Casal da Boba: Aproximações à doença e saúde mental I - Caracterização dos utentes e dos cuidados psiquiátricos
DOI:
https://doi.org/10.25752/psi.3477Palavras-chave:
Psiquiatria Comunitária, Saúde Mental, Competência Cultural, Áreas de Pobreza, Saúde das Minorias, Psicose, ResiliênciaResumo
Introdução: A Psiquiatria Comunitária tem como missão a prestação eficaz de cuidados de saúde mental às populações, tendo em conta as suas necessidades e enquadramento cultural, por forma a garantir a acessibilidade e tratamento a todas as comunidades, nomeadamente aquelas que se encontrem mais vulneráveis. No âmbito de uma intervenção comunitária em Saúde Mental num bairro de realojamento, o Casal da Boba, pretendemos com este artigo caracterizar essa população de utentes e os cuidados efectivamente prestados pela Equipa de Psiquiatria Comunitária local.
Métodos: Revisão dos processos activos e passivos de utentes da consulta externa da Equipa Comunitária da Brandoa por arruamentos do Casal da Boba, e sua caracterização socio-demográfica e clínica.
Resultados: Em 14 anos de actividade da equipa, 52% dos doentes residentes no bairro inscritos na consulta da Brandoa foram diagnosticados com psicoses crónicas afectivas e não afectivas. A maioria dos utentes esteve sob medidas de tratamento compulsivo, encontrando-se medicados com terapêutica depot, e beneficiando de visitas domiciliárias. Não foram diagnosticadas de forma significativa outras patologias, e a maioria dos casos seguidos foram referenciados para a Equipa através do Serviço de Urgência.
Conclusões: A equipa de Psiquiatria segue o número esperado de utentes com patologias psicóticas crónicas afectivas e não afectivas, ainda que mais graves e disruptivas do que na restante população daquela consulta, mas desconhece-se quais as estratégias locais adoptadas para as restantes patologias (se institucionais, se informais). O tipo de tratamento oferecido e as vias de acesso, ainda que tradutoras de um investimento capital da equipa nestes utentes, podem estar relacionadas com a situação de fragilidade da comunidade em causa, a requerer melhor caracterização futura (com parceiros locais e cuidados de saúde primários).
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