerem profundas alterações no espaço de 50 anos.

Os dados registados permitem concluir que ao longo da faixa mencionada, 39 locais encontram-se em risco alto no que trata ao perigo de ocorrerem erosão sedimentar ou galgamento, presentes até 100 metros da linha da costa. É importante perceber que em toda a costa, excluindo a zona do Algarve, foram contabilizados 288 sítios e que a grande maioria se localiza sobre arriba, não integrada neste estudo. Em faixa arenosa, observamos um total de 57 sítios arqueológicos que vão desde a pré-história a vestígios mais recentes, sendo que 39 locais estão em iminência de destruição e dez em risco médio, o que revela um impacte sobre 86% de sítios arqueológicos, em risco nos próximos 50 anos.

Concluindo, a análise dos sítios arqueológicos costeiros, baseada na consideração de diversas características relevantes, permitiu uma compreensão detalhada dos dados e metadados associados. A investigação revelou a fragilidade e vulnerabilidade destes sítios às pressões ambientais. A integração dos dados revelou não apenas as lacunas existentes no conhecimento sobre estes sítios, mas também destacou a necessidade de maior envolvimento das comunidades locais e das autoridades competentes. A conscientização e a colaboração são fundamentais para uma abordagem participativa na gestão e preservação do património arqueológico, especialmente em áreas costeiras vulneráveis.

Os resultados sublinham a urgência de implementar ações concretas para mitigar os impactos das mudanças climáticas, que representam uma ameaça real para a integridade física dos sítios arqueológicos. A proteção destes locais, que são testemunhos valiosos da ocupação humana e da nossa identidade cultural, deve ser uma prioridade. É essencial continuar as pesquisas, atualizar os dados e envolver todas as partes interessadas para garantir a preservação deste património inestimável para as gerações futuras.

Além disso, é necessário um maior investimento em investigação e gestão para entender melhor a verdadeira extensão do problema e identificar áreas prioritárias para intervenção. Somente através de esforços coordenados e ações concretas podemos assegurar a preservação destes locais para as futuras gerações, protegendo não apenas nosso património cultural, mas também a nossa identidade e conexão com o passado.



AGRADECIMENTOS


Os autores agradecem ao Centro de Geociências (FCT https://doi.org/10.54499/UIDP/00073/2020), ao Laboratório de Arqueologia e Conservação do Património Subaquático, do Instituto Politécnico de Tomar, ao Centro de Investigação de Ciências Históricas da Universidade Autónoma de Lisboa e à ONG CAAPortugal por todo o apoio prestado no desenvolvimento do projeto.



CONTRIBUIÇÃO DAS AUTORAS


Alexandra Figueiredo: Conceptualização; Metodologia; Software; Validação; Análise formal; Investigação; Curadoria dos dados; Recursos; Aquisição dados; Escrita – preparação do esboço original; Redação – revisão e edição. Sarah Martinville: Conceptualização; Metodologia; Validação; Análise formal; Investigação; Redação – revisão e edição.



ORCID ID


Alexandra Águeda de Figueiredo https://orcid.org/0000-0003-3354-0727

Sarah Martinville https://orcid.org/0009-0009-1809-5697



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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APPENDIX 1

Quadro AI – Sítios arqueológicos em risco por concelho.

Table AI – Archaeological sites at risk by municipality.

Concelho

Cronologia

Tipologia

Topónimo

IPPC nºCNS

Risco

Critério risco

Caminha

Paleolítico

Est. Ar livre

Vila Praia de Âncora

53

Erosão costeira

Alto

Caminha

Paleolítico

Est. Ar livre

Forte de Âncora/Campo do Castelo

13849

Erosão costeira

Alto

Caminha

Paleolítico

Est. Ar livre

Forte do Cão

38

Erosão costeira

Alto

Cascais

Calcolítico; Moderno

Necrópole

Ponta da Rana

3590

Galgamento e inundação

Alto

Cascais

Paleolítico;

Vestígios Diversos

Praia de Carcavelos

6151

Galgamento e inundação

Alto

Cascais

Paleolítico; Romano

Vestígios Diversos

Guincho

8162

Erosão costeira

Alto

Espinho

Indeterminado

Mancha de Ocupação

Mocho

29934

Erosão costeira

Alto

Esposende

Romano

Povoado

Vila Menendis

2790

Erosão costeira

Alto

Leiria

Paleolítico Médio

Est. Ar livre

Praia do Pedrógão

19721

Erosão costeira

Alto

Leiria

Paleolítico Superior

Indeterminado

Praia Nova do Pedrógão 1

11324

Galgamento e inundação

Alto

Leiria

Indeterminado

Arte Rupestre

Praia Nova do Pedrógão 2

11326

Erosão costeira

Alto

Mafra

Romano; Moderno

Achado(s) Isolado(s)

Rua de Baixo

39397

Galgamento e inundação

Alto

Mafra

Romano; Moderno

Achado(s) Isolado(s)

Rua do Rio Calvo

39398

Galgamento e inundação

Alto

Mafra

Mesolítico

Concheiro

Concheiro de São Julião

3913

Galgamento e inundação

Alto

Mafra

Neolítico Antigo

Concheiro

Concheiro do Lisandro

37325

Galgamento e inundação

Alto

Matosinhos

Romano

Complexo Industrial

Angeiras

778

Erosão costeira

Alto

Matosinhos

Romano; Mesolítico

Vestígios Diversos

Praia da Agudela

33002

Erosão costeira

Alto

Nazaré

Paleolítico

Est. Ar livre

Praia do Norte IV

40249

Erosão costeira

Alto

Nazaré

Paleolítico Superior

Est. Ar livre

Praia do Norte II

33159

Erosão costeira

Alto

Odemira

Mesolítico; Paleolítico Superior

Est. Ar livre

Pedra do Patacho

7067

Erosão costeira

Alto

Odemira

Mesolítico;

Est. Ar livre

Aivados 2

11047

Erosão costeira

Alto

Odemira

Medieval Islâmico

Est. Ar livre

Praia das Galés 2

11052

Erosão costeira

Alto

Porto

Paleolítico

Est. Ar livre

Praia da Ervilha

4964

Erosão costeira

Alto

Porto

Mesolítico

Est. Ar livre

Av. Marginal do Parque da Cidade

15715

Erosão costeira

Alto

Porto

Medieval Cristão

Castelo

Castelo de S. João da Foz do Douro

6670

Erosão costeira

Alto

Sesimbra

Neolítico

Indeterminado

Lagoa de Albufeira

372

Erosão costeira

Alto

Sesimbra

Romano

Cetária

Sesimbra - Rua da Fortaleza

32473

Galgamento e inundação

Alto

Sesimbra

Moderno

Muralha

Sesimbra - Muralha

32466

Galgamento e inundação

Alto

Setúbal

Neo-Calcolítico

Cetária

Cambezes

465

Galgamento e inundação

Alto

Setúbal

Neolítico; Mesolítico

Habitat

Praia de Galápos

5553

Galgamento e inundação

Alto

Sines

Mesolítico; Paleolítico

Est. Ar livre

Foz da Ribeira de Morgavel

3191

Erosão costeira

Alto

Sines

Mesolítico; Paleolítico Superior

Est. Ar livre

Praia do Norte

18940

Erosão costeira

Alto

Sines

Moderno; Neo-Calcolítico

Marco

Monumento de S. Torpes

12552

Erosão costeira

Alto

Sintra

Paleolítico Médio

Achado(s) Isolado(s)

Praia de São Julião

4029

Galgamento e inundação

Alto

Viana do Castelo

Medieval Cristão

Salina

Lumiar

311

Erosão costeira

Alto

Vila do Conde

Idade do Ferro

Povoado Fortificado

São Paio

3560

Erosão costeira

Alto

Vila Nova de Gaia

Paleolítico

Est. Ar livre

Lavadores

4614

Erosão costeira

Alto

Vila Nova de Gaia

Romano

Inscrição

Tartomil

15514

Erosão costeira

Alto

Vila Nova de Gaia

Paleolítico

Est. Ar livre

Praia da Aguda

33370

Erosão costeira

Alto

Cascais

Calcolítico; Idade do Bronze; Romano

Achado(s) Isolado(s)

Guincho Norte

8140

Erosão costeira

Baixo

Mafra

Romano; Medieval; Moderno; Contemporâneo

Achado(s) Isolado(s)

O Poço

39394

Galgamento e inundação

Baixo

Odemira

Neolítico

Povoado

Praia das Galés 1 / Naus

6909

Erosão costeira

Baixo


Quadro AI – Sítios arqueológicos em risco por concelho (continuação).

Table AI – Archaeological sites at risk by municipality (continuation).

Concelho

Cronologia

Tipologia

Topónimo

IPPC nºCNS

Risco

Critério risco

Odemira

Mesolítico

Est. Ar livre

Praia do Malhão / Cruzes

11049

Erosão costeira

Baixo

Peniche

Moderno

Fortificação

Forte da Praia da Consolação

36829

Erosão costeira

Baixo

Peniche

Contemporâneo

Fortificação

Entricheiramento de São Miguel

38595

Erosão costeira

Baixo

Sintra

Calcolítico

Vestígios Diversos

Adraga

19456

Galgamento e inundação

Baixo

Sintra

Romano; Medieval Islâmico

Santuário

Alto da Vigia

19458

Erosão costeira

Baixo

Esposende

Romano; Contemporâneo

Vestígios Diversos

Praia do Ribeiro de Peralta

23560

Erosão costeira

Medio

Nazaré

Paleolítico Superior

Est. Ar Livre

Praia do Norte I

33158

Erosão costeira

Medio

Odemira

Mesolítico

Est.Ar livre

Nascedios

11050

Erosão costeira

Medio

Odemira

Mesolítico; Paleolítico

Est.Ar livre

Foz do Mira

10976

Erosão costeira

Medio

Setúbal

Indeterminado

Habitat

Serra da Cela (Portinho da Arrábida)

8145

Galgamento e inundação

Medio

Setúbal

Romano

Vestígios Diversos

Chã da Anixa

33855

Galgamento e inundação

Medio

Sintra

Idade Média

Povoamento

Mazanária

19461

Erosão costeira

Medio

Torres Vedras

Mesolítico

Est.Ar livre

Ponta da Vigia

5869

Erosão costeira

Medio

Figueira da Foz

Romano; Idade Média; Moderno; Contemporãneo

Fortificação

Forte de Santa Catarina

36337

Galgamento e inundação

Médio

Sesimbra

Moderno; Contemporâneo

Fortificação

Sesimbra - Fortaleza de Santiago

33902

Galgamento e inundação

Médio


1Recebido: 01/07/2024. Aceite: 27/11/2024. Publicado: 04/12/2024.

Laboratório de Arqueologia e Conservação e Património Subaquático, Instituto Politécnico de Tomar, Estrada da Serra, nº13, 2300- 313, Tomar, Portugal. E-mail: alexfiga@ipt.pt, martinville_sj@hotmail.fr

2 Centro de Investigação de GeoCiências, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal.

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