Artigo 26º

a identidade pessoal e a livre formação da personalidade a partir da questão da identidade de género

Auteurs

DOI :

https://doi.org/10.34625/issn.2183-2705(38)2025.ic-17

Mots-clés :

identidade pessoal, livre formação da personalidade, identidade de género, dignidade humana, pós-modernismo, igualdade, não discriminação

Résumé

O presente artigo propõe-se a refletir sobre o artigo 26.º da Constituição da República Portuguesa, em especial na sua formulação inicial do número 1, relativo ao direito à identidade pessoal e à livre formação da personalidade. Considera-se (i) que a questão da identidade de género compreende um elemento psicológico e um elemento sociopolítico, ambos de natureza pós-modernista, com manifestações no quotidiano dos sujeitos; (ii) que esta problemática inscreve-se no princípio axial da dignidade humana; e (iii) que a identidade pessoal e a livre formação da personalidade só podem ser plenamente garantidas mediante uma leitura constitucional assente no primado da liberdade e da igualdade positiva (não discriminação), o que implica o reconhecimento da identidade de género como bem jurídico digno de proteção específica. Nesse sentido, discute-se a possibilidade de integração da identidade de género no catálogo dos direitos fundamentais, mesmo sem menção expressa no texto constitucional, à luz do princípio da dignidade humana como valor jurídico absoluto.

Références

BARBOSA RODRIGUES, Luís. Manual de Direitos Fundamentais e Direitos Humanos. Quid Juris, 2021.

BOBBIO, Norberto. Era dos direitos. Elsevier Brasil, 2004.

BOCKTING, W. O. Psychotherapy and the real-life experience: From gender dichotomy to gender diversity. Sexologies, 2008, 17.4: 211-224.

BUTLER, Judith. Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity. Routledge, 1990.

CANOTILHO, JJ Gomes; MOREIRA, Vital. Constituição da república portuguesa, anotada. Coimbra Editora, 2007.

COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. Saraiva Educação SA, 2001.

CONNELL, Raewyn. Gender. Polity, 2009.

DE MELO, Cristina Teixeira Vieira; VAZ, Paulo. Guerras Culturais: conceito e trajetória. Revista Eco-Pós, 2021, 24.2: 6-40. F

DERRIDA, Jacques. Writing and Difference. University of Chicago. 1978.

ERICKSON-SCHROTH, Laura (ed.). Trans bodies, trans selves: A resource for the transgender community. Oxford University Press, 2014.

ERIKSON, Erik H. Identity: Youth and crisis. WW Norton & company, 1994.

FERREIRA DIAS, João. Guerras Culturais: os ódios que nos incendeiam e como vencê-los. Guerra & Paz, 2025.

FERREIRA DIAS, João. The Culture War in Ukraine: the struggle against global pluralism, Polis, 2022, 2.6: 99-104.

FIGUEIREDO, Eduardo (org.). Direito da orientação sexual, da identidade e expressão de género e das características sexuais. Coimbra: Almedina, 2024.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. Edições Loyola, 1996.

GIDDENS, Anthony. Modernity and Self-Identity: Self and Society in the Late Modern Age. Cambridge: Polity Press, 1991.

GOUVEIA, Jorge Bacelar. Direitos Fundamentais-Teoria geral, dogmática da constituição portuguesa. Almedina, 2023.

GRAMSCI, Antonio. Prison Notebooks, Volumes 1-3. 2011.

KROGER, Jane. Why is identity achievement so elusive?. Identity: An International Journal of Theory and Reasearch, 2007, 7.4: 331-348.

LIJPHART, Arend, et al. Patterns of democracy: Government forms and performance in thirty-six countries. Yale university press, 1999.

MAGOLDA, Marcia B. Baxter. Making their own way: Narratives for transforming higher education to promote self-development. Routledge, 2001.

MIRANDA, Jorge; MEDEIROS, Rui. Constituição da República Portuguesa anotada, tomo i. Coimbra Editora, 2005.

MOHLER, R. Albert. Culture shift: The battle for the moral heart of America. Multnomah, 2011.

MONEY, John. The concept of gender identity disorder in childhood and adolescence after 39 years. Journal of sex & marital therapy, 1994, 20.3: 163-177.

NETO ANJOS, Joana. Educação sexual, “teoria do género” e “ideologia de género”: o papel do Estado na conformação do direito à autodeterminação da identidade de género. In: FIGUEIREDO, Eduardo (org.). Direito da orientação sexual, da identidade e expressão de género e das características sexuais. Coimbra: Almedina, 2024, p. 347–372.

NOVAIS, Jorge Reis. Os princípios constitucionais estruturantes da República Portuguesa. Coimbra: Coimbra Editoria, 2004.

peers: A review and new model of family influence. 2001.

PERRY, D. G., HODGES, E. V. E., & EGAN, S. K. (2001). Determinants of Chronic Victimization by Peers. In J. Juvonen, & S. Graham (Eds.), Peer Harassment in Schools: The Plight of the Vulnerable and Victimized (pp. 73-104). New York: Guilford Press.

PUCKROSE, Helen; LINDSAY, James. Teorias cínicas. Guerra&Paz, 2023.

SANTOS BOTELHO, Catarina. Os direitos das minorias sexuais e de género no contexto do Conselho da Europa e da União Europeia: entre guerras culturais e resiliência humanista. In: FIGUEIREDO, Eduardo (org.). Direito da orientação sexual, da identidade e expressão de género e das características sexuais. Coimbra: Almedina, 2024, p. 101–140.

SANTOS BOTELHO, Catarina. A Dignidade Da Pessoa Humana–Direito Subjetivo Ou Princípio Axial?. Revista Jurídica Portucalense, 2017, 21.2017: 256-282.

SILVA, Jorge Pereira da. Direitos fundamentais: teoria geral. Universidade Católica Editora, 2018.

STOLLER, Robert J. A further contribution to the study of gender identity. The International journal of psycho-analysis, 1968, 49: 364.

TAJFEL, Henri; TURNER, John C. The social identity theory of intergroup behavior. In: Political psychology. Psychology Press, 2004.

TILLY, Charles; WOOD, Lesley J. Social Movements, 1768-2012. Routledge, 2015. RICHARDSON, Diane; MONRO, Surya. Sexuality, equality and diversity. Bloomsbury Publishing, 2017.

WELZEL, H. (1939). Studien zum System des Strafrechts. Zeitschrift für die gesamte Strafrechtswissenschaft, 58.1: 491–566.

Publiée

2025-10-01

Comment citer

FERREIRA DIAS, J. (2025). Artigo 26º: a identidade pessoal e a livre formação da personalidade a partir da questão da identidade de género. Revista Jurídica Portucalense, 1(38), 328–344. https://doi.org/10.34625/issn.2183-2705(38)2025.ic-17