Habitar habitats de segregação funcional persistente em bairros de arrendamento público geridos pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana

Auteurs-es

  • Carlos Gonçalves Universidade de Aveiro https://orcid.org/0000-0002-8571-1287
  • Monique Borges Research Unit on Governance, Competitiveness and Public Policies – GOVCOPP, University of Aveiro https://orcid.org/0000-0002-9820-4591
  • João Lourenço Marques Research Unit on Governance, Competitiveness and Public Policies – GOVCOPP, University of Aveiro
  • Sásquia Trigo Research Unit on Governance, Competitiveness and Public Policies – GOVCOPP, University of Aveiro

Mots-clés :

urban segregation, residential segregation, functional segregation, housing policies, public rental neighborhoods

Résumé

A segregação socio-espacial é um fenómeno multidimensional. Manifesta-se na segregação residencial de comunidades que não podem escolher o local de residência (dimensão física), associada à falta de oportunidades proporcionadas pelos serviços de proximidade (segregação funcional). Ambas impõem impedâncias à participação e desencadeiam estigmatização simbólica através da construção de imaginários conflituosos sobre os ‘outros’ conduzindo a formas de segregação relacional. A segregação alimenta-se de múltiplas incompatibilidades (discriminação, diferenciação, marginalização, exclusão) entre as diferentes partes da cidade, criando ou amplificando disfuncionalidades.

Neste artigo circunscrevem-se os fatores da segregação funcional, apresenta-se uma metodologia para avaliar a Segregação Funcional Persistente (SFP) e aplica-se essa metodologia a 120 bairros de arrendamento público incluídos no Atlas SIPA de Património (IHRU - SIPA, 2011), geridos pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana. No final apresentam-se resultados sobre a intensidade e os efeitos da perenidade da SFP nestes bairros.

Mesmo considerando que os aglomerados urbanos onde foram edificados se expandiram consideravelmente ao longo de 4 ou 5 décadas, a condição de isolamento permanece. Esta segregação funcional é visível na ausente ou exígua dotação de focos de vida comercial e social. São preponderantes as situações de marginalidade face à estrutura comercial e de serviços de proximidade. Nos casos em que existem algumas das amenidades tratadas nesta análise, elas incidem sobre um número residual de bairros e, quando se manifestam, são pouco diversificadas. Estas comunidades acedem a amenidades de proximidade nos bairros que os envolvem. A segregação funcional destes bairros, associada às que lhe são correlativas, mantêm-se ao longo de gerações.

Références

Alves, S. (2017). Assessing the impact of area-based initiatives in deprived neighborhoods: The example of S. João de deus in Porto, Portugal. Journal of Urban Affairs, 39(3), 381–399. https://doi.org/10.1080/07352166.2016.1245081

Amaral, F. K. do (1945). O Problema da Habitação. In Cadernos Azuis: Problemas Contemporâneos. Livraria Latina Editora.

Antunes, G. (2019). Política de habitação social em Portugal: de 1974 à actualidade/Social housing policy in Portugal: from 1974 to the present. Forum Sociológico, 34, 7–17. https://doi.org/10.4000/sociologico.4662

Apparicio, P., & Séguin, A. M. (2006). Measuring the accessibility of services and facilities for residents of public housing in Montréal. Urban Studies, 43(1), 187–211. https://doi.org/10.1080/00420980500409334

Archer, M. (1996). Social integration and system integration: developing the distinction. In Sociology (Vol. 30, Issue 4, pp. 679–699). https://doi.org/10.1177/0038038596030004004

Barata-Salgueiro, T. (2017). Alojamentos turísticos em Lisboa. Scripta Nova, 21.

Bolt, G., Phillips, D., & Van Ronald, K. (2010). Housing policy, (De)segregation and social mixing: An international perspective. Housing Studies, 25(2), 129–135. https://doi.org/10.1080/02673030903564838

Boterman, W. R., Musterd, S., & Manting, D. (2021). Multiple dimensions of residential segregation. The case of the metropolitan area of Amsterdam. Urban Geography, 42(4), 481–506. https://doi.org/10.1080/02723638.2020.1724439

Caner, G., & Bolen, F. (2013). Implications for socio-spatial segregation in urban theories. Journal of Planning, 23(3), 153–161. https://doi.org/10.5505/planlama.2013.94695

Carolino, J. (2023). Viver (n) um “bairro precário”. Problematização a partir de três trajectórias habitacionais. CIDADES, Comunidades e Territórios, 4–14.

Carreiras, M. (2018). Integração socioespacial dos bairros de habitação social na área metropolitana de Lisboa: Evidências de micro segregação. Finisterra, 53(107), 67–85. https://doi.org/10.18055/finis11969

Castells, M., 1972. La Question Urbaine. Paris: François Maspéro.

Chernilo, D. (2012). Social and System Integration: The Philosophical Foundations of a Key Distinction in (British) Social Theory. 1992, 1–3.

Christaller, W. (1933, 1966) Central Places in Southern Germany, Prentice Hall, Englewood Cliffs, NJ.

Engels, F., 1845. La Situation De La Classe Laborieuse En Angleterre. Paris: Editions Sociales

Fainstein, S. (2010). The Just City. Ithaca: Cornell University Press

Feitosa, F., Barros, J., Marques, E., & Giannotti, M. (2021). Measuring Changes in Residential Segregation in São Paulo in the 2000s. Urban Book Series, 507–523. https://doi.org/10.1007/978-3-030-64569-4_26

Foresman, T., & Luscombe, R. (2017). The second law of geography for a spatially enabled economy. International Journal of Digital Earth, 10(10), 979–995. https://doi.org/10.1080/17538947.2016.1275830

Gama, A. (1983). Uma Ruptura Epistemologica na Geografia. Revista Crítica de Ciências Sociais, 12, 41–59.

García, I. (2019). Human Ecology and Its Influence in Urban Theory and Housing Policy in the United States. Urban Science, 3(2), 56. https://doi.org/10.3390/urbansci3020056

Gaspar, J. (1982). A Área de Influência de Évora, Sistema de Funções e Lugares Centrais. Centro de Estudos Geográficos. Lisboa.

Geddes, P. (1915). Cities in Evolution: an Introduction to the Town Planning Movement and to the study of civics. Williams & Nortage.

Hartman, C. (1998). The Case for a Right to Housing. Housing Policy Debate, 9(2), 223–246. https://doi.org/10.1080/10511482.1998.9521292

Harvey, D., 1973. Social Justice and the City. London: Edward Arnold. IHRU. (2015). Estratégia Nacional para a Habitação: Desafios e Mudanças.

IHRU - SIPA. (2011). Atlas SIPA de Património – Conjuntos Habitacionais IHRU (versão 1.0).

IHRU. (2017). Para um Nova Geração de Políticas de Habitação. In Nova Geração de Políticas de Habitação (NHPH). https://www.portaldahabitacao.pt/pt/portal/habitacao/npgh.html

IHRU. (2018a). Habitação Cem anos de Políticas Públicas em Portugal 1918-2018 (R. C. Agarez (ed.)).

IHRU. (2018b). Levantamento Nacional das Necessidades de Realojamento Habitacional. https://www.portaldahabitacao.pt/opencms/export/sites/portal/pt/portal/habitacao/levantamento_necessidades_habitacionais/Relatorio_Final_Necessidades_Realojamento.pdf

Jacobs, J. (1961). The DEATH and LIFE of GREAT AMERICAN CITIES A DIVISION OF RANDOM HOUSE, INC. Vintage Books.

Jenkins, P., Smith, H., & Wang, Y. P. (2006). Planning and housing in the rapidly urbanising world. Planning and Housing in the Rapidly Urbanising World, 1–368. https://doi.org/10.4324/9780203003992

Jorge, S. (2022a). A ALAVANCA DO 1.o DIREITO: UM OLHAR SOBRE A PRIMEIRA GERAÇÃO DE ESTRATÉGIAS LOCAIS DE HABITAÇÃO. Finisterra, 57(119), 87–107. https://doi.org/10.18055/Finis25645

Jorge, S. (2022b). Mais e melhor habitação pública: um olhar a partir da Amadora e do outrora Bairro de Santa Filomena. Cidades, 45, 1–16. https://doi.org/10.15847/cct.26591

Jorge, S., & Melo, V. (2023). O acesso a uma habitação condigna em Portugal: Um olhar sobre os grupos mais vulneráveis. CIDADES, Comunidades e Territórios, 1–3.

Leckie, S. (1989). Housing as a human right. In Environment & Urbanization (Vol. 1, Issue 2, pp. 90–108). https://doi.org/10.1177/095624788900100210

Leckis, S. (2001). The Human Right to Adequate Housing. Economic Social and Cultural Rights: A Textbook; Second Revised Edition, March, 149. http://books.google.co.uk/books?id=X5KhQgAACAAJ%5Cnhttp://serlib0.essex.ac.uk/record=b1480450

Lees, L. (2000). A reappraisal of gentrification: Towards a “geography of gentrification.” Progress in Human Geography, 24(3), 389–408. https://doi.org/10.1191/030913200701540483

Lefebvre, H. (1991). O direito á cidade (8a). Centauro Editora. São Paulo.

Lei n.o 2/2024 de 5 de janeiro, Programa Nacional de Habitação 2022 -2026 2400 (2024).

Lei n.o 56/2023 de 6 de outubro, Diário da República n.o 168/2007, Série I de 2007-08-31 2400 (2023).

Lei n.o 83/2019 de 3 de setembro, Diário da República, 1.a série, no168 11 (2019).

Lojkine, J., 1972. La Politique Urbaine Dans La Région Parisienne, 1945–1972. Paris: Mouton.

Malheiros, J. M., Fonseca, L., Latoeira, C., André, C., Esteves, A., Estevão, M., Mcgarrigle, J., Moreno, L., Pereira, S., Ramos, J. C., Serra, N., Torres, Y., & Arbaci, S. (2011). Acesso à Habitação e Problemas Residenciais dos Imigrantes em Portugal. www.oi.acidi .gov.pt

Marcuse, P. (2002). The Partitioned City in Urban History. In, Peter Marcuse and Ronald van Kempen (Eds.), Of States and Cities: The Partitioning of Urban Space (pp. 11-34). Oxford: Oxford University Press.

Massey, D. (1999). American Apartheid: Segregation and the Making of the Underclass. American Journal of Sociology, 96(2), 376–385. https://doi.org/10.4324/9780429494642-49

Mendes, L. F. G. (2020). Da Gentrificação Turística Em Lisboa. Interconexões: Saberes e Práticas Da Geografia 2, 173–185. https://doi.org/10.22533/at.ed.11920261114

Musterd, S. (2020). Urban segregation: contexts, domains, dimensions and approaches. In S. Musterd (Ed.), Handbook of Urban Segregation (Vol. 2, Issue 1, pp. 105–110). Edward Elgar Publishing.

Park, R. (1915). The City: Suggestions for the Investigation of Human Behavior in the City Environment. American Journal of Sociology, 20(5), 577–612. https://doi.org/10.1086/212433

Park, R. (1926). The concept of structure in sociology. Papers and Proceedings of the American Sociological Society, 20, 1–14. https://doi.org/10.4324/9781315763347

Permentier, M., Van Ham, M., & Bolt, G. (2008). Same neighbourhood ⋯ different views? A confrontation of internal and external neighbourhood reputations. Housing Studies, 23(6), 833–855. https://doi.org/10.1080/02673030802416619

RCM 50-A/2018 de 2 de maio, Pub. L. No. RCM 50-A/2018, Diário da República, 1.a série, no 84 1784 (2018). https://data.dre.pt/eli/resolconsmin/50-a/2018/05/02/p/dre/pt/html

RCM n.o 56/2018 de 7 de maio, 2018 (2018).

Ruiz-Tagle, J. (2013). A Theory of Socio-spatial Integration: Problems, Policies and Concepts from a US Perspective. In International Journal of Urban and Regional Research (Vol. 37, Issue 2, pp. 388–408). https://doi.org/10.1111/j.1468-2427.2012.01180.x

Salat, S., & Bourdic, L. (2012). Systemic resilience of complex urban systems. TeMA Journal of Land Use Mobility and Environment, 2, 55–68.

Salat, S., & Nowacki, C. (2011). The Mediterranean urban development: a lesson of sustainability for the world. International Journal of Sustainable Development, 14(1/2), 3. https://doi.org/10.1504/IJSD.2011.039634

Salat, S., Bourdic, L., & Nowacki, C. (2010). Assessing Urban Complexity. International Journal of Sustainable Building Technology and Urban Development, 1(2), 160–167. https://doi.org/10.5390/SUSB.2010.1.2.160

Santos, A. (2019). A Nova Questão da Habitação em Portugal - Uma Abordagem de Economia Política. In A. C. Santos (Ed.), A Nova Questão da Habitação em Portugal - Uma Abordagem de Economia Política. Actual Editora.

Santos, A., Teles, N., & Serra, N. (2013). Finança e habitação em Portugal. In Cadernos do Observatório (Vol. 53, Issue 9).

Sassen, S. (2008). Mortgage capital and its particularities: A new frontier for global finance. Journal of International Affairs, 62(1), 187–212.

Sassen, S. (2012). Expanding the Terrain for Global Capital: When Local Housing Becomes an Electronic Instrument. In Subprime Cities: The Political Economy of Mortgage Markets (Issue February, pp. 74–96). https://doi.org/10.1002/9781444347456.ch3

Seixas, J., & Antunes, G. (2019). Tendências recentes de segregação habitacional na Área Metropolitana de Lisboa. Cidades, 39, 55–82. https://doi.org/10.15847/citiescommunitiesterritories.dec2019.039.art01

Seixas, J., Tulumello, S., Corvelo, S., & Drago, A. (2015). Dinâmicas sociogeográficas e políticas na Área Metropolitana de Lisboa em tempos de crise e de austeridade. Cadernos Metrópole, 17(34), 371–399. https://doi.org/10.1590/2236-9996.2015-3404

Serra, N. (2019). O Estado e a habitação numa encruzilhada? Cidades, 2019(38), 55–56. https://doi.org/10.15847/citiescommunitiesterritories.jun2019.038.tes02

Shamskooshki, H. (2021). The Perception of Socio-Spatial Segregation. The Interaction of Physical and Social Urban Space: Study Case of Tehran Neighborhoods. Bauhaus-Universität Weimar.

Smith, N. (1996). New Urban Frontier Gentrification and the revanchist city. Routledge. https://doi.org/10.2307/j.ctv34h08zb.8

Soja E. (2010) Seeking Spatial Justice. Minneapolis, University of Minnesota Press Ulman, P., & Ćwiek, M. (2021). Measuring housing poverty in Poland: a multidimensional analysis. Housing Studies, 36(8), 1212–1230. https://doi.org/10.1080/02673037.2020.1759515

Ulman, P., & Ćwiek, M. (2021). Measuring housing poverty in Poland: a multidimensional analysis. Housing Studies, 36(8), 1212–1230. https://doi.org/10.1080/02673037.2020.1759515

Vilaça, E. (2001). O ‘Estado da Habitação’. Cidades, Comunidade e Territórios, 3, 83–92.

Wilson, W. (1987). The truly disadvantage: the inner city, the underclass and public policy. University Chicago Press

XXIII Governo - República Portuguesa. (2023). Mais Habitação.

Téléchargements

Publié-e

2024-05-06