Habitar habitats de segregação funcional persistente em bairros de arrendamento público geridos pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana
Mots-clés :
urban segregation, residential segregation, functional segregation, housing policies, public rental neighborhoodsRésumé
A segregação socio-espacial é um fenómeno multidimensional. Manifesta-se na segregação residencial de comunidades que não podem escolher o local de residência (dimensão física), associada à falta de oportunidades proporcionadas pelos serviços de proximidade (segregação funcional). Ambas impõem impedâncias à participação e desencadeiam estigmatização simbólica através da construção de imaginários conflituosos sobre os ‘outros’ conduzindo a formas de segregação relacional. A segregação alimenta-se de múltiplas incompatibilidades (discriminação, diferenciação, marginalização, exclusão) entre as diferentes partes da cidade, criando ou amplificando disfuncionalidades.
Neste artigo circunscrevem-se os fatores da segregação funcional, apresenta-se uma metodologia para avaliar a Segregação Funcional Persistente (SFP) e aplica-se essa metodologia a 120 bairros de arrendamento público incluídos no Atlas SIPA de Património (IHRU - SIPA, 2011), geridos pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana. No final apresentam-se resultados sobre a intensidade e os efeitos da perenidade da SFP nestes bairros.
Mesmo considerando que os aglomerados urbanos onde foram edificados se expandiram consideravelmente ao longo de 4 ou 5 décadas, a condição de isolamento permanece. Esta segregação funcional é visível na ausente ou exígua dotação de focos de vida comercial e social. São preponderantes as situações de marginalidade face à estrutura comercial e de serviços de proximidade. Nos casos em que existem algumas das amenidades tratadas nesta análise, elas incidem sobre um número residual de bairros e, quando se manifestam, são pouco diversificadas. Estas comunidades acedem a amenidades de proximidade nos bairros que os envolvem. A segregação funcional destes bairros, associada às que lhe são correlativas, mantêm-se ao longo de gerações.
Références
Alves, S. (2017). Assessing the impact of area-based initiatives in deprived neighborhoods: The example of S. João de deus in Porto, Portugal. Journal of Urban Affairs, 39(3), 381–399. https://doi.org/10.1080/07352166.2016.1245081
Amaral, F. K. do (1945). O Problema da Habitação. In Cadernos Azuis: Problemas Contemporâneos. Livraria Latina Editora.
Antunes, G. (2019). Política de habitação social em Portugal: de 1974 à actualidade/Social housing policy in Portugal: from 1974 to the present. Forum Sociológico, 34, 7–17. https://doi.org/10.4000/sociologico.4662
Apparicio, P., & Séguin, A. M. (2006). Measuring the accessibility of services and facilities for residents of public housing in Montréal. Urban Studies, 43(1), 187–211. https://doi.org/10.1080/00420980500409334
Archer, M. (1996). Social integration and system integration: developing the distinction. In Sociology (Vol. 30, Issue 4, pp. 679–699). https://doi.org/10.1177/0038038596030004004
Barata-Salgueiro, T. (2017). Alojamentos turísticos em Lisboa. Scripta Nova, 21.
Bolt, G., Phillips, D., & Van Ronald, K. (2010). Housing policy, (De)segregation and social mixing: An international perspective. Housing Studies, 25(2), 129–135. https://doi.org/10.1080/02673030903564838
Boterman, W. R., Musterd, S., & Manting, D. (2021). Multiple dimensions of residential segregation. The case of the metropolitan area of Amsterdam. Urban Geography, 42(4), 481–506. https://doi.org/10.1080/02723638.2020.1724439
Caner, G., & Bolen, F. (2013). Implications for socio-spatial segregation in urban theories. Journal of Planning, 23(3), 153–161. https://doi.org/10.5505/planlama.2013.94695
Carolino, J. (2023). Viver (n) um “bairro precário”. Problematização a partir de três trajectórias habitacionais. CIDADES, Comunidades e Territórios, 4–14.
Carreiras, M. (2018). Integração socioespacial dos bairros de habitação social na área metropolitana de Lisboa: Evidências de micro segregação. Finisterra, 53(107), 67–85. https://doi.org/10.18055/finis11969
Castells, M., 1972. La Question Urbaine. Paris: François Maspéro.
Chernilo, D. (2012). Social and System Integration: The Philosophical Foundations of a Key Distinction in (British) Social Theory. 1992, 1–3.
Christaller, W. (1933, 1966) Central Places in Southern Germany, Prentice Hall, Englewood Cliffs, NJ.
Engels, F., 1845. La Situation De La Classe Laborieuse En Angleterre. Paris: Editions Sociales
Fainstein, S. (2010). The Just City. Ithaca: Cornell University Press
Feitosa, F., Barros, J., Marques, E., & Giannotti, M. (2021). Measuring Changes in Residential Segregation in São Paulo in the 2000s. Urban Book Series, 507–523. https://doi.org/10.1007/978-3-030-64569-4_26
Foresman, T., & Luscombe, R. (2017). The second law of geography for a spatially enabled economy. International Journal of Digital Earth, 10(10), 979–995. https://doi.org/10.1080/17538947.2016.1275830
Gama, A. (1983). Uma Ruptura Epistemologica na Geografia. Revista Crítica de Ciências Sociais, 12, 41–59.
García, I. (2019). Human Ecology and Its Influence in Urban Theory and Housing Policy in the United States. Urban Science, 3(2), 56. https://doi.org/10.3390/urbansci3020056
Gaspar, J. (1982). A Área de Influência de Évora, Sistema de Funções e Lugares Centrais. Centro de Estudos Geográficos. Lisboa.
Geddes, P. (1915). Cities in Evolution: an Introduction to the Town Planning Movement and to the study of civics. Williams & Nortage.
Hartman, C. (1998). The Case for a Right to Housing. Housing Policy Debate, 9(2), 223–246. https://doi.org/10.1080/10511482.1998.9521292
Harvey, D., 1973. Social Justice and the City. London: Edward Arnold. IHRU. (2015). Estratégia Nacional para a Habitação: Desafios e Mudanças.
IHRU - SIPA. (2011). Atlas SIPA de Património – Conjuntos Habitacionais IHRU (versão 1.0).
IHRU. (2017). Para um Nova Geração de Políticas de Habitação. In Nova Geração de Políticas de Habitação (NHPH). https://www.portaldahabitacao.pt/pt/portal/habitacao/npgh.html
IHRU. (2018a). Habitação Cem anos de Políticas Públicas em Portugal 1918-2018 (R. C. Agarez (ed.)).
IHRU. (2018b). Levantamento Nacional das Necessidades de Realojamento Habitacional. https://www.portaldahabitacao.pt/opencms/export/sites/portal/pt/portal/habitacao/levantamento_necessidades_habitacionais/Relatorio_Final_Necessidades_Realojamento.pdf
Jacobs, J. (1961). The DEATH and LIFE of GREAT AMERICAN CITIES A DIVISION OF RANDOM HOUSE, INC. Vintage Books.
Jenkins, P., Smith, H., & Wang, Y. P. (2006). Planning and housing in the rapidly urbanising world. Planning and Housing in the Rapidly Urbanising World, 1–368. https://doi.org/10.4324/9780203003992
Jorge, S. (2022a). A ALAVANCA DO 1.o DIREITO: UM OLHAR SOBRE A PRIMEIRA GERAÇÃO DE ESTRATÉGIAS LOCAIS DE HABITAÇÃO. Finisterra, 57(119), 87–107. https://doi.org/10.18055/Finis25645
Jorge, S. (2022b). Mais e melhor habitação pública: um olhar a partir da Amadora e do outrora Bairro de Santa Filomena. Cidades, 45, 1–16. https://doi.org/10.15847/cct.26591
Jorge, S., & Melo, V. (2023). O acesso a uma habitação condigna em Portugal: Um olhar sobre os grupos mais vulneráveis. CIDADES, Comunidades e Territórios, 1–3.
Leckie, S. (1989). Housing as a human right. In Environment & Urbanization (Vol. 1, Issue 2, pp. 90–108). https://doi.org/10.1177/095624788900100210
Leckis, S. (2001). The Human Right to Adequate Housing. Economic Social and Cultural Rights: A Textbook; Second Revised Edition, March, 149. http://books.google.co.uk/books?id=X5KhQgAACAAJ%5Cnhttp://serlib0.essex.ac.uk/record=b1480450
Lees, L. (2000). A reappraisal of gentrification: Towards a “geography of gentrification.” Progress in Human Geography, 24(3), 389–408. https://doi.org/10.1191/030913200701540483
Lefebvre, H. (1991). O direito á cidade (8a). Centauro Editora. São Paulo.
Lei n.o 2/2024 de 5 de janeiro, Programa Nacional de Habitação 2022 -2026 2400 (2024).
Lei n.o 56/2023 de 6 de outubro, Diário da República n.o 168/2007, Série I de 2007-08-31 2400 (2023).
Lei n.o 83/2019 de 3 de setembro, Diário da República, 1.a série, no168 11 (2019).
Lojkine, J., 1972. La Politique Urbaine Dans La Région Parisienne, 1945–1972. Paris: Mouton.
Malheiros, J. M., Fonseca, L., Latoeira, C., André, C., Esteves, A., Estevão, M., Mcgarrigle, J., Moreno, L., Pereira, S., Ramos, J. C., Serra, N., Torres, Y., & Arbaci, S. (2011). Acesso à Habitação e Problemas Residenciais dos Imigrantes em Portugal. www.oi.acidi .gov.pt
Marcuse, P. (2002). The Partitioned City in Urban History. In, Peter Marcuse and Ronald van Kempen (Eds.), Of States and Cities: The Partitioning of Urban Space (pp. 11-34). Oxford: Oxford University Press.
Massey, D. (1999). American Apartheid: Segregation and the Making of the Underclass. American Journal of Sociology, 96(2), 376–385. https://doi.org/10.4324/9780429494642-49
Mendes, L. F. G. (2020). Da Gentrificação Turística Em Lisboa. Interconexões: Saberes e Práticas Da Geografia 2, 173–185. https://doi.org/10.22533/at.ed.11920261114
Musterd, S. (2020). Urban segregation: contexts, domains, dimensions and approaches. In S. Musterd (Ed.), Handbook of Urban Segregation (Vol. 2, Issue 1, pp. 105–110). Edward Elgar Publishing.
Park, R. (1915). The City: Suggestions for the Investigation of Human Behavior in the City Environment. American Journal of Sociology, 20(5), 577–612. https://doi.org/10.1086/212433
Park, R. (1926). The concept of structure in sociology. Papers and Proceedings of the American Sociological Society, 20, 1–14. https://doi.org/10.4324/9781315763347
Permentier, M., Van Ham, M., & Bolt, G. (2008). Same neighbourhood ⋯ different views? A confrontation of internal and external neighbourhood reputations. Housing Studies, 23(6), 833–855. https://doi.org/10.1080/02673030802416619
RCM 50-A/2018 de 2 de maio, Pub. L. No. RCM 50-A/2018, Diário da República, 1.a série, no 84 1784 (2018). https://data.dre.pt/eli/resolconsmin/50-a/2018/05/02/p/dre/pt/html
RCM n.o 56/2018 de 7 de maio, 2018 (2018).
Ruiz-Tagle, J. (2013). A Theory of Socio-spatial Integration: Problems, Policies and Concepts from a US Perspective. In International Journal of Urban and Regional Research (Vol. 37, Issue 2, pp. 388–408). https://doi.org/10.1111/j.1468-2427.2012.01180.x
Salat, S., & Bourdic, L. (2012). Systemic resilience of complex urban systems. TeMA Journal of Land Use Mobility and Environment, 2, 55–68.
Salat, S., & Nowacki, C. (2011). The Mediterranean urban development: a lesson of sustainability for the world. International Journal of Sustainable Development, 14(1/2), 3. https://doi.org/10.1504/IJSD.2011.039634
Salat, S., Bourdic, L., & Nowacki, C. (2010). Assessing Urban Complexity. International Journal of Sustainable Building Technology and Urban Development, 1(2), 160–167. https://doi.org/10.5390/SUSB.2010.1.2.160
Santos, A. (2019). A Nova Questão da Habitação em Portugal - Uma Abordagem de Economia Política. In A. C. Santos (Ed.), A Nova Questão da Habitação em Portugal - Uma Abordagem de Economia Política. Actual Editora.
Santos, A., Teles, N., & Serra, N. (2013). Finança e habitação em Portugal. In Cadernos do Observatório (Vol. 53, Issue 9).
Sassen, S. (2008). Mortgage capital and its particularities: A new frontier for global finance. Journal of International Affairs, 62(1), 187–212.
Sassen, S. (2012). Expanding the Terrain for Global Capital: When Local Housing Becomes an Electronic Instrument. In Subprime Cities: The Political Economy of Mortgage Markets (Issue February, pp. 74–96). https://doi.org/10.1002/9781444347456.ch3
Seixas, J., & Antunes, G. (2019). Tendências recentes de segregação habitacional na Área Metropolitana de Lisboa. Cidades, 39, 55–82. https://doi.org/10.15847/citiescommunitiesterritories.dec2019.039.art01
Seixas, J., Tulumello, S., Corvelo, S., & Drago, A. (2015). Dinâmicas sociogeográficas e políticas na Área Metropolitana de Lisboa em tempos de crise e de austeridade. Cadernos Metrópole, 17(34), 371–399. https://doi.org/10.1590/2236-9996.2015-3404
Serra, N. (2019). O Estado e a habitação numa encruzilhada? Cidades, 2019(38), 55–56. https://doi.org/10.15847/citiescommunitiesterritories.jun2019.038.tes02
Shamskooshki, H. (2021). The Perception of Socio-Spatial Segregation. The Interaction of Physical and Social Urban Space: Study Case of Tehran Neighborhoods. Bauhaus-Universität Weimar.
Smith, N. (1996). New Urban Frontier Gentrification and the revanchist city. Routledge. https://doi.org/10.2307/j.ctv34h08zb.8
Soja E. (2010) Seeking Spatial Justice. Minneapolis, University of Minnesota Press Ulman, P., & Ćwiek, M. (2021). Measuring housing poverty in Poland: a multidimensional analysis. Housing Studies, 36(8), 1212–1230. https://doi.org/10.1080/02673037.2020.1759515
Ulman, P., & Ćwiek, M. (2021). Measuring housing poverty in Poland: a multidimensional analysis. Housing Studies, 36(8), 1212–1230. https://doi.org/10.1080/02673037.2020.1759515
Vilaça, E. (2001). O ‘Estado da Habitação’. Cidades, Comunidade e Territórios, 3, 83–92.
Wilson, W. (1987). The truly disadvantage: the inner city, the underclass and public policy. University Chicago Press
XXIII Governo - República Portuguesa. (2023). Mais Habitação.
Téléchargements
Publié-e
Numéro
Rubrique
Licence
(c) Tous droits réservés Carlos Gonçalves, Monique Borges, João Lourenço Marques, Sásquia Trigo 2024
![Licence Creative Commons](http://i.creativecommons.org/l/by-nc-nd/4.0/88x31.png)
Cette œuvre est sous licence Creative Commons Attribution - Pas d'Utilisation Commerciale - Pas de Modification 4.0 International.
Cidades, Comunidades e Territórios by DINÂMIA'CET-IUL is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Proibição de realização de Obras Derivadas 4.0 Unported License.Permissions beyond the scope of this license may be available at mailto:cidades.dinamiacet@iscte.pt.