Avaliação Completa da Superfície Ocular num Coorte Pediátrico Português

Autores

  • João Heitor Marques Serviço de Oftalmologia, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal; Departamento de Biomedicina – Unidade de Anatomia, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Porto, Portugal https://orcid.org/0000-0001-6487-7950
  • André Ferreira Serviço de Oftalmologia, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal; Departamento de Biomedicina – Unidade de Anatomia, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Porto, Portugal
  • Catarina Castro Serviço de Oftalmologia, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal
  • Ana Marta Serviço de Oftalmologia, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal
  • Diana José Serviço de Oftalmologia, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal
  • Paulo Sousa Serviço de Oftalmologia, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal
  • Isabel Neves Serviço de Oftalmologia, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal
  • Pedro Méneres Serviço de Oftalmologia, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal; Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, Porto, Portugal
  • Irene Barbosa Serviço de Oftalmologia, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal; Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, Porto, Portugal

DOI:

https://doi.org/10.48560/rspo.25883

Palavras-chave:

Criança, Piscadela, Queratoconjuntivite Seca, Síndromes de Olho Seco

Resumo

INTRODUÇÃO: Existem poucos estudos publicados sobre doença do olho seco (DOS) no grupo etário pediátrico e os que existem foram realizados fora da Europa, onde os fatores genéticos e ambientais poderão ser diferentes. Além disso, o estudo da superfície ocular e, consequentemente, o diagnóstico da DOS cada vez mais tendem para métodos objetivos e padronizados. O objetivo primário desde trabalho foi descrever, de forma automatizada, a superfície ocular de indivíduos portugueses saudáveis em idade pediátrica. O objetivo secundário foi avaliar como o uso de dispositivos eletrónicos, hábitos de esfregar os olhos e posição preferencial a dormir po- dem influenciar a superfície ocular dessa população.

MÉTODOS: Estudo prospetivo transversal que incluiu indivíduos saudáveis com idade com- preendida entre os 8 e os 18 anos. Os critérios de exclusão foram doenças ou tratamentos sistémicos associados a alterações oftalmológicas, doenças oculares ou palpebrais (tais como: diagnóstico prévio de DOS, disfunção das glândulas de Meibomius, conjuntivite de qualquer tipo, mas não erro refrativo), uso de lentes de contacto ou de qualquer tipo de colírio. O protocolo de estudo compreendeu, do menos para o mais invasivo: um questionário validado para DOS (OSDI-6); avaliação com o IDRA® Ocular Surface Analyzer, medição da osmolaridade lacrimal, produção lacrimal basal (PLB) com tiras de Schirmer após anestesia tópica e avaliação de epiteliopatia corneana fluoropositiva (ECF).

RESULTADOS: Foram incluídos para análise 142 olhos de 72 participantes com idade 14,2 ± 2,6 [8,8-18,6] anos. Sintomas de DOS estavam presentes em 35%: o sintoma mais frequente foi prurido (30%), seguido de lacrimejo (9%) e desconforto ou secura (7%). O OSDI-6 foi sugestivo de DOS em 54%. Algum grau de ECF estava presente em 51% e o diagnóstico formal de DOS em 49% de acordo com os critérios da TFOS DEWS II. ECF não estava associada a sintomas (p=0,063) e 46% dos participantes sem sintomas tinham algum grau de ECF. Observou-se uma correlação negativa entre o tempo diário de utilização dedispositivos eletrónicos e a qualidade do pestanejo (r=-0,218; p=0,009), PLB (r=-0,255; p=0,002) e o tempo de rotura do filme lacrimal (NIBUT, r=-0,169; p=0,045), mesmo após corrigir para possíveis confundidores. A presença de CFS estava associada a maior tempo diário de utilização de dispositivos eletrónicos.Participantes que referiam sintomas tiveram melhor qualidade de pestanejo (p<0,001). A PLB estava diminuída nos olhos com ECF (p<0,001), mas não se observaram diferenças na osmolaridade, NIBUT, qualidade de pestanejo, espessura da camada lipídica da lágrima, área de perda de glândulas de Meibomius ou na altura do menisco lacrimal (p>0,110). Não se observaram diferenças consoante o hábito de esfregar os olhos ou posição preferencial a dormir (p>0,098).

CONCLUSÃO: Numa amostra de crianças saudáveis, a prevalência de DOS foi cerca de 50%. A qualidade do pestanejo, a produção lacrimal aquosa e a estabilidade lacrimal parecem estar afetadas pelo uso excessivo de dispositivos eletrónicos. A integridade funcional da superfície ocular depende também do reflexo do pestanejo que, por sua vez, parece estar mais defeituoso em indivíduos sem sintomas e provavelmente com somastesia diminuída. A imprescindibilidade de sintomas para o diagnóstico de DOS poderá ser reconsiderada neste grupo etário, visto não ser necessariamente patológica. Muitos indivíduos têm sinais objetivos de olho seco, sem sintomas, o que por sua fez agrava a dinâmica do pestanejo e dificulta uma resposta neurotrófica adequada. Em conclusão emlinguagem acessível, as crianças e os seus pais podem ser informados que o tempo de utilização de dispositivos eletrónicos afeta os olhos, independentemente da presença de queixas.

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Publicado

2023-09-28

Como Citar

Marques, J. H., Ferreira, A., Castro, C., Marta, A., José, D., Sousa, P., Neves, I., Méneres, P., & Barbosa, I. (2023). Avaliação Completa da Superfície Ocular num Coorte Pediátrico Português. Revista Sociedade Portuguesa De Oftalmologia, 47(3), 192–199. https://doi.org/10.48560/rspo.25883

Edição

Secção

Artigos Originais