Diagnóstico Avançado da Disfunção Endotelial da Córnea

Autores

  • Mariana Domingues Vaz Unidade Local de Saúde Almada-Seixal, Almada, Portugal https://orcid.org/0009-0002-1419-2499
  • Tomás Loureiro Unidade Local de Saúde Almada-Seixal, Almada, Portugal
  • Nelson Sena Jr Rio de Janeiro Corneal Tomography and Biomechanics Study Group, Rio de Janeiro, Brazil
  • Filipe Morais Unidade Local de Saúde Almada-Seixal, Almada, Portugal
  • Inês Machado Unidade Local de Saúde Almada-Seixal, Almada, Portugal
  • Nuno Campos Unidade Local de Saúde Almada-Seixal, Almada, Portugal
  • Frederico Guerra Rio de Janeiro Corneal Tomography and Biomechanics Study Group, Rio de Janeiro, Brazil
  • Renato Ambrósio Jr Rio de Janeiro Corneal Tomography and Biomechanics Study Group, Rio de Janeiro, Brazil; Federal University of the State of Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil

DOI:

https://doi.org/10.48560/rspo.41288

Palavras-chave:

Células Endoteliais, Distrofia Endotelial de Fuchs, Endotélio Corneano, Perda de Células Endoteliais da Córnea

Resumo

O endotélio corneano desempenha um papel essencial na preservação da transparência da córnea, assegurando a homeostase do fluido estromal através de complexos juncionais e da actividade da bomba Na⁺/K⁺-ATPase. Dada a sua natureza não regenerativa, a perda celular progressiva — decorrente do envelhecimento, de traumas ou de patologias hereditárias como a distrofia endotelial de Fuchs (FECD) — pode culminar em edema estromal e comprometimento visual progressivo. Apesar de a biomicroscopia em lâmpada de fenda e a classificação clínica permanecerem ferramentas indispensáveis na avaliação de estádios avançados da doença, revelam-se limitadas na detecção precoce de alterações endoteliais. Neste contexto, a imagiologia multimodal tem assumido um papel central na identificação de disfunções subclínicas. As técnicas de microscopia especular e confocal permitem a análise quantitativa da densidade e da morfologia celular, fornecendo indicadores precoces de disfunção. Paralelamente, parâmetros derivados da espessura corneana — nomeadamente o perfil topográfico da espessura (CTSP) e o aumento percentual da espessura (PTI) — demonstram maior sensibilidade diagnóstica do que a espessura central isolada (CCT). A tomografia de Scheimpflug possibilita a identificação precoce de alterações morfológicas subtis, como irregularidades isopácicas, depressões na superfície posterior e o denominado “sinal do camelo”, observado na densitometria corneana. A tomografia de coerência óptica do segmento anterior (AS-OCT) acrescenta valor diagnóstico através da análise dos padrões de reflectância da camada endotelial. A avaliação biomecânica da córnea, realizada com o dispositivo Corvis ST, disponibiliza parâmetros dinâmicos adicionais — tempos de aplanamento, amplitude de deformação e raio de concavidade — os quais se alteram ao longo da progressão da doença. A dimensão genética destas distrofias é igualmente relevante, destacando-se os genes TCF4, COL8A2 e SLC4A11, associados a hereditariedade autossómica dominante ou complexa. Estes avanços sublinham a utilidade do diagnóstico molecular e sugerem potenciais alvos terapêuticos. Em suma, uma abordagem diagnóstica integrada — aliando imagiologia estrutural, avaliação funcional e análise genética — permite a detecção precoce da disfunção endotelial e apoia uma estratificação de risco mais precisa no contexto cirúrgico.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Maurice DM. Cellular membrane activity in the corneal endothelium of the intact eye. Experientia. 1968;24:1094-5. doi:10.1007/BF02147776

Bourne WM, Kaufman HE. Specular Microscopy of Human Corneal Endothelium in VIVO. Am J Ophthalmol. 1976;81:319-23. doi:10.1016/0002-9394(76)90247-6

de Oliveira RC, Wilson SE. Descemet’s membrane development, structure, function and regeneration. Exp Eye Res. 2020;197:108090. doi:10.1016/j.exer.2020.108090

Qazi Y, Wong G, Monson B, Stringham J, Ambati BK. Corneal transparency: genesis, maintenance and dysfunction. Brain Res Bull. 2010;81:198-210. doi:10.1016/j.brainresbull.2009.05.019

Valdez-García JE, Ortiz-Morales G, Morales-Mancillas N, Luis Domene-Hickman J, Hernández-Camarena J, Loya-García D et al. Age-related Changes of the Corneal Endothelium in the Hispanic Elderly Population. Open Ophthalmol J. 2022;16. doi:10.2174/18743641-v16-e2204140

Price MO, Mehta JS, Jurkunas UV, Price FW. Corneal endothelial dysfunction: Evolving understanding and treatment options. Prog Retin Eye Res. 2021;82:100904. doi:10.1016/j.preteyeres.2020.100904

Ong Tone S, Kocaba V, Böhm M, Wylegala A, White TL, Jurkunas U V. Fuchs endothelial corneal dystrophy: The vicious cycle of Fuchs pathogenesis. Prog Retin Eye Res. 2021;80:100863. doi:10.1016/j.preteyeres.2020.100863

Krachmer JH. Corneal Endothelial Dystrophy. Arch Ophthalmol. 1978;96:2036. doi:10.1001/archopht.1978.03910060424004

Seitzman GD, Gottsch JD, Stark WJ. Cataract surgery in patients with Fuchs’ corneal dystrophy. Ophthalmology. 2005;112:441-6. doi:10.1016/j.ophtha.2004.10.044

Repp DJ, Hodge DO, Baratz KH, McLaren JW, Patel SV. Fuchs’ Endothelial Corneal Dystrophy. Ophthalmology. 2013;120:687-94. doi:10.1016/j.ophtha.2012.09.022

Sun SY, Wacker K, Baratz KH, Patel SV. Determining Subclinical Edema in Fuchs Endothelial Corneal Dystrophy: Revised Classification using Scheimpfung Tomography for Preoperative Assessment. Ophthalmology. 2019;126:195-204. doi:10.1016/j.ophtha.2018.07.005

Ambrosio R, Faria Correia F, Belin MW. Analyzing Tomographic Thickness for Detecting Corneal Ectatic Diseases. In: Alió, editor. Keratoconus, Essentials in Ophthalmology, Berlin: Springer; 2017. p.77-85.

Fritz M, Grewing V, Bohringer D, Lapp T, Maier P, Reinhard T, et al. Avoiding Hyperopic Surprises After Descemet Membrane Endothelial Keratoplasty in Fuchs Dystrophy Eyes by Assessing Corneal Shape. Am J Ophthalmol. 2019;197:1-6. doi:10.1016/j.ajo.2018.08.052

Ambrosio Jr R. Multimodal imaging for refractive surgery: Quo vadis? Indian J Ophthalmol. 2020;68:2647. doi:10.4103/0301-4738.301283

Ambrosio R, Guerra FP. Advanced Corneal Imaging for Fuchs Endothelial Corneal Dystrophy. Ophthalmology. 2019;126:205-6. doi:10.1016/j.ophtha.2018.09.020

Benetz BAM, Shivade VS, Joseph NM, Romig NJ, McCormick JC, Chen J, et al. Automatic Determination of Endothelial Cell Density From Donor Cornea Endothelial Cell Images. Transl Vis Sci Technol. 2024;13:40. doi:10.1167/tvst.13.8.40

Qu JH, Qin XR, Peng RM, Xiao CG, Cheng J, Gu SF, et al. A Fully Automated Segmentation and Morphometric Parameter Estimation System for Assessing Corneal Endothelial Cell Images. Am J Ophthalmol. 2022;239:142-53. doi:10.1016/j.ajo.2022.02.026

Liu S, Kandakji L, Stupnicki A, Sumodhee D, Leucci MT, Hau S, et al. Current Applications of Artificial Intelligence for Fuchs Endothelial Corneal Dystrophy: A Systematic Review. Transl Vis Sci Technol. 2025;14:12. doi:10.1167/tvst.14.6.12.

Eleiwa T, Elsawy A, Özcan E, Abou Shousha M. Automated diagnosis and staging of Fuchs’ endothelial cell corneal dystrophy using deep learning. Eye Vision. 2020;7:44. doi:10.1186/s40662-020-00209-z

Downloads

Publicado

2025-09-16

Como Citar

Vaz, M. D., Loureiro, T., Sena Jr, N., Morais, F., Machado, I., Campos, N., … Ambrósio Jr, R. (2025). Diagnóstico Avançado da Disfunção Endotelial da Córnea. Revista Sociedade Portuguesa De Oftalmologia, 49(3), 242–248. https://doi.org/10.48560/rspo.41288

Edição

Secção

Artigos de Revisão