Análise geográfica do transporte de mercadorias nos caminhos-de-ferro portugueses (1870-1910)

Resumo

Depois de situado o tema deste artigo na estrutura da dissertação de onde foi extraído, e referidos os fundamentos teóricos e metodológicos essenciais para uma apreciação do transporte de mercadorias, faz-se uma apreciação global da evolução e da composição do tráfego, a que se segue o estudo da organização dos fluxos no território nacional; para concluir, tenta-se uma primeira relação entre produção e comercialização por via férrea para algumas mercadorias do sector primário. A respeito da organização dos fluxos - aspecto geográfico até agora mal conhecido - algumas conclusões. Sem se pôr em causa que a construção de vias férreas foi um factor de desenvolvimento do mercado interno, o objectivo mais imediato não foi esse, mas o incremento das relações comerciais internacionais. Aquele resultado, alcançado tardiamente, teve tradução espacial diferenciada: enquanto as áreas que se alinham ao longo do eixo Lisboa-Porto e, especialmente, as mais próximas destes dois núcleos urbanos e portuários, encontraram no caminho-de-ferro o veículo de que já necessitavam para expedir e receber mercadorias (nacionais e estrangeiras), a integração de outros espaços no comércio a média e longa distância foi lenta e diminuta. O acréscimo (verificado) das relações inter-regionais faz-se no sentido do aumento da dependência da região de Lisboa (ou da do Porto), principalmente no que diz respeito às expedições; para os aprovisionamentos, a dependência foi afrouxando, pelo menos no Alto Alentejo interior, espaço estudado com mais pormenor. A relação directa, tantas vezes afirmada, entre construção da nova rede de transportes e desenvolvimento do mercado interno é imprudente, porque as ligações são mais complexas, como se procurou demonstrar.