Editorial ao Suplemento da Revista da SPA com os Resumos ao Congresso SPA 2012

Autores

  • António Augusto Martins Editor da Revista da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia, Serviço de Anestesiologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
  • Lucindo Ormonde Serviço de Anestesiologia, Centro Hospitalar Lisboa Norte
  • Pedro Amorim Serviço de Anestesiologia Centro Hospitalar do Porto

DOI:

https://doi.org/10.25751/rspa.8848

Resumo

O presente número da Revista contem os resumos das 115 comunicações científicas seleccionadas para apresentação no Congresso da SPA em 2012.

Antes do mais queremos salientar que a autoria destas comunicações implica várias centenas de anestesiologistas e demonstra o interesse que os anestesiologistas têm pela sua sociedade, pelo seu congresso e pela actividade científica.

Apesar dos tempos de crise que a sociedade portuguesa enfrenta e de uma situação da medicina nos hospitais públicos em que a actividade científica não vê aumentar o reconhecimento da sua importância, é de assinalar que se continue a verificar um interesse grande pela realização de estudos clínicos e pela preparação de comunicações científicas.

É interessante aliás realizar uma comparação com 2011. No ano passado foram submetidas 215 comunicações e aceites 122; este ano foram submetidas 185 e aceites 115, sendo que o número de comunicações aceites é semelhante. Em percentagem todavia, em 2011 a taxa de aceitação foi de 57% enquanto que este ano foi de 62%, uma clara subida. Este valor, 62%, aproxima-nos da taxa de aceitação observada em congressos internacionais. Também a pontuação média atribuída na avaliação subiu de 51±12 para 54±11, sendo importante referir que a os revisores foram practicamente os mesmos

Mais importante e marcante, é a natureza das comunicações aceites. Em 2011 54% foram casos clínicos, enquanto que este ano os casos clínicos representam apenas 44%. Aumentou pois de modo significativo a percentagem de estudos, a qual este ano é claramente maioritária, com 56%. No que respeita á natureza dos estudos aceites também se observa uma evolução interessante.   Em 2011 27% eram estudos de revisão ou retrospectivos e apenas 19% eram estudos prospectivos (em 2 comunicações não foi possível aplicar nenhuma destas classificações); este ano 21% são retrospectivos, 22% prospectivos e 10% estudos que envolvem questionários ou simulação.

O processo de revisão deve também ser aqui recordado. Recebidas as 185 submissões, foram destas efectuadas cópias desprovidas da identificação dos autores e das respectivas instituições. Cada comunicação foi enviada para 3 revisores independentes, os quais desconheciam a identidade uns dos outros, bem como dos autores. Os revisores são todos anestesiologistas com experiência de apresentação de comunicações em congressos internacionais, ou com experiência de investigação e publicação científica. Um total de 15 revisores participou no processo de avaliação, cada um revendo mais de 35 comunicações. A avaliação de cada comunicação compreendia a soma da pontuação, de zero a 25, em cada um de quatro itens: originalidade da ideia e apresentação, adequação da metodologia e desenho do estudo, resultados e qualidade da sua apresentação e relevância  dos comentários e discussão. Foram aceites para apresentação no Congresso as comunicações que obtiveram uma pontuação média igual ou superior a 50. Nos casos em que os revisores reconheciam uma a comunicação como oriunda do seu serviço ou, através do conteúdo, detectavam a identidade dos autores, declaravam um “conflito de interesse” e abstinham-se da avaliação dessa comunicação. Todas as comunicações foram avaliadas por um mínimo de dois revisores.

Neste ponto queremos fazer algumas considerações sobre as comunicações não aceites para apresentação no congresso, nomeadamente com o objectivo de fornecer aos seus autores, algumas explicações. As comunicações não aceites foram 70 e a sua pontuação média foi de 43 valores. Destes, 63 eram casos clínicos. Na sua maioria trata-se de casos em que se procedeu á anestesia de um paciente com uma condição pouco frequente, cujo manejo segue as regras de boa prática e nos quais nada de inesperado acontece. Compreendemos bem que o manejo destes casos seja estimulante, sobretudo para os jovens em treino envolvidos, os quais sempre se empenham na preparação do doente, no estudo da patologia e na condução peri-operatória. Todavia a apresentação desses casos no congresso da sociedade pouco acrescenta em conhecimento, nomeadamente quando comparada com a informação que se obtém em fontes de fácil acesso, como sejam os livros de texto. Se todo o material submetido fosse aceite, os participantes no congresso seriam inundados com informação excessiva que iria diluir aquela que é relevante e comprometeria o sucesso das sessões de discussão de comunicações. Parece-nos mais importante tentar garantir um padrão de qualidade baseado numa fasquia mais exigente e proporcionar ao congresso e aos congressistas um produto de qualidade. Claro que esta opção implica a frustração de muitos autores, sobretudo jovens, cujo esforço e trabalho não parecem merecer reconhecimento. A esses autores “rejeitados” queremos deixar estas palavras de explicação, mas sobretudo uma mensagem de estímulo de modo a que não deixem de tratar os seus casos e sobretudo de os enviar para avaliação. Este é também um processo de aprendizagem que compensa, pois acaba por resultar numa melhor qualidade e num nível mais elevado de exigência com o que cada um faz. Neste ponto importa chamar a atenção para o facto de mesmo assim haver 50 comunicações aceites que são casos clínicos, o que significa que o número de casos clínicos aceites (50) foi próximo do número de recusados (62). Fica assim garantida a apresentação e discussão pública de muitos casos interessantes cujo conhecimento e debate decerto enriquecerão os congressistas. Ainda no que respeita a comunicações não aceites, falta referir que sete eram estudos clínicos, dois dos quais prospectivos, 4 retrospectivos e um observacional. O motivo para a não aceitação destas comunicações foi sobretudo a escassez de resultados fornecidos no resumo e um desenho do estudo em que não ficava claro o motivo pelo qual o estudo era realizado ou os seus objectivos. Qualquer estudo deve começar com uma pergunta clara e bem definida e com uma metodologia adequada, nomeadamente com a definição dos métodos utilizados na análise dos resultados. E, claro, os resultados devem ser apresentados, pois só a sua análise permite conclusões.

Tal como é habitual, foram seleccionadas para apresentação oral as melhores comunicações científicas. Este ano introduzimos uma inovação no seu processo de selecção. Da revisão inicial efectuada por cada um dos cinco grupos foi elaborada uma lista em que as comunicações foram ordenadas pelo valor obtido na pontuação. A partir desta lista foi elaborada uma lista das 20 comunicações melhor pontuadas. Estas comunicações foram analisadas pelos revisores a quem foi pedido que as ordenassem por ordem decrescente de “qualidade”. Feita a média destas avaliações obteve-se a lista do que consideramos ser as oito melhores comunicações, as quais serão objecto de apresentação oral numa sessão especial do congresso e de destaque na Revista. Trata-se de um processo que implica alguma subjectividade, mas que nos parece mais justo do que o anteriormente usado. É claro que ficaram de fora desta selecção alguns estudos de muita qualidade, que alguns revisores valorizaram muito.

 

O leitor irá encontrar ao longo das 115 comunicações que se seguem numerosos motivos de interesse e um conjunto de temas variado e rico. Trata-se de um bom retrato da nossa especialidade e da nossa prática. São mais numerosos os estudos e casos relacionados com a anestesia propriamente dita, mas há também incursões interessantes em áreas mais específicas como o tratamento da dor, a analgesia obstetrica ou a medicina de emergência e os cuidados intensivos. Há trabalhos interessantes analisando actividades de formação com recurso a simuladores, uma realidade cada vez mais importante na nossa especialidade.  Há vários estudos envolvendo questionários e a análise da opinião de doentes, de cirurgiões e de enfermeiros. Alguns estudos avaliam anestesiologistas numa análise critica da nossa própria prática que nos parece importante. Merecem referencia os estudos que se preocupam com morbilidade, mortalidade e outcome, Há estudos que incidem sobre aspectos do resultado da intervenção cirúrgica sobre os quais a nossa pratica possa ter impacto, o que é uma abordagem importante. Vários estudos analisam populações largas de doentes, seja no âmbito dos cuidados pós-anestésicos ou no contexto de tipos de cirurgia major específicos, como sejam a revascularização do miocárdio ou os transplantes. Há vários exemplos de estudos prospectivos controlados de metodologia bem desenhada, com aprovação pelas autoridades competentes e consentimento dos doentes, segundo as boas prátcias, acompanhados de análises estatísticas adequadas. Nos estudos de natureza retrospectiva nota-se uma grande preocupação com a metodologia e uma qualidade que é claramente superior em relação a anos anteriores. Aliás, dos oito melhores estudos, metade são retrospectivos. A todos os autores queremos dirigir uma palavra de encorajamento no sentido de considerarem a publicação dos seus trabalhos, numa versão desenvolvida, nas páginas desta Resvista ou em outros fóruns da especialidade.

 

Nada disto seria possível sem algumas colaborações dedicadas, Assim, uma palavra muito especial de reconhecimento pelo trabalho da empresa SKYROS - Congressos. Foi impecável o seu o trabalho competente e dedicado na gestão de todos os passos relacionados com as comunicações científicas. Também a qualidade do trabalho de produção da Revista, a cargo da Letra Zen, e o empenho com que foi realizado, merecem um agradecimento especial.

 

Queremos também agradecer publicamente o trabalho dos colegas que reviram as comunicações, cujos nomes são indicados abaixo. Tiveram que o fazer num curto período de tempo e com sacríficios pessoais, mas fizeram-no com dedicação e zelo. A sua colaboração, que se estenderá á moderação da apresentação dos posters, tem subjacente um grande interesse pela actividade científica, uma grande motivação no sentido de contribuir para a melhoria quantitativa e qualitativa da produção científica da anestesiologia portuguesa e um grande sentido pedagógico.

 

As últimas palavras vão para os autores das comunicações. Congratulamo-nos com a forte participação numa das vertentes mais importantes do nosso congresso e endereçamos aos autores um agradecimento pelo interesse na vida da Sociedade e felicitações pela qualidade do seus trabalhos. Sabemos que a maioria dos primeiros autores das comunicações são jovens internos: é para eles que vai grande parte da nossa atenção, é a pensar na sua formação que os revisores avaliam as comunicações e que todo este processo é conduzido. A Sociedade Portuguesa de Anestiosologia, o seu Congresso e a sua Revista, mantêm o compromisso de dedicar espaço e atenção á actividade científica dos seus membros. Nestes tempos difíceis é ainda mais importante investir em formação e em qualidade, melhorar o nível científico da especialidade e com isso os níveis de exigência. Quanto mais e melhor estudarmos e reflectirmos e analisarmos a nossa prática, melhores os cuidados prestados, maior a segurança, melhor o “outcome”.

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Publicado

2016-03-22

Como Citar

Martins, A. A., Ormonde, L., & Amorim, P. (2016). Editorial ao Suplemento da Revista da SPA com os Resumos ao Congresso SPA 2012. Revista Da Sociedade Portuguesa De Anestesiologia, 21(2), 5. https://doi.org/10.25751/rspa.8848

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