Goniopunção Após Esclerectomia Profunda Não Penetrante: Muito Precoce ou Muito Tardia
DOI:
https://doi.org/10.48560/rspo.37647Palavras-chave:
Cirurgia Filtrante, Esclerostomia, Glaucoma/cirurgia, Lasers de Estado Sólido, Mitomicina, TrabeculectomiaResumo
INTRODUÇÃO: A esclerectomia profunda não penetrante é uma cirurgia de glaucoma não penetrante com interesse crescente. O procedimento cria uma nova via de drenagem do humor aquoso, preservando a integridade da câmara anterior. Se a pressão intraocular satisfatória não for alcançada, a goniopunção com laser de neodímio-tírio-alumínio-granada no pós-operatório pode restabelecer a drenagem do humor aquoso através da membrana trabéculo-Descemet. Embora seja considerada segura, algumas complicações, como o encarceramento da íris, já foram descritas. O objetivo deste estudo é investigar a eficácia e segurança da goniopunção na redução da pressão intraocular após cirurgia e determinar se o momento do procedimento, precoce ou tardio, influencia os resultados.
MÉTODOS: Neste estudo retrospetivo, foram analisados os doentes submetidos a goniopunção após esclerectomia profunda na Unidade Local de Saúde de Matosinhos entre julho de 2015 e julho de 2022. Foram registadas variáveis demográficas, tipo de glaucoma, cirurgia prévia de facoemulsificação, pressão intraocular, melhor acuidade visual corrigida, número de medicamentos para o glaucoma, tempo entre cirurgia e goniopunção, número de goniopunções realizadas, sucesso e complicações pós-goniopunção. O seguimento foi de dois anos.
RESULTADOS: De 220 olhos submetidos a esclerectomia profunda, a goniopunção foi realizada em 56 olhos (25,45%) de 56 doentes, com um intervalo mediano de 4,50 (11) meses. A goniopunção precoce (≤3 meses após a cirurgia) foi realizada em 27 olhos (48,2%) e a tardia (>3 meses após a cirurgia) em 29 olhos (51,8%). A taxa de sucesso foi de 75% (n=42). A pressão intraocular apresentou uma redução significativa de 22,34±6,15 mmHg antes da goniopunção para 12,73±4,68 mmHg imediatamente após o procedimento (p<0,001) e 14,57±3,67 mmHg aos 24 meses (p<0,001). Não foi encontrada diferença significativa na taxa de sucesso entre a goniopunção precoce e a tardia (74,1% vs 75,9%, p=0,880). A complicação mais comum foi o encarceramento da íris (n=5, 8,9%), seguida da hipotonia (n=2, 3,6%). Na última avaliação, observou-se uma redução significativa no número médio de medicamentos (0,84±0,16, p<0,001).
CONCLUSÃO: A goniopunção mostrou-se eficaz na redução da pressão intraocular a longo prazo, sem diferença significativa entre procedimentos precoces ou tardios. Embora seguro, o procedimento pode causar complicações, como encarceramento da íris, o que justifica um seguimento rigoroso.
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