Será a condição de sem-abrigo uma questão de escolha?
Um estudo exploratório realizado nos Açores
DOI :
https://doi.org/10.15847/cct.28721Mots-clés :
condição de sem-abrigo, esclusão social e habitacional, Açores, livre-escolhaRésumé
Uma das questões críticas no debate público em torno da condição de sem-abrigo está associada à perceção, amplamente difundida na Europa, que a maior parte das pessoas que permanecem nesta condição o fazem por fatores de natureza comportamental, do domínio da livre escolha. Argumenta-se que este facto, imputando a responsabilidade do problema no indivíduo, condiciona o debate, assim como as respostas sociais e políticas neste campo. Neste artigo são apresentados e discutidos os resultados de um estudo exploratório centrado nos Açores, assente num quadro metodológico de investigação-ação participativa, que incluiu a combinação de metodologias extensivas e intensivas. Em primeiro lugar, destacamos alguns dados relativos à contagem e caraterização sociodemográfica realizada com base num inquérito online, semelhante ao adotado no âmbito da Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (ENIPSSA), referindo-se a 31 de dezembro de 2020. Em segundo lugar, propondo um aprofundamento da tipologia Europeia sobre a situação de sem abrigo e exclusão habitacional (ETHOS), exploramos o significado de estar em situação de sem-abrigo com base em seis grupos focais envolvendo dois tipos de atores cuja perspetiva é considerada relevante para entender esta problemática - pessoas nesta condição e profissionais a trabalhar com este público-alvo. Estes dados são analisados à luz do problema da livre escolha, identificando alguns dos debates cruciais que poderão estar a condicionar as escolhas societais. Verifica-se uma tendência de crescimento do fenómeno em que fatores de natureza estrutural poderão estar a contribuir para aumentar o número de pessoas envolvidas, assim como a gravidade da situação experienciada em cada um dos domínios abordados. Considera-se ainda que individualização do problema concorre para a normalização da condição de sem-abrigo, sendo essencial reconhecer que recoloca em cima da mesa o debate sobre definições coletivas de cidadania.
Références
Adorno, T. (1975 [1966]). Dialéctica negativa. Traduzido por José M. Ripalda. Madrid: Taurus Ediciones.
Aldeia, J. (2013). Investigar o fenómeno dos sem‐abrigo. Em defesa de uma política ontológica declarada e preocupada. Revista Crítica de Ciências Sociais, 97, 133–154. https://doi.org/10.4000/rccs.4964
Baptista, I., Benjaminsen, L., Busch-Geertsema, V., & Pleace, N. (2020). Staffing Homelessness Services in Europe, EOH, Comparative Studies on Homelessness, 10, Brussels: Feantsa. https://www.feantsaresearch.org/en/comparative-studies/2020/12/16/comparative-studies-onhomelessness-10-staffing-homelessness-services-in-europe?bcParent=763
Baptista, I.; & Marlier, E. (2019). Fighting homelessness and housing exclusion in Europe: A study of national policies. Directorate-General for Employment, Social Affairs and Inclusion (European Commission). https://data.europa.eu/doi/10.2767/624509
Bento, A., & Barreto, E. (2002). Sem-amor: Sem-abrigo. Lisboa: Climepsi.
Brady, D. (2019). Theories of the Causes of Poverty, Annual Review of Sociology, 45:1, 155-175. https://doi.org/10.1146/annurev-soc-073018-022550
Busch-Geertsema, V., Edgar, W., O’Sullivan, E., & Pleace, N. (2010). Homelessness and Homeless Policies in Europe: Lessons from Research. FEANTSA & European Union.
Costa, A. (2008), A Dificuldade da Escolha. Ação e Mudança Institucional. Tese de doutoramento. Lisboa: ISCTE-IUL.
Edgar, B. (2009). European Review of Statistics on Homelessness. FEANSTSA. https://www.feantsaresearch.org/download/6-20098376003316223505933.pdf
Edgar, B. (2012). The ETHOS Definition and Classification of Homelessness and Housing Exclusion. European Journal of Homelessness, Volume 6, No. 2, 219-225. https://www.feantsaresearch.org/download/ejh6_2_resp_ethosdef14957038748931638958.pdf
ENIPSSA (2022). Inquérito Caracterização das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo - 31 de dezembro 2021. https://www.enipssa.pt/documents/10180/11876/Inqu%C3%A9rito+Caracteriza%C3%A7%C3%A3o+das+Pessoas+em+Situa%C3%A7%C3%A3o+de+Sem-Abrigo+-+31+de+dezembro+2021+-+Quadros.pdf/c8859201-04e0-4051-be4c-66736e7d9136
Fernandes, L. (2019). Ação coletiva de pessoas desempregadas. Tese de Doutoramento em Sociologia. Universidade de Coimbra. https://eg.uc.pt/handle/10316/87581
Fontes, P. (2012). Sem-abrigo: Condições intersubjetivas de reconhecimento. In Direitos Humanos e Qualidade de Vida nas Comunidades falantes do Português nos EUA e Canadá (pp. 203–211). Presidência do Governo dos Açores, MAPS – Massachusetts Alliance of Portuguese Speakers. Lesley University: Nova Gráfica.
Fontes, P. (2022). Dialética negativa e a possibilidade de um diagnóstico social: Honneth leitor de Adorno. In A atualidade da dialética negativa de Adorno. Goiânia: Editora da Universidade Federal de Goiás.
Fontes, P., Fernandes, H., & Fernandes, L. (2022a). Relatório final do Estudo À Margem. Ponta Delgada: Novo Dia. https://www.novodia.org/a-margem-trajetorias-de-vida-de-rua/
Fontes, P., Fernandes, H., & Fernandes, L. (2022b). Estudo à Margem. Relatório de caraterização sociodemográfica. Associação Novo Dia. https://4151a5c8-348c-441f-9545-a7bec6c67a9e.usrfiles.com/ugd/4151a5_9cb067b2b69a4e328145f6af9a5f7034.pdf
Fondation Abbé Pierre & FEANTSA. (2023). 8e Regard sur le mal-logement en Europe. https://www.fondation-abbe-pierre.fr/sites/default/files/2023-08/8_Regard_Europe_2023_VDEF.pdf
Honneth, A. (2009). La justicia en execución. La “Introduccíon” de Adorno a la Dialéctica negativa. In Patologias de la Razon. Historia y Actualidad de la Teoria Critica. Tradução de Griselda Mársico. Madrid: Katz.
Mayock, P., & Bretherton, J. (Eds.). (2016). Women’s Homelessness in Europe. Palgrave Macmillan UK. https://doi.org/10.1057/978-1-137-54516-9
Nobre, S. (2021). Women ́s Homelessness and Housing Exclusion in the Northern Lisbon Metropolitan Area: An In-depth Exploratory Study. Universidade Nova de Lisboa. https://run.unl.pt/bitstream/10362/123033/1/Tese%20versão%20final.pdf
Nooe, R. M., & Patterson, D. A. (2010). The Ecology of Homelessness. Journal of Human Behavior in the Social Environment, 20(2), 105–152. https://doi.org/10.1080/10911350903269757
Nussbaum, M. (2000), The Cost of Tragedy: Some Moral Limits of Cost-Benefit Analysis, Journal of Legal Studies 29: 1005-1036.
O’Brien, R. (2001). An Overview of the Methodological Approach of Action Research. In R. Richardson (Ed.), Theory and Practice of Action Research (pp. 1–18). João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba.
Petit, J., Loubiere, S., Tinland, A., Vargas-Moniz, M., Spinnewijn, F., Manning, R., Santinello, M., Wolf, J., Bokszczanin, A., Bernad, R., Kallmen, H., Ornelas, J., Auquier, P., & HOME-EU consortium study group. (2019). European public perceptions of homelessness: A knowledge, attitudes and practices survey. PLOS ONE, 14(9), e0221896. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0221896
Piven, Frances F. (1998). Welfare and Work. Social Justice, 25(1), 67–81.
Provedoria de Justiça. (2021). Os Sem-abrigo em Tempos de Emergência. https://www.provedor-jus.pt/documentos/sem_abrigo_cadernos_da_pandemia_2021_web.pdf
Rabiee, F. (2004). Focus-group interview and data analysis. Proceedings of the Nutrition Society, 63(4), 655–660. https://doi.org/10.1079/PNS2004399
Scott, John (1994). Poverty and wealth: citizenship, deprivation and privilege. New York: Longman.
Shinn, M. (2010). Homelessness, Poverty and Social Exclusion in the United States and Europe. European Journal of Homelessness, 4, 19–44. https://www.feantsaresearch.org/download/article-1-23498373030877943020.pdf
Smithson, J. (2000). Using and analysing focus groups: Limitations and possibilities. International Journal of Social Research Methodology, 3(2), 103–119. https://doi.org/10.1080/136455700405172
Vice-Presidência do Governo Regional (2022). Rendimento Social de Inserção – Relatório Anual 2021, Núcleo de Planeamento, Estatística e Documentação (NPED). https://portal.azores.gov.pt/documents/2313810/6818301/RSI+-+Relat%C3%B3rio+Anual+2021.pdf/22ee34c3-dbd9-655f-7fcb-fb1e0924c36a?t=1652178210152A
Téléchargements
Publié-e
Numéro
Rubrique
Licence
(c) Tous droits réservés Lídia Fernandes, Paulo Fontes, Ana Costa, Joana Lages, Hélder Fernandes 2023
![Licence Creative Commons](http://i.creativecommons.org/l/by-nc-nd/4.0/88x31.png)
Cette œuvre est sous licence Creative Commons Attribution - Pas d'Utilisation Commerciale - Pas de Modification 4.0 International.
Cidades, Comunidades e Territórios by DINÂMIA'CET-IUL is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Proibição de realização de Obras Derivadas 4.0 Unported License.Permissions beyond the scope of this license may be available at mailto:cidades.dinamiacet@iscte.pt.