Diagnóstico Avançado da Disfunção Endotelial da Córnea
DOI:
https://doi.org/10.48560/rspo.41288Palavras-chave:
Células Endoteliais, Distrofia Endotelial de Fuchs, Endotélio Corneano, Perda de Células Endoteliais da CórneaResumo
O endotélio corneano desempenha um papel essencial na preservação da transparência da córnea, assegurando a homeostase do fluido estromal através de complexos juncionais e da actividade da bomba Na⁺/K⁺-ATPase. Dada a sua natureza não regenerativa, a perda celular progressiva — decorrente do envelhecimento, de traumas ou de patologias hereditárias como a distrofia endotelial de Fuchs (FECD) — pode culminar em edema estromal e comprometimento visual progressivo. Apesar de a biomicroscopia em lâmpada de fenda e a classificação clínica permanecerem ferramentas indispensáveis na avaliação de estádios avançados da doença, revelam-se limitadas na detecção precoce de alterações endoteliais. Neste contexto, a imagiologia multimodal tem assumido um papel central na identificação de disfunções subclínicas. As técnicas de microscopia especular e confocal permitem a análise quantitativa da densidade e da morfologia celular, fornecendo indicadores precoces de disfunção. Paralelamente, parâmetros derivados da espessura corneana — nomeadamente o perfil topográfico da espessura (CTSP) e o aumento percentual da espessura (PTI) — demonstram maior sensibilidade diagnóstica do que a espessura central isolada (CCT). A tomografia de Scheimpflug possibilita a identificação precoce de alterações morfológicas subtis, como irregularidades isopácicas, depressões na superfície posterior e o denominado “sinal do camelo”, observado na densitometria corneana. A tomografia de coerência óptica do segmento anterior (AS-OCT) acrescenta valor diagnóstico através da análise dos padrões de reflectância da camada endotelial. A avaliação biomecânica da córnea, realizada com o dispositivo Corvis ST, disponibiliza parâmetros dinâmicos adicionais — tempos de aplanamento, amplitude de deformação e raio de concavidade — os quais se alteram ao longo da progressão da doença. A dimensão genética destas distrofias é igualmente relevante, destacando-se os genes TCF4, COL8A2 e SLC4A11, associados a hereditariedade autossómica dominante ou complexa. Estes avanços sublinham a utilidade do diagnóstico molecular e sugerem potenciais alvos terapêuticos. Em suma, uma abordagem diagnóstica integrada — aliando imagiologia estrutural, avaliação funcional e análise genética — permite a detecção precoce da disfunção endotelial e apoia uma estratificação de risco mais precisa no contexto cirúrgico.Downloads
Referências
Maurice DM. Cellular membrane activity in the corneal endothelium of the intact eye. Experientia. 1968;24:1094-5. doi:10.1007/BF02147776
Bourne WM, Kaufman HE. Specular Microscopy of Human Corneal Endothelium in VIVO. Am J Ophthalmol. 1976;81:319-23. doi:10.1016/0002-9394(76)90247-6
de Oliveira RC, Wilson SE. Descemet’s membrane development, structure, function and regeneration. Exp Eye Res. 2020;197:108090. doi:10.1016/j.exer.2020.108090
Qazi Y, Wong G, Monson B, Stringham J, Ambati BK. Corneal transparency: genesis, maintenance and dysfunction. Brain Res Bull. 2010;81:198-210. doi:10.1016/j.brainresbull.2009.05.019
Valdez-García JE, Ortiz-Morales G, Morales-Mancillas N, Luis Domene-Hickman J, Hernández-Camarena J, Loya-García D et al. Age-related Changes of the Corneal Endothelium in the Hispanic Elderly Population. Open Ophthalmol J. 2022;16. doi:10.2174/18743641-v16-e2204140
Price MO, Mehta JS, Jurkunas UV, Price FW. Corneal endothelial dysfunction: Evolving understanding and treatment options. Prog Retin Eye Res. 2021;82:100904. doi:10.1016/j.preteyeres.2020.100904
Ong Tone S, Kocaba V, Böhm M, Wylegala A, White TL, Jurkunas U V. Fuchs endothelial corneal dystrophy: The vicious cycle of Fuchs pathogenesis. Prog Retin Eye Res. 2021;80:100863. doi:10.1016/j.preteyeres.2020.100863
Krachmer JH. Corneal Endothelial Dystrophy. Arch Ophthalmol. 1978;96:2036. doi:10.1001/archopht.1978.03910060424004
Seitzman GD, Gottsch JD, Stark WJ. Cataract surgery in patients with Fuchs’ corneal dystrophy. Ophthalmology. 2005;112:441-6. doi:10.1016/j.ophtha.2004.10.044
Repp DJ, Hodge DO, Baratz KH, McLaren JW, Patel SV. Fuchs’ Endothelial Corneal Dystrophy. Ophthalmology. 2013;120:687-94. doi:10.1016/j.ophtha.2012.09.022
Sun SY, Wacker K, Baratz KH, Patel SV. Determining Subclinical Edema in Fuchs Endothelial Corneal Dystrophy: Revised Classification using Scheimpfung Tomography for Preoperative Assessment. Ophthalmology. 2019;126:195-204. doi:10.1016/j.ophtha.2018.07.005
Ambrosio R, Faria Correia F, Belin MW. Analyzing Tomographic Thickness for Detecting Corneal Ectatic Diseases. In: Alió, editor. Keratoconus, Essentials in Ophthalmology, Berlin: Springer; 2017. p.77-85.
Fritz M, Grewing V, Bohringer D, Lapp T, Maier P, Reinhard T, et al. Avoiding Hyperopic Surprises After Descemet Membrane Endothelial Keratoplasty in Fuchs Dystrophy Eyes by Assessing Corneal Shape. Am J Ophthalmol. 2019;197:1-6. doi:10.1016/j.ajo.2018.08.052
Ambrosio Jr R. Multimodal imaging for refractive surgery: Quo vadis? Indian J Ophthalmol. 2020;68:2647. doi:10.4103/0301-4738.301283
Ambrosio R, Guerra FP. Advanced Corneal Imaging for Fuchs Endothelial Corneal Dystrophy. Ophthalmology. 2019;126:205-6. doi:10.1016/j.ophtha.2018.09.020
Benetz BAM, Shivade VS, Joseph NM, Romig NJ, McCormick JC, Chen J, et al. Automatic Determination of Endothelial Cell Density From Donor Cornea Endothelial Cell Images. Transl Vis Sci Technol. 2024;13:40. doi:10.1167/tvst.13.8.40
Qu JH, Qin XR, Peng RM, Xiao CG, Cheng J, Gu SF, et al. A Fully Automated Segmentation and Morphometric Parameter Estimation System for Assessing Corneal Endothelial Cell Images. Am J Ophthalmol. 2022;239:142-53. doi:10.1016/j.ajo.2022.02.026
Liu S, Kandakji L, Stupnicki A, Sumodhee D, Leucci MT, Hau S, et al. Current Applications of Artificial Intelligence for Fuchs Endothelial Corneal Dystrophy: A Systematic Review. Transl Vis Sci Technol. 2025;14:12. doi:10.1167/tvst.14.6.12.
Eleiwa T, Elsawy A, Özcan E, Abou Shousha M. Automated diagnosis and staging of Fuchs’ endothelial cell corneal dystrophy using deep learning. Eye Vision. 2020;7:44. doi:10.1186/s40662-020-00209-z
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2025 Revista Sociedade Portuguesa de Oftalmologia

Este trabalho encontra-se publicado com a Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0.
Não se esqueça de fazer o download do ficheiro da Declaração de Responsabilidade Autoral e Autorização para Publicação e de Conflito de Interesses
O artigo apenas poderá ser submetido com esse dois documentos.
Para obter o ficheiro da Declaração de Responsabilidade Autoral, clique aqui
Para obter o ficheiro de Conflito de Interesses, clique aqui


