“Entre predadores”: o lugar dos humanos, do lince ibérico e de outros carnívoros selvagens
Resumo
Seguindo uma abordagem etnoecológica, estudámos as perceções e classificações empíricas e práticas sobre os predadores selvagens em áreas protegidas portuguesas. Em 131 entrevistas semiestruturadas analisámos os processos de classificação, os critérios usados por atores-chave e a compreensão de uma perspetiva émica sobre a diferenciação do mundo natural. Uma análise de conteúdo e dados de observação indicam um conhecimento ecológico local associado às características biológicas dos carnívoros. Memórias sobre a coexistência com lobo e lince no Baixo Alentejo são descritas. Os humanos são reconhecidos como um entre os predadores numa perspetiva complexa e aparentemente dualista dos domínios doméstico e selvagem. O lince ibérico, espécie ameaçada, suscita particular interesse localmente à medida que a sua reintrodução se processa e passa de “intruso” a objeto de turistificação. Este estudo de caso caracteriza o cenário “entre predadores” num contexto rural europeu em que a conservação da natureza encara desafios e a Antropologia oferece uma oportunidade de aplicabilidade interdisciplinar.