In Memoriam: Fernando Florêncio
Ao encontro dos Fernandos
DOI:
https://doi.org/10.15847/cea48.43860Resumo
A má notícia apanha-me totalmente desprevenido. Vêm-me à cabeça muitas imagens, especialmente do tempo em que fui investigador no CEA-ISCTE de 2006 a 2012, mas também de encontros posteriores. Todas elas bonitas e estimulantes. Muitas também divertidas.
Penso nele e sinto que há muitos Fernando Florêncio: o antropólogo profissional, com um olhar lúcido e fundamentado, cheio de experiência com grandes pesquisas em Moçambique e Angola – sobre autoridades tradicionais, sobre a construção do Estado, sobre os conflitos… – também na Namíbia, e com uma missão no Ruanda, da qual algumas vezes me contou vivências comoventes, capaz de ver toda a complexidade e as contradições das sociedades contemporâneas.O académico comprometido, nem sempre suficientemente ouvido por um certo establishment. O homem resoluto, que sabia trabalhar em grupo, na organização de publicações, jornadas e congressos. O observador da vida quotidiana, sempre com um olhar irónico, e com uma grande capacidade de narrar anedotas e extrair delas a essência humana. A pessoa amável, sensível, próxima e divertida, que acolhia os recém-chegados, como fui eu, um dia, em Portugal. O comunicador, capaz de atrair a tua atenção desde a primeira palavra, com a sua voz rouca e uma linguagem não verbal muito expressiva, sobretudo nas expressões do rosto. O amante da vida, com os seus momentos, por vezes trágicos, por vezes cómicos. E tudo isso sempre com um sorriso pronto e um olhar brilhante.
Penso que não pude aproveitar com profundidade cada momento que passei com ele. Ficaram-me muitas perguntas por fazer-lhe. Muitas histórias por ouvir-lhe. Muitos pequenos momentos para desfrutar juntos. Deixou-nos uma pessoa cheia de vida, cheia de vidas. Garanto-te, Fernando, que todos os Fernandos que conheci permanecerão vivos na minha memória.
Jordi Tomàs
Universidade de Barcelona
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