Um déficit crónico na balança alimentar de Portugal de Antigo Regime: maldição ou mito?
DOI:
https://doi.org/10.31447/AS00032573.2017223.07Palavras-chave:
déficit alimentar, agricultura, comércio externo, PortugalResumo
Duas correntes historiográficas têm debatido se Portugal, durante o período moderno, se confrontou com a maldição de uma crónica dependência de importação de bens agrícolas para satisfazer as necessidades alimentares básicas da população. Neste artigo, que é uma primeira tentativa de estimar na longa duração uma balança alimentar, mostra-se que essa dependência é um mito, pelo que não seria uma maldição. Ao longo do período moderno, entre 1550 e 1850, certas quantidades de cereais foram, na verdade, importadas regularmente, mas tais importações não corresponderam a uma parte relevante do consumo doméstico. Alem disso, e ainda mais significativo, verifica-se que o reino desenvolveu um comércio diversificado de bens agrícolas que equilibrou as importações. Daqui se conclui que a agricultura portuguesa foi suficientemente dinâmica para desenvolver uma especialização em diferentes bens alimentares para exportação. Não seria, portanto, irremediavelmente ineficiente; e foi razoavelmente capaz de responder às necessidades alimentares da população.