Do enfeite à festa: o uso do bordado como narrativa, ação e engajamento em duas festas tradicionais brasileiras

Autores

  • Thaís Fernanda Salves de Brito Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, PPGAP/Mesclas/Cecult; Universidade de São Paulo, Coletivo Asa/FFLCH, Brasil, thaisbrito@ufrb.edu.br

Resumo

A cultura dos bordados materializa um saber-fazer que tem atravessado séculos e lugares, revelando modelos de trabalho doméstico, ensinando perspectivas de gênero, atributos morais nas artes da criação e, em certos momentos, caminhos para ação política. Bordar é uma ornamentação nos tecidos a partir de linhas que trazem volumetria e cor, cujos riscos partem de um repertório amplo e criativo de técnicas e de usos que narram histórias, memórias, conhecimentos. Como parte deste extenso repertório, há uma modalidade específica de bordado: o richelieu. Este bordado é feito por uma espécie de jogo entre a volumetria das linhas sobre o tecido e dos recortes feitos nos tecidos, assemelhando-os às rendas. O bordado richelieu compõe uma longa tradição na transmissão do saber-fazer e nos modos de uso das peças e, para a cultura do bordado, assume papel de elegância, tradição e sofisticação. Contudo, um olhar mais atento pode nos conduzir a outras potências (inclusive, podem transcender o seu caráter ornamental). A presente investigação parte de um olhar comparativo para duas festas tradicionais do nordeste brasileiro, nas quais o bordado richelieu assume um lugar de destaque: a festa de Sant’Anna (Caicó, RN) e a festa de Nossa Senhora da Purificação (Santo Amaro, BA). Aparentemente inofensivos, no contexto dessas festas, esses bordados transpõem a noção de souvenirs, enfeites para a casa ou indumentária, conduzindo discursos, narrativas e posicionamentos políticos imprevisíveis.

Downloads

Publicado

2023-07-19

Edição

Secção

Dossier