Gestão das Primeiras Consultas em Oftalmologia: Análise dos Resultados
DOI:
https://doi.org/10.48560/rspo.38378Palavras-chave:
Oftalmologia, Referenciação e Consulta, Triagem, Cuidados de Saúde Primários, PortugalResumo
INTRODUÇÃO: As primeiras consultas de oftalmologia, referenciadas pelos médicos de família (MF), colocam uma pressão significativa nos serviços. Existe pouca informação sobre os principais diagnósticos e outcomes destas primeiras consultas em Portugal. Este estudo visa descrever os padrões de referenciação e os desfechos das primeiras consultas no serviço de Oftalmologia da Unidade Local de Saúde de Entre o Douro e Vouga.
MÉTODOS: Dois médicos analisaram referenciações e primeiras consultas realizadas durante os primeiros cinco meses de 2023. Foram recolhidas informações demográficas, justificações para referenciação e registos de consulta. Os motivos foram categorizados e os diagnósticos estratificados de acordo com as categorias do ICD-10. As consultas foram classificadas com base nos outcomes.
RESULTADOS: Foram analisados 4917 pares referenciação-consulta, com 207 excluídos por dados incompletos. As principais razões de consulta foram a diminuição crónica da acuidade visual (65,2%), o rastreio de retinopatia diabética (11,6%) e o desconforto ocular (4,9%). Cerca de 58,8% (n=2892) das consultas resultaram em alta, 22,2% em cirurgia, 11,1% em referenciação para subespecialidade e 4,2% em seguimento. Dos pacientes com alta, 50,3% receberam uma nova refração, 32,6% não tiveram intervenção específica e os restantes receberam lubrificação, tratamento médico ou instruções de vigilância. A cirurgia mais comum foi a de catarata (69,4%) e as subespecialidades mais referenciadas foram glaucoma (21,5%) e retina médica (20,4%). Existiu uma percentagem considerável de dados incompletos (3,2%) e de consultas duplicadas (0,7%).
CONCLUSÃO: Este estudo oferece uma nova perspetiva sobre os padrões de primeiras consultas de oftalmologia em Portugal. A maioria dos casos referenciados é de baixa gravidade, passível de gestão conservadora. Refletir sobre o papel do MF no processo de referenciação é essencial, considerando a carga de consultas nos cuidados primários que são destinadas à referenciação hospitalar. Novas estratégias de triagem são importantes para reduzir as referenciações desnecessárias, garantindo que apenas aqueles que necessitam de cuidados especializados sejam encaminhados. Isto reduziria a carga de trabalho dos MF, criaria um sistema mais eficiente e melhoraria o acesso aos cuidados de saúde ocular.
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