A criminalização da imigração irregular e a violação sistemática de Direitos Humanos: a desumanização do imigrante e a institucionalização de um modelo de Direito Penal do autor

Autores

  • Jeannine Tonetto de Aguiar UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil
  • Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÌ - Brasil

Resumo

A expansão do Direito Penal na sociedade contemporânea, decorrente da sua consideração enquanto instrumento precípuo de controle social em face dos riscos que essa sociedade apresenta, não condiz com o modelo de Direito Punitivo característico de Estados Democráticos de Direito. Tal expansão decorre da difusão de discursos sociais de medo e insegurança que são amplamente potencializados e manifestados pela mídia e, quando apropriados pela política, produzem medidas que preconizam a segregação seletiva de grupos considerados enquanto “produtores” de risco, como é o caso dos imigrantes em situação irregular, invariavelmente relacionados ao aumento da criminalidade e da insegurança nos países de destino. Essas medidas representam a institucionalização de um Estado de exceção para o enfrentamento das questões relacionadas às políticas migratórias nos países em que esse fenômeno é mais intenso, como é o caso de alguns países centrais da União Europeia, que vêm convertendo a alteridade do imigrante irregular em princípio de risco, estabelecendo, dessa forma, um etiquetamendo (de não cidadão) sobre esses indivíduos, recomendando-se a utilização de uma nova penalidade (Direito Penal de autor) que, ao criminalizá-los, os coloca em uma situação de extrema vulnerabilidade. Nesse sentido, o presente trabalho busca analisar a institucionalização desse novo modelo de Direito Penal, fundamentado em medidas excludentes, repressivas e segregacionistas que impendem a real efetivação dos direitos humanos, ao afrontar os direitos e garantias fundamentais dos imigrantes em situação irregular, ao transformá-los em meros “objetos” de punição.

Biografias Autor

Jeannine Tonetto de Aguiar, UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil

Mestranda em Direitos Humanos - UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil

Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÌ - Brasil

Doutor em Direito Público (UNISINOS - Brasil)

Referências

AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. Trad. Iraci D. Poleti. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2004.

________. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Trad. Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

ANITUA, Gabriel Ignacio. História dos pensamentos criminológicos. Trad. Sérgio Lamarão. Rio de Janeiro: Revan, 2008.

BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Trad. Mauro Gama e Cláudia Martinelli Gama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

________. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.

________. Vidas desperdiçadas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

________. Medo líquido. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

________. Confiança e medo na cidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.

BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. Trad. Sebastião Nascimento. São Paulo: Editora 34, 2010.

BUTLER, Judith. Vida pracaria: el poder del duelo y la violência. Buenos Aires: Paidós, 2006.

BRANDARIZ GARCÍA, José Ángel. La construcción de los migrantes como categoría de riesgo: fundamento, funcionalidad y consecuencias para el sistema penal español. 2010. Disponível em: <http://ecrim.es/publications/2010/ConstruccionMigrantes.pdf >. Acesso em: 12 jan. 2016.

DE GIORGI, Alessandro. A miséria governada através do sistema penal. Trad. Sérgio Lamarão. São Paulo: Revan, 2006.

DÍEZ RIPOLLÉS, José Luis. De la sociedad del riesgo a la seguridad ciudadana: un debate desenfocado. In: Revista Electrónica de Ciencia Penal y Criminologia. 2005. Disponível em: <http://criminet.ugr.es/recpc/07/recpc07-01.pdf>. Acesso em: 09 jan. 2016.

DONINI, Massimo. El ciudadano extracomunitario: de “objeto material” a “tipo de autor” en el control penal de la inmigración. In: Revista Nuevo Foro Penal, v. 5, n. 72. 2009. Disponível em: <http://publicaciones.eafit.edu.co/index.php/nuevo-foro-penal/article/view/1862/1862>. Acesso em: 09 jan. 2016.

FERREIRA, Helder. Judith Butler reflete sobre atentados em Paris. In: Revista Cult. 2015. Disponível em: <http://revistacult.uol.com.br/home/2015/11/judith-butler-reflete-sobre-atentados-em-paris/>. Acesso em: 12 jan 2016.

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR MIGRATION. Fatal Journeys. Identification and Tracing of Dead and Missing Migrants. Report. Switzerland, v. 2, 2016. Disponível em: < https://publications.iom.int/books/fatal-journeys-volume-2-identification-and-tracing-dead-and-missing-migrants>. Acesso em: 16 jul. 2016.

JAKOBS, Günther. Direito penal do cidadão e direito penal do inimigo. In. CALLEGARI, André Luís; GIACOMOLLI, Nereu José (org. e trad.). Direito penal do inimigo: noções e críticas. 4. ed. atual. e ampl.. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. p. 19-47.

________. Terroristas como pessoas de direito? In.CALLEGARI, André Luís; GIACOMOLLI, Nereu José (org. e trad.). Direito penal do inimigo: noções e críticas. 4. ed. atual. e ampl.. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. p. 49-68.

LÓPEZ SALA; Ana María. La ley de la frontera: migraciones internacionales y control de flujos. In: Revista de Occidente. Madrid: Fundación José Ortega y Gasset. Nº 316, sep. 2007.

LYRA, José Francisco Dias da Costa. Imigração: criminalização e subsistema penal de exceção. Curitiba: Juruá Editora, 2013.

MARTÍNEZ ESCAMILLA, Margarita. La inmigración como delito. Un análisis político-criminal, dogmático y constitucional del tipo básico del art. 318 bis CP. Barcelona: Atelier, 2007.

________. Inmigración, derechos humanos y política criminal: ¿Hasta donde estamos dispuestos a llegar? In: Revista Para el Análisis del Derecho. Nº 3, 2009. Disponível em: <http://www.raco.cat/index.php/InDret/article/viewFile/138050/188695>. Acesso em: 09 jan. 2016.

MELIÁ, Manuel Cancio. “Direito Penal” do Inimigo? In. CALLEGARI, André Luís; GIACOMOLLI, Nereu José (org. e trad.). Direito Penal do Inimigo: noções e críticas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 71-110.

NASCIMENTO, Daniel Arruda. Umbrais de Giorgio Agamben: para onde nos conduz o homo sacer?. São Paulo: LiberArs, 2014.

PÉREZ CEPEDA, Ana Isabel. Globalización, tráfico internacional ilícito de personas y derecho penal. Granada: Comares, 2004.

RUIZ, Castor M. M. Bartolomé. A sacralidade da vida na exceção soberana, a testemunha e sua linhagem: (re)leituras biopolítica da obra de Giorgio Agamben. In: Cadernos IHU. São Leopoldo: Instituto Humanitas Unisinos. Ano 10, nº 39, 2012.

SPIRE, Alexis. Xenofobia em nome do Estado de bem-estar social. In: Le Monde Diplomatique Brasil. 2013. Disponível em: <http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1550>. Acesso em: 09 jan. 2016.

WERMUTH, Maiquel Ângelo Dezordi. Direito penal (do autor) e imigração irregular na União Europeia: do “descaso” ao “excesso” punitivo em um ambiente de mixofobia. In: Revista de Direito Internacional, Brasília, v. 8, n. 2, p. 167-204, jul./dez. 2011.

Downloads

Publicado

2018-05-11

Como Citar

de Aguiar, J. T., & Wermuth, M. Ângelo D. (2018). A criminalização da imigração irregular e a violação sistemática de Direitos Humanos: a desumanização do imigrante e a institucionalização de um modelo de Direito Penal do autor. Revista Jurídica Portucalense, (22), 77–113. Obtido de https://revistas.rcaap.pt/juridica/article/view/9943

Edição

Secção

INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA