Resultados de um Modelo de Intervenção em Crise em Hospital de Dia de Psiquiatria e Discussão do Efeito da Empatia

Resumo

Introdução: O Hospital de Dia (HD) em Psiquiatria foi concebido no século XX como uma modalidade de intervenção ambulatória e multidisciplinar, para doença mental aguda. Contudo, os modelos de atuação clínica existentes revelam-se heterogéneos e com pouca sustentação em diretrizes ou publicações científicas.

Objetivos: Avaliar os resultados de um modelo de intervenção em HD e estudar as suas variáveis, para procurar hipóteses explicativas do seu mecanismo terapêutico.

Métodos: Realizámos um estudo observacional prospetivo aos doentes admitidos num programa de HD num Serviço de Psiquiatria português, com duração de 10 semanas. Os critérios de inclusão foram a presença de patologia ansiosa e depressiva aguda e perda de funcionalidade psicossocial, associados a um precipitante vivencial. Foram avaliados à admissão e após a conclusão do tratamento as variáveis de funcionamento quotidiano, com a escala Global Assessment of Functioning; sintomas de ansiedade e depressão com a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS); e os mecanismos de coping, com escala Brief-COPE. Executámos a análise estatística com o programa SPSS Statistics 22. Completámos a discussão de resultados com uma revisão narrativa de literatura, a partir dos termos descritores de HD, psicoterapias e do conceito de empatia, surgido neste estudo como um possível importante efetor terapêutico.

Resultados e Conclusões: Observou-se nos doentes, após a intervenção em HD, a melhoria de funcionamento global, na escala GAF (p<0,001); a redução de sintomas de ansiedade (p=0,003) e depressão (p=0,015), na HADS; e um incremento dos mecanismos de “coping ativo” (p=0,007) e de “suporte emocional” (p=0,022), a par da redução de “autoculpabilização” (p=0,013) e “negação” (p=0,016). A intervenção psicoterapêutica em HD mostrou-se benéfica na doença mental em situação de crise. Constata-se ainda na literatura um reduzido número de publicações e elevada variabilidade dos modelos de HD praticados, faltando evidência explicativa do mecanismo terapêutico. Propomos a hipótese da empatia entre terapeuta e doentes como efetor, estando os seus mecanismos neuronais de espelho bem esclarecidos pela investigação.