Logradouros do Montepio Geral

Heranças e Contextos na Avenida Alferes Malheiro e na Estrutura Verde do Bairro de Alvalade (1940-1970)

Autores/as

  • Jorge Rosa Neves DINÂMIA'CET-IUL, Instituto Universitário de Lisboa
  • Paulo Tormenta Pinto DINÂMIA'CET-IUL, Instituto Universitário de Lisboa

Palabras clave:

Bairro de Alvalade, Avenida do Brasil, Arquitetura e Arquitetura Paisagista, Espaço Urbano, Estrutura Verde

Resumen

A construção do Bairro de Alvalade entre 1945 e 1970 gerou importante património arquitetónico e urbanístico, testemunho da transição entre a arquitetura do Estado Novo e a arquitetura influenciada pelo Movimento Moderno. Este período, coincidiu com a afirmação profissional e social da arquitetura paisagista em Portugal e com o início da atividade dos primeiros arquitetos paisagistas na Câmara Municipal de Lisboa, da qual resultou intensa atividade projetual segundo a matriz doutrinal de Francisco Caldeira Cabral, de cariz artística, aberta e promotora da dialética interdisciplinar e profundamente ecológica.

Desta conjugação, resultaram espaços urbanos tipologicamente diferentes, entre os quais, os decorrentes da abertura dos logradouros sob os ímpetos do Movimento Moderno e dos valores da Carta de Atenas, tornando o Bairro de Alvalade um estudo de caso, por excelência, para a investigação da relação interdisciplinar entre a arquitetura e a arquitetura paisagista em Portugal e, em particular, do contributo desta neste processo. No contexto desta relação, a arborização dos arruamentos e o ajardinamento dos logradouros do Bairro, assentes sobre o Plano de Urbanização da Zona a Sul da Avenida Alferes Malheiro (atual Avenida do Brasil) e dos planos que se seguiram, permitiu construir uma estrutura verde consistente e com importância para a cidade.

A Avenida Alferes Malheiro incorpora intensa e complementar sucessão de projetos de arquitetura e de arquitetura paisagista elaborados entre as décadas de 1950 e 1970, cuja concretização contribuiu decisivamente para a ligação entre o Campo Grande e a Mata de Alvalade (atual Parque José Gomes Ferreira) e posteriormente para a implementação do Corredor Verde Central da Cidade de Lisboa.

Na perspetiva do estudo da dialética projetual entre a arquitetura e a arquitetura paisagista e do seu contributo para a Estrutura Verde do Bairro de Alvalade, o artigo observa o “Projeto dos Ajardinados dos Logradouros do Montepio Geral” no contexto da arborização e do ajardinamento da Avenida do Brasil, bem como na sucessão das experiências ocorridas nos conjuntos habitacionais da Avenida Dom Rodrigo da Cunha, do Bairro das Estacas e da Avenida dos Estados Unidos da América. No seu conjunto, estes projetos, constituíram o ponto de charneira no processo de abertura dos logradouros em Alvalade, a partir do qual as valências lúdicas colocadas em projeto suplantam definitivamente a organização funcional patente na arquitetura do Estado Novo, até então condicionada pelo exercício de compatibilização de espaços de lazer comunitários (Logradouros Comuns) com pequenos espaços de produção agrícola concebidos numa lógica de complemento do rendimento familiar (Logradouros Particulares Posteriores).

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Publicado

2019-06-27

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