“Por que você veio encher o pandulho aqui?” Os portugueses, o antilusitanismo e a exploração das moradias populares no Rio de Janeiro da República Velha
DOI:
https://doi.org/10.31447/AS00032573.1994127.08Palavras-chave:
antilusitanismo, Rio de Janeiro, 1890-1930, relações entre brasileiros e portugueses, problema da habitação, condições de vida e habitaçãoResumo
«Explorar» e «exploração» eram verbo e substantivo básicos para o entendimento da formação do antilusitanismo na cidade do Rio de Janeiro durante a chamada República Velha (1890-1930). Os portugueses eram considerados «exploradores» económicos e os cariocas davam conta do que sentiam bradando pelas ruas contra os lusos. Na vivência das ruas, a «exploração» e o antilusitanismo apareciam sempre ligados à sobrevivência e à reprodução da própria existência. Os portugueses eram proprietários da maioria esmagadora das casas disponíveis para aluguel na cidade. O problema da habitação era bastante sério. Era difícil abrigar o número de cariocas e de migrantes que continuamente chegavam de todos os cantos do país e do exterior. Juntavam-se a isto os salários mirrados da população. A solução era mesmo amontoar-se em habitações coletivas, que nem por isso eram tão baratas. Excesso de gente e poucas moradias: realidade que conferia aos proprietários o poder de cobrarem o quanto quisessem, de aumentarem continuamente os aluguéis, e mesmo de despejarem os inquilinos pela força, numa época em que não existiam leis reguladoras dos contratos, em geral verbais. No início do século XX, com o «bota-abaixo» do governo Pereira Passos, a situação piorou e a população pobre foi sendo expulsa, aos poucos e violentamente, do centro da cidade ou subindo os morros das adjacências, na tentativa de permanência na proximidade dos empregos. Os anos da República Velha foram passando e arrastando consigo o drama de milhares de cariocas que moravam mal ou não tinham para onde ir depois da jornada de trabalho. Este trabalho propõe-se analisar as relações entre brasileiros e portugueses e a construção do antilusitanismo como preconceito social, que circulava por toda a sociedade e tinha como um dos palcos de atuação preferidos as habitações populares. Perceber como aquele antilusitanismo se construiu a partir das condições de vida e moradia, e como foi utilizado como forma de controle social das elites dirigentes do Estado e de resistência da população pobre, é um fator fundamental para a compreensão da configuração da cidade e de suas políticas habitacionais e de controle do agente produtor ao longo do século XX.