Da opacidade à luminosidade imagética: as interfaces do muro
Palavras-chave:
paisagem urbana, graffiti, apropriação, espaço públicoResumo
O muro é uma manifestação física dos processos segregadores históricos, sociais, políticos e econômicos, mas também se reveste de inúmeras subjetividades ligadas à individualização crescente da sociedade. Por sua complexidade, o muro é uma barreira que apresenta faces e interfaces integrantes de uma mesma estrutura, mas que possuem singularidades e impactos diferenciais no espaço público. Ao compreender os cercamentos como elementos à deriva que são passíveis à mutação, o graffiti é evocado enquanto uma prática artística que pode ativar e aprimorar as interfaces do muro em áreas urbanas. O objetivo deste trabalho é apresentar as potencialidades do graffiti na ativação da interface do muro com o espaço público, articulado a partir de ações coletivas. Para isso, se apresenta uma análise de caso brasileiro na região periférica de Campinas- São Paulo, apoiada por revisão sistemática de literatura e um mapeamento de observação. O graffiti criou ambiências acolhedoras nos locais onde foi executado e estimulou outras dinâmicas de uso e apropriação destes espaços, ressignificando parcelas do bairro no sentido da territorialização e pertencimento. Os resultados indicam possibilidades e pistas de incentivo às práticas de apropriação, vislumbrando um caminho de maior vitalidade das cidades contemporâneas, principalmente em regiões carentes de infraestrutura e de equipamentos comunitários. A identidade local é valorizada na medida que o espaço e a paisagem urbana são qualificados e passam a ser instrumentos de afirmação de que o espaço em disputa pertence e é de direito de cada cidadão.
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