Impacto da pandemia por COVID-19 nos doentes submetidos a cirurgia de glaucoma: um estudo comparativo de 3 anos

Resumo

INTRODUÇÃO: A pandemia por COVID-19 forçou uma reorganização dos sistemas de saúde de forma a providenciar cuidados de saúde a doentes infetados pelo novo coronavírus. Os departamentos de oftalmologia foram obrigados a reduzir procedimentos eletivos com a mobilização de recursos para fins não oftalmológicos. Este estudo tem como objetivo principal descrever o volume de cirurgia de glaucoma durante período pandémico e comparar com o período pré e pós pandémico.
MÉTODOS: Foi realizado um estudo retrospetivo no Hospital Pedro Hispano, Portugal, onde foram colhidas informações, a partir dos processos clínicos dos doentes, relativamente às características das cirurgias de glaucoma realizadas e à caracterização demográfica e clínica dos doentes submetidos às mesmas durante um período de 3 anos, de 18 de março de 2019 a 17 de março de 2022. A caracterização demográfica incluiu a idade e o género. No que concerne a caracterização clínica, foram incluídos o tipo de glaucoma, cirurgia de glaucoma realizada e tipo de anestesia, estadio do glaucoma com base no Advanced Glaucoma Intervention Study (AGIS) visual score, em dB, e pressão intraocular (PIO) pré procedimento, em mmHg. Os parâmetros principais considerados para análise consistiram no desvio médio (MD), PIO pré procedimento e o número de cirurgias realizado. O tipo de cirurgia realizada foi considerado parâmetro secundário. Foram analisados e comparados 3 grupos: o período pandémico (entre 18 de março de 2020 e 17 de março de 2021), período pré-pandémico (período homólogo em 2019/2020) e período pós-pandémico (período homólogo em 2021/2022)
RESULTADOS: O número total de cirurgias de glaucoma realizadas durante o período pandémico foi similar ao período pré pandémico, tendo sido realizadas 79 e 78 cirurgias de glaucoma respetivamente. No período pós-pandémico foram realizadas 115 cirurgias, resultando num aumento de 45,6% no número total de cirurgias de glaucoma realizadas no nosso centro relativamente ao período pandémico. Durante o primeiro trimestre do período pandémico foi verificada uma diminuição de 36% no número total de cirurgias realizadas em relação ao mesmo período do ano prévio, havendo um incremento gradual do número de cirurgias realizado nos restantes trimestres do período em questão. O valor médio de PIO pré procedimento foi de 23,8 (± 9,26) mmHg durante o período pandémico, resultando numa variação de +0,42% em relação ao periodo pré pandémico, com um valor médio de PIO de 23,7 (± 10,1) mmHg (p=0,475). A variação entre o período pós-pandémico, com um valor médio de 24,6 (±9,5) mmHg, e o período pandémico resultou num aumento de +3,25% no valor médio de PIO pré procedimento (p=0,638). O valor de p foi considerado estatisticamente significativo se p<0,05. Relativamente ao estadio do glaucoma, o MD médio dos doentes submetidos a cirurgia de glaucoma durante o período pandémico foi -14,1 dD, com uma variação de -1,42% em relação ao período pré-pandémico (p= 0,796), relativamente à variação do MD entre o grupo pós-pandémico e o grupo pandémico obtivemos um valor de -2,76% (p=0,813).
CONCLUSÃO: O número total de cirurgias realizadas no nosso centro durante o período pandémico foi semelhante ao período pré-pandémico. Não foi observada diferença estatisticamente significativa entre PIO média e MD pré procedimento dos doentes submetidos a cirurgia de glaucoma durante o período pandémico em comparação com o período pré ou pós pandémico É possível concluir que, apesar da forte pressão sentida pelos sistemas de saúde durante o período pandémico, não foram registadas alterações significativas na gestão de doentes com patologia glaucomatosa com indicação cirúrgica.