Entre o doméstico e o urbano

Os sistemas de transição como espaço para um habitar colectivo

Autores/as

  • João Silva Leite Universidade de Lisboa, Faculdade de Arquitectura, CIAUD, formaurbis LAB https://orcid.org/0000-0003-1063-0690
  • Filipa Serpa Universidade de Lisboa, Faculdade de Arquitectura, CIAUD, URBinLAB

Palabras clave:

habitação coletiva, espaços coletivos, sistemas de transição, limiar

Resumen

O espaço público é a estrutura, o esqueleto espacial da cidade (Sòla-Morales, 1997). É o lugar de partilha, de encontro do colectivo (Gehl, 1971), da liberdade democrática; é o espaço que sedimenta o habitat urbano. Ainda assim, é no espaço limite entre público e privado que se estabelecem algumas tensões espaciais que configuram o modo como vivemos a cidade. A habitação comum é, por outro lado, a matéria construída que dá, silenciosamente, corpo à estrutura da cidade, face ao protagonismo do espaço público (Monteys, 2013; Serpa, 2015). É sobre os espaços in between que tendências actuais de pensamento arquitectónico reflectem sobre o valor da ambiguidade espacial enquanto produtora de porosidades que reconfiguram os limites e os modos de apropriação e permanência no espaço público e privado (Monteys, 2010), recuperando a memória conceptual da planta de Roma de Nolli (1748). Os espaços de transição surgem como complemento, por um lado ao espaço público reinterpretando reflexões teóricas apontadas no Movimento Moderno e pelo grupo Team 10 na década de 1960 (Hetzberger, 1991), por outro lado ao espaço privado, como prolongamento da casa, redefinindo os limites da domesticidade (PLOT 50, 2019).  

O artigo procura, então, reflectir sobre a relevância dos espaços de transição em edifícios habitacionais colectivos e como estes podem contribuir para a construção de sistemas de continuidade espacial entre o urbano e o doméstico. Tendo como enquadramento Portugal e os casos desenvolvidos em projectos de investigação como “Tipologia Edificada” e “Entre Habitação e Cidade”, pretende-se decompor morfologicamente os sistemas de permanência e distribuição (Boettger, 2014) de edifícios de habitação, interpretando-os como um limiar espesso onde se habita (Van Eyck, 1962). Procura-se abrir o debate na produção arquitectónica sobre a importância destes sistemas como dispositivos de transição, mas também, enquanto estruturas de articulação e dilatação do espaço público (Schmid, 2019) e doméstico que activam o habitat, tornando-o mais integrado e contínuo.

Citas

Álvaro Rocha, J. (2014). Conjunto Habitacional de Penela. in Habitar Portugal 12-14. http://www.habitarportugal.org/pt/projecto/conjunto-habitacional-de-penela/

Alexander, C. et al. (1977). A Pattern Language. Oxford University press.

Alexander, C., Chemayeff, S. (1963). Community and Privacy. Toward a New Architecture of Humanism. New York: Doubleday

Benjamin, W., Lacis, A. (1978 [1925]). Naples. Reflections. Essays, Aphorisms, Autobiographical Writings, New York and London: Harcourt Brace Jovanovich

Boettger, T. (2014). Threshold Spaces: Transitions in Architecture. Analysis and Design Tools. Basel: Birkhauser,

Botelho, S. (2010). Espaços de transição. Preservação da privacidade e estímulo do contacto social. Lisboa: FAUL (dissertação de mestrado). http://hdl.handle.net/10400.5/2917

Correia, F. (2018). São Paulo. A Graphic Biography. Austin: University of Texas Press.

depA architects, Azevedo, C., Crisóstomo, J., Sobral, L., Santos, M. (eds.) (2021). In Conflict vol. 1. Porto: Circo de Ideias.

Delgado, A. (2018). Tipologias habitacionais em blocos de habitação coletiva: uma pequena comunidade independente. Lisboa: Universidade Lusíada (dissertação de mestrado) http://hdl.handle.net/11067/4039

Dias Coelho, C. (coord.) (2013). Os Elementos Urbanos. Lisboa: Argumentum

Espegel, C., Cánovas, A., Lapuerta, J. M. (eds.) (2022). Amaneceres Domésticos. Temas de vivenda colectiva em la Europa del siglo XXI. Madrid: Fundación ICO

Eyck, A. V. (2008 [1962]). Writings. The Child, the City and the Artist. Amsterdam: Sun.

Ganiggia, G., Maffei, G. L. (2008). Lettura della’ edilizia di base. Fierenze: Alinea Editrice

Gehl, J. (2017 [1971]. A vida entre os edifícios. Lisboa: Tigre de Papel.

Fernandez Per, A., Mozas, J. (2013). 10 Historias sobre Vivienda Colectiva. Vitoria-Gasteiz:a+t ediciones

Foscari, G.. (2014). Elements of Venice. Zurich: Lars Müller Publishers

Hertzberger, H. (2005 [1991]). Lessons for Students in Architecture. Rotterdam: 010 Publishers.

Hong, J. (2016). Fragments of a new housing language. Contemporary Urban Housing in Korea. Seul: Archilife

Innerarity, D. (2010). O novo espaço público. Lisboa: Teorema.

Lawrence, R. (1984). Transition Spaces and Dwelling Design. Journal of Architectural and Planning Research, 1(4), 261–271. http://www.jstor.org/stable/43028706

Lawrence, R. (2020) Halls, lobbies, and porches: transition spaces in Victorian architecture. The Journal of Architecture, 25(4), 419-443, https://doi.org/10.1080/13602365.2020.1767176

Lopes Dias, T. (2018). O “espaço-transição” no atelier de Nuno Teotónio Pereira: realismo e idealismo na década de 1960. in Actas do IX Congresso DOCOMOMO ibérico “Movimento moderno: património cultural e sociedade” (134-139). San Sebastián: Ministerio de Cultura y Deporte.

Maldonado, V., Namorado Borges, P. (2015). Vítor Figueiredo. Projectos e Obras de Habitação Social 1960-1979. Porto: Circo de Ideias.

Monteys, X. (2018). La Calle y La Casa. Urbanismo de interiores. Barcelona: Gustavo Gili

Monteys, X. (2010). Domesticar la Calle / Domesticating the Street. a+t – Strategy Public, 35/36, 304-315.

Muratori, S. (1959). Studi per un’operante storia urbana di Venezia. Roma: Istituto Poligrafico dello Stato.

Pallasmaa, J. (2017). Habitar. Barcelona: Gustavo Gili.

Niskanen, A. (2018). Introduction: The fluid boundaries of the private and the public. In K. Vesikansa, (ed.) Mixing the Private and the Public in the City (pp. 6-9). Espoo: Aalto University

Panerai, P., Mangin, D. (1999). Projet Urbain. Marselhe: Éditions Parenthèses.

Providência, P., Baía, P. (2019). Nuno Portas. 18 Obras Partilhadas. Porto: Circo de Ideias

Portas, N. (coord.) (2011). Políticas Urbanas II: Transformações, regulação e projectos. Lisboa: CEFA/FCG.

Rasmussen, S. E. (1974). Experiencing Architecture. Cambridge, Massachusetts: MIT Press.

Schimd, S. (2019). A History of Collective Living. Forms of Shared Housing. Basel: Birkhauser

Serpa, F. (2015). Entre habitação e cidade: Lisboa, os projetos de promoção pública: 1910-2010. Lisboa: FAULisboa [tese de doutoramento]

Serpa, F. (coord.), Fonte, M. M., Allegri, A., Arenga, N., & Monteiro, M. (2018). Habitação de promoção pública. Da construção nova à reabilitação, uma leitura dos projectos. in R. Agarez (ed.), HABITAÇÃO Cem anos de Políticas Públicas em Portugal 1918-2018 (pp. 406–463). Lisboa: Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana. http://www.portaldahabitacao.pt/pt/portal/100anoshabitacao/index.html

Secchi, B., Viganò, P. (2011). La Ville Poreuse. Um Projet Pour Le Grand Paris et la Metropole de L’Apres-Kyoto. Geneve: MetisPresses.

Silva Leite, J. (2016). Ruas Emergentes. Interpretação morfológica no contexto urbano português:. Lisboa: FAULisboa [tese de doutoramento]

Solà-Morales, M. (2008). De Cosas Urbanas. Barcelona: Gustavo Gili.

Solà-Morales, M. (1997 [1993]). Las formas de rescimento urbano. Barcelona: edicions UPC.

Stiftung, W. (2014). Ground floor interface. Berlin: Jovis

Toussaint, M., Melo, M. (2014). Bloco das Águas Livres – a perfect building. Lisboa: A+A books

Toussaint, M., Melo, M. (2021). Guia de Arquitectura de Lisboa 1948-2021. Lisboa: A+A books

Viganó, P. (2018). Porosity: Whay this figure is still useful. in Wolfrum, S. (ed.). Porous City: From Metaphor to Urban Agenda (pp.50-55). Basel: Birkhäuser

Wender, K. R. (2019). Mundos compartidos. Redefinir los límites de la domesticidad. PLOT 50

Wolfrum, S., Janson, A. (2019). The City as Architecture. Basel: Birkhäuser

Publicado

2023-12-29

Número

Sección

Dossier Articles