Perturbação Obsessivo-compulsiva Segundo o Modelo Baseado na Inferência

Autores

  • Tiago Ferreira Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca
  • Natalia Koszegi Centre d´études sur les troubles obsessionnels-compulsifs et les tics, Institut universitaire en santé mentale de Montréal

DOI:

https://doi.org/10.25752/psi.18543

Palavras-chave:

Perturbação Obsessivo-compulsiva, Terapia Cognitivo-comportamental, Modelo baseado na Inferência

Resumo

Introdução: A perturbação obsessivo-compulsiva pode acarretar bastante sofrimento e disfuncionalidade para os indivíduos afectados. O seu tratamento passa por medidas farmacológicas e psicoterapêuticas (nomeadamente exposição com prevenção de resposta). O modelo baseado na inferência surgiu nos anos 90, tentando responder a algumas das limitações das formulações cognitivo-comportamentais existentes.

Objectivos: Apresentar uma revisão do modelo baseado na inferência e da terapia baseada na inferência aplicada à perturbação obsessiva-compulsiva.

Métodos: Revisão não sistemática de artigos pesquisados no PubMed e Medline e bibliografia de referência.

Resultados: O elemento nuclear da conceptualização da perturbação obsessivo-compulsiva segundo o modelo baseado na inferência é a dúvida obsessiva, que é vista como uma inferência, à qual se chega por um processo de raciocínio indutivo. As obsessões originam-se a partir de uma narrativa imaginária interna, distante do “aqui e agora”, baseada em argumentos lógicos. A partir daí, e por um processo de raciocínio denominado confusão inferencial, formula-se a inferência primária, que é o primeiro pensamento com a forma de dúvida obsessiva (obsessão). Seguem-se, a partir desta, as inferências secundárias, que são consequências antecipadas e que geram ansiedade ou desconforto, podendo levar a acções compulsivas. A partir desta formulação, desenhou-se a terapia baseada na inferência, que visa invalidar os processos de raciocínio que levam à dúvida ou inferência primária e retornar a pessoa ao mundo dos sentidos e senso comum. Apresenta eficácia em estudos empíricos, nomeadamente quando comparada à terapia cognitivo-comportamental clássica em dois ensaios controlados aleatorizados, com maior eficácia em doentes com sobre-investimento nas obsessões ou pouco insight.

Conclusões: A terapia baseada na inferência demonstra-se promissora em termos de eficácia. Pode ser uma hipótese a considerar nos doentes com perturbação obsessivo-compulsiva, mas também em outras patologias como dismorfofobia, perturbações do comportamento alimentar e perturbação de acumulação.

Biografia Autor

Tiago Ferreira, Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca

Interno Formação Específica em Psiquiatria

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Publicado

2022-09-07

Edição

Secção

Artigos de Revisão