Sequelas tardias de infeção congénita por citomegalovírus – A urgência de uma abordagem neonatal

Autores

  • Teresa Botelho Serviço de Neonatologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra https://orcid.org/0000-0002-2884-9685
  • Raquel Gonçalves Serviço de Neonatologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
  • Joaquim Tiago Serviço de Neonatologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra https://orcid.org/0000-0001-6691-2705
  • Ana Rodrigues Silva Serviço de Neonatologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra https://orcid.org/0000-0003-1007-775X

DOI:

https://doi.org/10.25753/BirthGrowthMJ.v32.i2.23335

Palavras-chave:

alteração do neurodesenvolvimento, complicação, diagnóstico, infeção por citomegalovírus

Resumo

Introdução: A infeção congénita por citomegalovírus (CMV) é a principal causa de surdez neurossensorial na infância. Em Portugal, o rastreio na grávida não é realizado por rotina. Sabe-se que podem ocorrer sequelas tardias em crianças com infeção congénita, mesmo quando são assintomáticas ao nascimento. O objetivo deste estudo foi investigar a ocorrência de sequelas precoces e tardias em crianças com mães com imunoglobulina (Ig)M e IgG positiva para CMV durante a gravidez.
Materiais e Métodos: Participantes: Crianças nascidas de mães com IgM e IgG positiva para CMV durante a gestação num hospital terciário português entre agosto de 2006 e agosto de 2020. Foram retrospetivamente avaliadas variáveis demográficas, clínicas e laboratoriais, bem como sequelas precoces e tardias. Foram consideradas sequelas tardias atraso no desenvolvimento psicomotor, surdez neurossensorial e alterações da visão.
Resultados: Nos últimos 14 anos, foram identificados no hospital considerado 31 casos de recém-nascidos de mães com IgM e IgG positiva para CMV na gravidez (0,08% do número total de nascimentos). Entre estes, foram confirmados seis casos (19,4%) de infeção por CMV, um dos quais sintomático ao nascimento, com envolvimento de múltiplos órgãos, e óbito aos quatro meses. Foram observadas sequelas tardias num único caso, concretamente perturbação do desenvolvimento intelectual e perturbação de hiperatividade e défice de atenção. Não foram identificados casos de alterações oftalmológicas ou otorrinolaringológicas.
Discussão: Embora a infeção congénita por CMV seja uma condição potencialmente fatal, apenas um óbito foi registado no presente estudo. Foi também observado um único caso de sequelas tardias num recém-nascido assintomático ao nascimento.
Conclusão: Estes resultados sugerem que pode ser necessário reavaliar as indicações para rastreio de CMV no período neonatal. Esse rastreio pode ser particularmente relevante em recém-nascidos assintomáticos, para prevenção de sequelas tardias através da instituição de tratamento precoce.

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Publicado

2023-09-14

Como Citar

1.
Botelho T, Gonçalves R, Tiago J, Rodrigues Silva A. Sequelas tardias de infeção congénita por citomegalovírus – A urgência de uma abordagem neonatal. REVNEC [Internet]. 14 de Setembro de 2023 [citado 15 de Abril de 2025];32(2):72-6. Disponível em: https://revistas.rcaap.pt/nascercrescer/article/view/23335

Edição

Secção

Artigos Originais