Sequelas tardias de infeção congénita por citomegalovírus – A urgência de uma abordagem neonatal
DOI:
https://doi.org/10.25753/BirthGrowthMJ.v32.i2.23335Palavras-chave:
alteração do neurodesenvolvimento, complicação, diagnóstico, infeção por citomegalovírusResumo
Introdução: A infeção congénita por citomegalovírus (CMV) é a principal causa de surdez neurossensorial na infância. Em Portugal, o rastreio na grávida não é realizado por rotina. Sabe-se que podem ocorrer sequelas tardias em crianças com infeção congénita, mesmo quando são assintomáticas ao nascimento. O objetivo deste estudo foi investigar a ocorrência de sequelas precoces e tardias em crianças com mães com imunoglobulina (Ig)M e IgG positiva para CMV durante a gravidez.
Materiais e Métodos: Participantes: Crianças nascidas de mães com IgM e IgG positiva para CMV durante a gestação num hospital terciário português entre agosto de 2006 e agosto de 2020. Foram retrospetivamente avaliadas variáveis demográficas, clínicas e laboratoriais, bem como sequelas precoces e tardias. Foram consideradas sequelas tardias atraso no desenvolvimento psicomotor, surdez neurossensorial e alterações da visão.
Resultados: Nos últimos 14 anos, foram identificados no hospital considerado 31 casos de recém-nascidos de mães com IgM e IgG positiva para CMV na gravidez (0,08% do número total de nascimentos). Entre estes, foram confirmados seis casos (19,4%) de infeção por CMV, um dos quais sintomático ao nascimento, com envolvimento de múltiplos órgãos, e óbito aos quatro meses. Foram observadas sequelas tardias num único caso, concretamente perturbação do desenvolvimento intelectual e perturbação de hiperatividade e défice de atenção. Não foram identificados casos de alterações oftalmológicas ou otorrinolaringológicas.
Discussão: Embora a infeção congénita por CMV seja uma condição potencialmente fatal, apenas um óbito foi registado no presente estudo. Foi também observado um único caso de sequelas tardias num recém-nascido assintomático ao nascimento.
Conclusão: Estes resultados sugerem que pode ser necessário reavaliar as indicações para rastreio de CMV no período neonatal. Esse rastreio pode ser particularmente relevante em recém-nascidos assintomáticos, para prevenção de sequelas tardias através da instituição de tratamento precoce.
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