Portugal e o regresso dos colonos de Angola e Moçambique
Resposta governativa e memória
Palabras clave:
retornados, fim do império colonial português, retorno, políticas de integração, memóriaResumen
Após a Revolução dos Cravos, Portugal viu-se confrontado com um movimento migratório sem precedentes na sua história: mais de meio milhão de colonos chegaram à antiga metrópole no decurso de 1975. Se o evento de per se não foi invulgar, a inscrever-se no quadro dos repatriamentos iniciados pelas outras ex-potências imperiais a seguir à Segunda Guerra mundial, o repatriamento dos portugueses de Angola e Moçambique revestiu, porém, características particulares. Uma destas características foi o contexto interno do país, caracterizado não só por uma grande instabilidade político-social, mas também económica. Neste contexto, a chegada maciça dos ditos “retornados”, representou um desafio suplementar para as autoridades.
A ser o maior fenómeno de regresso conhecido até hoje por Portugal, estudar a resposta governativa desenvolvida naquela altura, justaposta com a experiência e memória dos próprios retornados, permite não só uma contextualização no tempo histórico das atuais medidas governamentais para com os emigrantes, bem como explorar eventuais paralelismos com processos de repatriamento equivalentes.
Baseando-se nas fontes dos organismos estatais criados para implementar estas políticas, bem como nos debates parlamentares, na imprensa da época e no uso da história oral, este artigo opera um cruzamento de fontes que permite ponderar dois discursos dominantes: o discurso oficial, que apresenta o processo de integração dos retornados na sociedade portuguesa como tendo ocorrido sem nenhum sobressalto, ou seja, de maneira exemplar, discurso que denota uma clara influência lusotropicalista; e um discurso de vitimização desenvolvido por uma parte dos retornados, dentro do qual a ideia de abandono da parte das autoridades tem um lugar central.
Citas
Almeida Santos, A. (2006), Quase Memórias. Do colonialismo e da Descolonização. 1° Volume, Cruz Quebrada: Casa das Letras Editorial Notícias.
Barreto, A. (org) (2000), A Situação Social em Portugal 1960-1999, Volume II, Indicadores sociais em Portugal e na União Europeia, Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais.
Castelo, C. (2007), Passagens para África. O Povoamento de Angola e Moçambique com Naturais da Metrópole (1920-1974), Porto: Edições Afrontamento
Delaunay, M. (2021), “The Jornal O Retornado’s readers and the construction of a narrative of the Return from Africa (1975-1976)”, in E. Peralta (Ed), The Retornados from the Portuguese Colonies in Africa, Memory, Narrative, and History, London: Routledge
Delaunay, M. (2020), Le processus d’intégration des retornados au Portugal (1975-2018): analyse comparée avec le cas français des pieds-noirs d’Algérie, Tese de doutoramanto em História Moderna e Contemporânea, Lisboa: ISCTE-IUL.
Delaunay, M. (2019), "La question des retornados dans le débat parlementaire portugais (1975-1976)", Portuguese Studies Review, 27-1, pp.177-199.
Dias, N. (2017), "'A mão esquerda' do estado pós-colonial: o papel do IARN nas dinâmicas de incorporação das populações retornadas", in E. Peralta, B. Góis, J. Oliveira (Eds.), Retornar. Traços de Memória do Fim do Império, Lisboa: Edições 70, pp.121-140
Kalter, C. (2017), "Hotels for Refugees: Colonialism, Migration, and Tourism in Lisbon". Global Urban History. Available at: https://globalurbanhistory.com/2016/03/02/hotels-for-refugees-colonialism-migration-and-tourism-in-lisbon/, viewed on 24/02/2017.
Peralta, E., Delaunay, M., Goís, B. (2020),"Continuidades (Pós-)Coloniais: Racismo, Desigualdade e Cidadania", Caderno Micar, Mostra Internacionalde Cinema Anti-Racista, textos para a 7.a edição, 49-57. Porto: Rainho & Neves.
Pereira, V. (2014), A ditadura de Salazar e a emigração. O Estado portugês e os seus emigrantes em França (1957-1974), Lisboa: Temas e Debates-Círculo de Leitores
Pires, R.P., Delaunay M., Peixoto, J. (2019), "Trauma and the Portuguese Repatriation: A Confined Collective Identity", in Eyerman, R., Sciortino, G. (Eds.), The Cultural Trauma of Decolonization. Colonial Returnees in the National Imagination, Hampshire: Palgrave Macmillan, pp.195-198
Pires, R.P. (2003), Migrações e Integração. Teoria e Aplicações à Sociedade Portuguesa, Oeiras: Celta Editora.
Pires, R.P. et.al (1987), Os Retornados, um estudo sociográfico, Lisboa: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento.
Rocha-Trindade, M. B. (1984), “O regresso imaginado”, Revista Nação e Defesa, Ano VIII;Nº 28, pp.87-97
Rosas, F., Machaqueiro, M., Oliveira, P. A. (Eds.) (2015), O Adeus ao 470 Império. 40 Anos de Descolonização Portuguesa, Lisboa: Nova Vega e Autores.
Scioldo-Zürcher, Y. (2010), Devenir métropolitain, Politiques d'intégration et parcours de rapatriés d'Algérie en métropole (1954-2005), Paris : Éditions EHESS.
Smith, A. L. (org) (2003), Europe's Invisible Migrants, Amsterdam: Amsterdam University Press.
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2022 Morgane Delaunay

Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial-SinDerivadas 4.0.
Cidades, Comunidades e Territórios by DINÂMIA'CET-IUL is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Proibição de realização de Obras Derivadas 4.0 Unported License.Permissions beyond the scope of this license may be available at mailto:cidades.dinamiacet@iscte.pt.