Um político, Fontes Pereira de Melo
DOI:
https://doi.org/10.31447/AS00032573.1997143.01Palavras-chave:
Fontes Pereira de Melo, fontismo, obras públicas, actos eleitorais, RegeneraçãoResumo
Para a maior parte dos portugueses, Fontes Pereira de Melo foi um político que deu lugar a um período, o fontismo, caracterizado por urna política centrada na «demagogia» das obras públicas e na «corrupção» dos actos eleitorais. Esta imagem, criada em grande medida pela geração de 1870, acabou por chegar quase intacta aos nossos dias. Mas este grupo não era constituído por um núcleo de sociólogos que analisavam friamente uma época remota. As suas obras têm de ser consideradas em contexto. É verdade que as eleições decorriam de forma peculiar; é verdade que os políticos eram caricatos; é verdade que a oratória oficial era grotesca; é verdade que no país havia miséria, analfabetismo, opressão; é verdade que Fontes era arrogante. Para a grande maioria dos portugueses, contudo, a memória do que acontecera durante a primeira metade do século estava ainda suficientemente próxima para que se sentissem gratos pela Regeneração. Fontes sonhou governar um país rico e liberal. Do ponto de vista económico, os entraves eram colossais. Politicamente, não eram menores. Segundo os princípios, o rei apenas deveria reinar. Perante a ausência de um mecanismo político que assegurasse a alternância, era ele quem efectivamente escolhia os governos. As eleições eram supostamente a chave do regime. Mas num país pobre os eleitores eram pressionáveis. O pariato hereditário era essencial numa monarquia liberal. Mas em Portugal a nobreza fundiária deixara de existir. Sem eleitorado, sem nobreza, sem partidos, o regime teria de funcionar, como funcionou, de forma peculiar.