A vida partidária portuguesa nos primeiros anos da Regeneração
DOI:
https://doi.org/10.31447/AS00032573.1997143.02Palavras-chave:
partidos políticos, constitucionalismo monárquico português, Regeneração, imprensa partidária, representações parlamentares partidáriasResumo
O presente artigo pretende realizar uma incursão no domínio da história dos «partidos» políticos do constitucionalismo monárquico português. Subdividido em duas partes, o texto começa por traçar um quadro genérico descritivo da realidade partidária portuguesa durante a Regeneração, recenseando os principais traços dos chamados «partidos de notáveis»: prioridade centrada na luta eleitoral e parlamentar, e não na mediação entre o colectivo da sociedade e a esfera do governo; organização interna geralmente rudimentar e informal; fluidez dos conteúdos programáticos; disciplina e unidade internas ténues; aposta numa lógica personalista e fechada de caciquismo, com o fito de autopreservar no restrito círculo do poder uma também restrita elite de notáveis. Seguidamente, e traçado este contexto genérico que recobre todo o período regenerador, o artigo procura fornecer algumas indicações acerca das especificidades detectáveis na vida partidária dos anos iniciais da Regeneração (sensivelmente a década de 1850), contrapostas às inovações que a cristalização do modelo rotativista iria introduzir, e ainda assim com limitações, a partir dos anos 70. A investigação centrou-se na reconstituição da história organizativa e programática das «parcialidades« que ocuparam a cena política portuguesa nos primeiros anos da Regeneração: o chamado «partido nacional» progressista anticabralista, a «dissidência progressista histórica» (rebaptizada com Partido Histórico a partir da clarificação político-partidária do Verão de 1856), os «progressistas regeneradores» (futuro Partido Regenerador também a partir de 1856), o Partido Cartista (internamente subdividido entre a facção «cabralista», a facção «avilista» e o aventureirismo de José Bernardo da Silva Cabral) e, finalmente, o Partido Legitimista, activo interveniente nas contendas eleitorais da segunda metade da década de 1850. Na segunda parte do texto estabelece-se também um quadro da imprensa partidária mais relevante da década de 1850, procurando-se detectar a ligação de cada parcialidade política aos principais órgãos de opinião escrita que então se publicavam. A finalizar, o artigo recorda ainda, como fronteira cronológica do período regenerador, os sinais que, a partir da década de 1870, marcarão a evolução dos partidos monárquicos para uma maior consistência e estabilidade organizativas, salientando as novidades trazidas pelo Partido Progressista, fundado em 1876, e a incidência que o estabelecimento de um modus vivendi rotativista teve na maior arrumação das representações parlamentares partidárias.