Toda a minha vida fui Thug

A (des)construção do urbano através do rap

Autores

  • Sofia Sousa
  • Paula Guerra Universidade do Porto, Instituto de Sociologia, Griffith Center for Social and Cultural Research https://orcid.org/0000-0003-2377-8045

Palavras-chave:

manifestações musicais, territórios, representações, territórios desfavorecidos/bairros sociais/espaços de segregação socio-espacial-guettos, artes de cidadania

Resumo

Até que ponto a música ou outras produções artísticas podem ser um meio de reconhecimento e de aprendizagem sobre um território? (Guerra, 2019a). Esta foi a questão inicial com que nos debatemos, pois apesar de sabermos de forma corroborada o papel e a relevância de géneros musicais como o rap e da cultura hip-hop no mundo artístico, começamos a questionar de que forma são abordados determinados conteúdos, partindo de influências musicais distintas e diversas, desde o rap ao trap, consoante as manifestações de (sub)géneros musicais (Frith, 1996; Lena & Peterson, 2008). Deste modo, o nosso foco incidiu numa análise das letras das músicas de treze artistas, com o intuito de perspetivar as mensagens líricas que são transmitidas, as diversas relações ou referências que possam ser feitas a contextos geográficos, mais concretamente bairros sociais, e concomitantemente perceber como é que estas produções são pautadas pelas posições de afirmação estereotipadas relativas à representação do artista gangster, às vivências e aos consumos desviantes. Como é que um país de pequena dimensão se posiciona, em termos de produção e consumo musical, face a estes processos de resistência (Johansson & Lalander, 2012; Guerra & Quintela, 2016) musical? Acima disso, tentamos compreender em que sentido os artistas alvo de análise ainda refletem nas suas produções artísticas temas como a exclusão, a violência, a criminalidade e outras questões. Trata-se de um artigo que procura enfatizar o papel das criações artísticas enquanto (re)produtoras de conhecimento relevante sobre as realidades sociais (Guerra, 2019a; Becker, 2007).

Referências

Alcool Club (2014). Os meus direitos. https://www.youtube.com/watch?v=2mvkt7J0SiE

Allen, N. (2005). Exploring hip-hop with high-risk youth, Praxis, 5, 30–36.

Augé, M. (2012). Não-Lugares. Lisboa, Letra Livre.

Barbosa, A.P., Sousa, S., Guerra, P. & Rocha, A.L. (2020). (Des)Encontros de uma Etnografia Multissituada em Regiões Urbanas de Marginalidade Avançada no Brasil e em Portugal, Revista Iluminuras, 21(54), 447–477.

Basu, E. & Lemelle, S. (eds). (2006). The vinyl ain’t final: Hip Hop and the globalization of black popular culture. Oxford: Pluto Press.

Becker, H.S (1963/1997). Outsiders: studies in the sociology of deviance. New York: Press.

Becker, H.S. (2007). Telling about society. Chicago: The University of Chicago Press.

Bennett, A. & Guerra, P. (2018). DIY Cultures and Underground Music Scenes. London: Routledge.

Bhaba, H. (1994/2010). The location of culture. London: Routledge.

Bourdieu, P. (1998). O conhecimento pelo corpo, Meditações Pascalianas, 113–144.

Bourgois, P. (2003). In search of respect: selling crack in El Barrio. Cambridge: University Press.

Bucholtz, M. (2003). Sociolinguistic nostalgia and the authentification of identity, Journal of Sociolinguistics, 7(3), 398–416.

Calvino, I. (1996). Seis propostas para o próximo milénio. Lisboa: Teorema.

Campos, R. & Sequeira, A. (2019). Entre VHILS e os Jerónimos: arte urbana de Lisboa enquanto objeto turístico, Horizontes Antropológicos, 25(55), 119–151.

Campos, R. & Simões, J.A. (2014). Digital Participation at the Margins: Online Circuits of Rap Music by Portuguese Afro-Descendant Youth, YOUNG, 22(1), 87–106.

Campos, R., Raposo, O., Varela, P., Simões, J.A. (2021). «Nos é fidju lá di gueto, nos é fidju di imigrante, nós é fidju di Cabo Verdi»: estética, política e antirracismo no rap em Portugal, Sociedade & Estado (forthcoming).

Chaney, D. (2001). From ways of life to lifestyle: rethinking culture as ideology and sensibility. In Lull, J. (eds.). Culture in the communication age (pp.75–88). London: Routledge.

Costa, A.F. (2008). Sociedade de Bairro. Dinâmicas Sociais da Identidade Cultural. Lisboa: Celta Editora.

Dadshpoor, H. & Ghazaie, M. (2019). Exploring the consequences of segregation through residents’ experiences: Evidence of a neighbourhood in the Tehran metropolis, Cities, 95, 1–12.

Dillaz (2016). Mo boy. https://www.youtube.com/watch?v=HIgP-Xk7DxQ

Estraca (2016). Subúrbios. https://www.youtube.com/watch?v=wZGRSxQpm8E

Ferry ft Sam the Kid (2018). Rei do Bairro. https://www.youtube.com/watch?v=moJbCXOqCCo

Forman, M. (2002). The ‘hood Comes First’, Race, Space and Place in Rap and Hip-hop. Middletown, Connecticut: Weslyan University Press.

Fradique, T. (1999). Nas margens do rio: retóricas e performances do rap em Portugal. In G. Velho (Org.). Antropologia urbana. Cultura e sociedade no Brasil e em Portugal (pp. 121–140). Rio de Janeiro: Zahar.

Fradique, T. (2003). Fixar o movimento: representações da música rap em Portugal. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

Frith, S. (1996). Performing rights: On the value of popular music. Cambridge, MA: Harvard University Press.

García, J.S. & Pàmplos, C.F. (2020). In My Name and the Name of All People Who Live in Misery: Rap in the Wake of Revolution in Tunisia and Egypt, YOUNG, 28(1), pp.85–100.

Gilroy, P. (1987). The ain’t no black in the Union Jack: the cultural politics of race and nation. London: Hutchinson.

Gilroy, P. (2004). It’s a family affair. In M. Forman, & M.A. Neal (eds.). That’s the Joint! Hip-hop Studies Reader (pp.87-94). New York: Routledge.

Guerra, P. & Quintela, P. (2016). Culturas urbanas e sociabilidades juvenis contemporâneas: um (breve) roteiro teórico, Revista de Ciências Sociais, 47(1), 193–217.

Guerra, P. & Sitoe, T. (2019). Reinventar o discurso e o palco. O rap, entre saberes locais e saberes globais. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Guerra, P. (2002). A Cidade na Encruzilhada do Urbano – Algumas modalidades de relação e um estudo de caso acerca do processo de recomposição social e espacial do tecido urbano portuense na década de 90. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Dissertação de Provas de Capacidade Científica e Aptidão Pedagógica (equivalente a dissertação de mestrado) em Sociologia urbana.

Guerra, P. (2017). A canção ainda é uma arma: ensaio sobre as identidades na sociedade portuguesa em tempos de crise. In F.A.S. Nascimento, J.C. Silva, R. Ferreira da Silva (orgs.) História e Arte: Teatro, cinema, literatura. Teresina: EDUFPI.

Guerra, P. (2019a). Nothing is forever: um ensaio sobre as artes urbanas de Miguel Januário ±MaisMenos±, Horizontes Antropológicos, 28(55), 1806–9983.

Guerra, P. (2019b). Verdade e consequência no hip-hop português contemporâneo: o caso de Capicua. In T. Sitoe & P. Guerra (2019). Reinventar o discurso e o palco. O rap, entre saberes locais e saberes globais (pp. 202–219). Universidade do Porto: Faculdade de Letras.

Guerra, P. (2020a). The Song Is Still a ‘Weapon’: The Portuguese Identity in Times of Crises, YOUNG, 28(1), 14–31.

Guerra, P. (2020b). Cidade, pedagogia e rap, Quaestio, 22(1). http://periodicos.uniso.br/ojs/index.php/quaestio

Guerra, P. (2020c). Paixões sónicas conservadas em disposofonias: o musicar de Gustavo Costa e da sonoscopia, Artcultura, 22(41), 6–27.

Guerra, P. (2020d). Um lugar sem lugar…no rock português, Revista Outros Tempos, 17(29), 181–204.

Guerra, P., Rodrigues, M., Sousa, S. & Saraiva, R. (2017). O outro lado da cidade: dinâmicas de apropriação de espaços residenciais periféricos, Filosofia: Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 34, 113–132.

Guerra, P.; Hebdige, D.; Bennett, A.; Feixa, C. & Quintela, P. (2020). Collective Interview with Dick Hebdige After 35 Years of Subculture: The Meaning of Style. In K. Gildart, A. Gough-Yates, S. Lincoln, B. Osgerby, L. Robinson, J. Street, P. Webb & M. Worley (Eds.). Hebdige and Subculture in the Twenty-First Century. Through the Subcultural Lens (pp.253-266). Palgrave Studies in the History of Subcultures and Popular Music. London: Palgrave Macmillan.

Halloween, A. (2018). Crescer. https://www.youtube.com/watch?v=oKgTWK2Txzc.

Harris, J.C. & Little, S. (2019). Mapping Hope: How Do Vulnerable Youth Locate Hope in Informal Settlements?, Urban Forum, 8, 1–18.

Jensen, S.Q. (2006). Rethinking subcultural capital, YOUNG, 14(3), 257–276.

Johansson, T. & Lalander, P. (2012). Doing resistance – youth and changing theories of resistance, Journal of Youth Studies, 16(8), 1078–1088.

Kappa Jota (2018). Tribo. https://www.youtube.com/watch?v=dQkT0RqYo5U

Keso (2016). Escritor de interiores. https://www.youtube.com/watch?v=GrIt7apmdqw

Lena, J.C. & Peterson, R.A. (2008). Classification as culture: Types and trajectories of music genres, American Sociological Review, 73(5), 697–718.

Levitas, R. (1998). The inclusive Society: Social Exclusion and New Labour. London: Macmilian.

Librado, D. (2010). An Instrument of Resistance: Rap music and Hip-hop Culture in El Alto, Bolívia. Tese (Licenciatura). University of Toronto at Scarborough.

McCracken, G.D. (1998). Plenitude Volume 2: Culture by commotion. Toronto: Periph Fluide.

Mitchel, T. (2001). Introduction: Another Root – Hip-hop outside the USA. In T. Mitchel (ed.). Global Noise: Rap and Hip-hop outside the USA (pp. 1–38). Middletown, Connecticut: Weslyan University Press.

Mota Jr. (2019). Não digas que não. https://www.youtube.com/watch?v=wGJVT9ErqCs

Mundo Segundo ft Sam the Kid (2016). Também faz parte. https://www.youtube.com/watch?v=nJ4jphUqlJM

Mundo Segundo ft Sam the Kid (2019). Gaia/Chelas. https://www.youtube.com/watch?v=L3OEJkIZSAk

Murie, A. & Musterd, S. (2004). Social Exclusion and Opportunity Structures in European cities and Neighbourhoods, Urban Studies, 41(8), 1441–1459.

Mynda’Guevara (2020). Na nossa língua. https://www.youtube.com/watch?v=pWCZz1qJZ6o

Nielson, E. (2011). ‘Here come the cops’: Policing the resistance in rap music, International Journal of Cultural Studies, 15(4), 349–363.

Norberg-Schulz, C. (1974). Existencia, Espacio y Arquitectura. Barcelona: Editorial Blume.

Oliveira, A. (2019) Do ethos à praxis. Carreiras DIY na cena musical independente em Portugal. In P. Guerra, & L. Dabul, (eds.). De Vidas Artes (pp.421-443). Porto: Universidade do Porto, Faculdade de Letras.

Pais, J.M. & Blass, M.S. (2004). Tribos urbanas: produção artística e identidades. São Paulo: Annablume.

Pais, J.M. (2005). Jovens e cidadania, Sociologia, Problemas e Práticas, 49, 53–70.

Pais, J.M. (2006). Buscas de si: expressividades e identidades juvenis. In M.I.M. Almeida, & F. Eugénio (Eds.). Culturas Jovens: novos mapas de afecto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Piruka (2019). Impossíveis. https://www.youtube.com/watch?v=LdWCiyEtucc

Rancière, J. (2010). Dissensus. On politics and aesthetics. New York: Continuum.

Ray, J. (2016). Local Identity on the Global Stage: A sociolinguistic analysis of Jay Z’s New Yorker Persona, In Proceedings of the 24th annual symposium about language and society – Austin, Texas. Texas Linguistic Forum, 59, pp.110–118.

Rhodes, A.M. & Schechter, R. (2014). Fostering Resilience Among Youth in Inner City Community Arts Centers: The Case of the Artists Collective, Education and Urban Society, 46(7), 826–848.

Rose, T. (1995). Black Noise: Rap Music and Black Culture in Contemporary America. London: Weslyan University Press.

Sandberg, S. & Pedersen, W. (2009). Street capital: black cannabis dealers in a white welfare state. Cambridge: Polity Press.

Schütz, A. & Luckmann, T. (2009). Las Estruturas del Mundo de la Vida. Buenos Aires: Amarroto editors.

Schütz, A. (2012). Fenomenologia e Relações Sociais: textos escolhidos. Rio de Janeiro: Vozes.

Silva, A.S. (2018). Como abordar a identidade nacional portuguesa?, Todas as Artes – Revista Luso-Brasileira de Artes e Cultura, 1(1), 9–20.

Simões, J.A.V., Nunes, P.B., & Campos, R.M.O (2005). Entre Subculturas e Neotribos: Propostas de Análise dos Circuitos Culturais Juvenis. O Caso da Música Rap e do Hip-hop em Portugal, Forúm Sociológico, 13/14(2), 171–189.

Simões, S. (2017). RAPublicar. A micro-história que fez história numa Lisboa adiada 1986-1996. Lisboa: Editora Caleidoscópio.

Sousa, S. (2018). O Cerco é a minha casa! Apropriações e Identidades face ao espaço habitado. Dissertação (Mestrado). Porto: Faculdade de Letras.

$tag One ft Prisma (2018). Bela Vista. https://www.youtube.com/watch?v=EZiC-94Aons

Thornton, S. (1995). Club Cultures: Music, Media and Subcultural Capital. Cambridge: Polity Press.

Wacquant, L. (2007). Territorial stigmatisation in the age of advanced marginality, Thesis, 11, 66–77.

Wacquant, L. (2008). Urban outcasts. Cambridge, UK: Polity Press.

Wacquant, L. (2014). Marginalidade, etnicidade e penalidade na cidade neoliberal: uma cartografia analítica. Tempo social, São Paulo, 26(2), 139–164.

Wakeford, T. & Rodriguez, J.S. (2018). Participatory Action Research: Towards a More Fruitful Knowledge. In K. Facer, & K. Dunleavy (eds.) Connected Communities Foundation Series (pp. 11–44). Bristol: University of Bristol/ AHRC Connected Communities Programme.

X-Tense (2019). Bolero. https://www.youtube.com/watch?v=agChvGmTGsg

Downloads

Publicado

2021-10-20

Edição

Secção

Artigo