Tratamento de Corpos Estranhos Intra-Oculares no Segmento Posterior: Análise de 10 Anos de Vida Real

Autores

  • Catarina Xavier chlcServiço de oftalmologia do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa, Portugal
  • Rita Serras Pereira Serviço de oftalmologia do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa, Portugal
  • Afonso Murta Serviço de oftalmologia do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa, Portugal
  • João Branco Serviço de oftalmologia do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa, Portugal

DOI:

https://doi.org/10.48560/rspo.25270

Palavras-chave:

Corpos Estranhos no Olho/complicações, Endoftalmite, Ferimentos Oculares Penetrantes/complicações, Vitrectomia

Resumo

INTRODUÇÃO: Os traumatismos com corpos estranhos intraoculares (CEIO) podem ter complicações graves, como descolamento de retina e endoftalmite, que podem afetar muito o prognóstico visual. A vitrectomia via pars plana (VPP) é a técnica mais utilizada para remover CEIO do segmento posterior. O objetivo deste estudo foi avaliar os resultados do tratamento dos CEIO no segmento posterior num centro terciário de oftalmologia.

MÉTODOS: Incluíram-se os doentes com traumatismo ocular penetrante associado a CEIO retido no segmento posterior que foram submetidos a VPP para extração do CEIO entre 2010 e 2020. Os dados foram colhidos dos processos clínicos dos doentes.

RESULTADOS: Foram incluídos 38 doentes com idade média de 48,68 anos, 86,8% eram do sexo masculino. Foram à urgência no dia do acidente 59,5%, mas 16,2% demoraram 3 dias ou mais recorrer ao hospital. As complicações mais comuns ao exame inicial foram catarata traumática (52,6%), lesões retinianas (34,2%) e hifema (23,7%). Além disso, antes da extração do CEIO, 42,1% dos doentes desenvolveram endoftalmite. Foi administrado antibiótico sistémico a 84,2% dos doentes e 71,1% receberam antibióticos intravítreo. Comparando os 15,8% dos olhos que acabaram por desenvolver phthisis bulbi com os restantes, a única diferença estatisticamente significativa (p <0,01) foi o tempo entre o primeiro contato oftalmológico e a VPP, que foi superior no grupo com phthisis bulbi. O desenvolvimento de endoftalmite não teve relação com maior tempo para VPP, nem com o uso ou não de antibióticos intravítreos ou sistémicos.

CONCLUSÃO: A maioria de nossos doentes teve traumatismos em contexto agrícola, que geralmente dão origem a feridas mais sujas e CEIO provavelmente contaminados. Isto pode justificar a nossa taxa elevada de 42% de endoftalmites (que está, no entanto, dentro do descrito na literatura). Apesar dos avanços nos sistemas de visualização, equipamentos e materiais para cirurgia vitreorretiniana, o traumatismo penetrante com CEIO ainda apresenta um prognóstico muito mau em termos de função visual.

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Referências

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Publicado

2022-06-30

Como Citar

Xavier, C., Serras Pereira, R., Murta, A., & Branco, J. (2022). Tratamento de Corpos Estranhos Intra-Oculares no Segmento Posterior: Análise de 10 Anos de Vida Real. Revista Sociedade Portuguesa De Oftalmologia, 46(2), 94–98. https://doi.org/10.48560/rspo.25270

Edição

Secção

Artigos Originais