Prémio Análise Social 2021

Prémio Análise Social 2021, no valor de 1000 Euros, destinado a galardoar o melhor artigo publicado na revista em 2020, foi atribuído ex-aequo a Carlos Fortuna (CES, Universidade de Coimbra), “O mundo social do ruído. Contributos para uma abordagem sociológica”Análise Social, 234, LV (1.º), 2020, pp. 28-71.

Sumário: Um socialmente curioso percurso fez do ruído o incontornável ambiente sonoro da moderna urbanidade. O texto analisa a história do “mundo social do ruído” e mostra como com o tempo o seu inicial estranhamento deu lugar a uma generalizada condescendência e à aceitação social deste “som indesejado”, como lhe chama Murray Schafer. Depois de argumentar como alguns artistas, no campo da pintura, da música e da poesia contribuíram para a acomodação social do ruído, o artigo dá conta de duas célebres investidas históricas antirruído, destacando o papel do filósofo alemão Th. Lessing e da médica norte-americana Julia Rice. Hoje, os efeitos sociológicos mais importantes do ruído são a enunciação da presença do “outro” e o silenciamento da dissidência. O texto termina remetendo para o reconhecimento do ruído como território de continuadas disputas sociais que convidam a aturada investigação sociológica.
Palavras-chave: mundo do ruído; modernidade; aceitação social do ruído; ação antirruído.

e a Ricardo Paes Mamede (Dinâmia’CET, ISCTE-IUL), “Explicações alternativas para a crise do Euro e suas implicações”Análise Social, 236, LV (3.º), 2020, pp. 626-652.

Sumário: Neste texto discutem-se explicações alternativas para a crise que atingiu a zona euro em 2010-2012. A crise é indissociável da acumulação de desequilíbrios externos entre países membros desde meados dos anos 90. Assim, a explicação para as suas origens tem de passar pela identificação dos mecanismos que contribuíram para a acumulação daqueles desequilíbrios. As diferentes explicações discutidas – a convergência entre economias, as práticas orçamentais, as relações laborais, os fluxos de capitais e os perfis de especialização – não são mutuamente exclusivas. No entanto, os dados disponíveis sugerem que há processos mais relevantes do que outros – e não são os mais óbvios.
Palavras-chave: crise da zona euro; crise financeira; economia portuguesa; perfil de especialização; reforma da zona euro.

 

Prémio Especial do Júri 2021, no valor de 500 euros, destinado a galardoar o melhor artigo da autoria de um jovem investigador, foi atribuído ex-aequo a Pedro Varela (CES, Universidade de Coimbra), pelo artigo “Hortas urbanas de cabo-verdianos: sociabilidades e resistência quotidiana nas margens de Lisboa”Análise Social, 236, LV (3.º), 2020 pp. 534-559.

 

Sumário: As hortas urbanas de cabo-verdianos são uma realidade incontornável da Área Metropolitana de Lisboa. Surgem nas imediações de bairros, nos declives das estradas ou junto a linhas de água. Erguendo-se através de processos de resistência, nestas margens da cidade acontecem relevantes sociabilidades. Para além de lugares de subsistência, estes são espaços que ligam as pessoas entre si e aos seus bairros. Baseado numa pesquisa etnográfica com agricultores da Cova da Moura e “Reboleira” – e com um foco numa horta na fronteira da Amadora com Lisboa – este artigo explora as hortas urbanas como espaços de sociabilidades e resistência quotidiana.
Palavras-chave: hortas urbanas; cabo-verdianos; Área Metropolitana de Lisboa; resistência.

e a Ricardo Gomes Moreira (ICS, Universidade de Lisboa), pelo artigo “As radiações e a formação de uma ecologia institucional da medicina do cancro em Portugal (1912-1948)”Análise Social, 237, LV (4.º), 2020, pp. 692-721.

Sumário: Os estudos da radioatividade e o impulso científico e industrial associado à produção de radiações marcaram profundamente a medicina portuguesa no começo do século XX. Neste artigo explora-se o modo como uma noção biomédica do cancro emergiu nessa época, intimamente associada ao desenvolvimento de uma “economia das radiações” que se apoiava nos usos clínicos e científicos da radioatividade. Argumenta-se que essa economia se baseou em ambos os conceitos de “cancro” e de “radiações”, que se constituíram como objetos de fronteira, capazes de sustentar, no caso português, uma nova ecologia institucional da medicina através do seu potencial mediador entre diversos interesses políticos, científicos, médicos e industriais.
Palavras-chave: cancro; rádio; economia das radiações; objetos-fronteira; ecologia institucional.

 

O artigo de Fábio Rafael Augusto (ICS, Universidade de Lisboa) “Expressões do voluntariado: entre o projeto coletivo e o individual”Análise Social, 234, LV (1.º), 2020, pp. 144-167 foi distinguido com uma menção honrosa do júri.

 

Sumário: O voluntariado insere-se no âmbito de um conjunto de transformações sociais que marcaram a “entrada” numa nova fase da modernidade. Nesta transição, tanto a prática como as organizações que a acolhem passaram a enfrentar novos desafios associados, sobretudo, à emergência dos processos de individualização e reflexividade. A Re-food representa uma iniciativa de apoio alimentar, relativamente recente, que tem tido a capacidade para se adaptar a uma realidade (a nacional) que se caracteriza por uma certa “apatia participativa”, como também a diferentes perfis de voluntários e, portanto, a diferentes expectativas e interesses associados à prática. Com base numa pesquisa etnográfica, procurar-se-á perceber o que poderá ter suscitado o crescimento da iniciativa e de que forma os seus voluntários manifestam “sintomas” da referida transição.
Palavras-chave: voluntariado; individualização; reflexividade; Re-food.

O artigo de José Santana Pereira (CIES, ISCTE-IUL) e de Marina Costa Lobo (ICS, Universidade de Lisboa) “What explains preferential voting? A field experiment in Portugal”Análise Social, 234, LV (1.º), 2020, pp. 4-26 foi distinguido com uma menção honrosa do júri.

Sumário: O presente artigo analisa os fatores explicativos do voto preferencial em sistemas de lista flexível, com enfoque na sofisticação política, regras de votação e magnitude do círculo eleitoral. Baseia-se num estudo experimental de campo realizado em Portugal no dia das eleições legislativas de 2015. Verificou-se que o impacto da magnitude do círculo eleitoral depende das regras de votação utilizadas, que tornam o voto preferencial obrigatório ou opcional. Para além disso, o interesse pela política tende a perder a sua significância estatística quando o voto preferencial é obrigatório. Portanto, o voto preferencial não constitui um obstáculo ao voto por parte dos cidadãos com menores níveis de sofisticação política, especialmente quando as regras fazem com que a expressão de preferências seja obrigatória.
Palavras-chave: voto preferencial; estudo experimental; comportamento eleitoral; sistema eleitoral.

 

Os prémios foram atribuídos pelo seguinte júri: Sofia Aboim (ICS, Universidade de Lisboa, presidente), Doutor António Firmino da Costa (ISCTE-IUL), Doutora Bela Feldman-Bianco (UNICAMP), Doutora Alina Pereira Esteves (IGOT-Universidade de Lisboa) e Doutor Octavio Amorim Neto (EBAPE-Fundação Getulio Vargas).