As provas de aferição e a epistemologia da Educação Física

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21814/rpe.30795

Palavras-chave:

Educação Física, Avaliação Externa das Aprendizagens, Provas de Aferição, Epistemologia

Resumo

Em Portugal, as provas de aferição foram introduzidas na disciplina de Educação Física com o objetivo de fornecer informações que levem a melhores aprendizagens, o que se traduz em conhecimento novo posto à disposição dos agentes e, por isso, tem implicações na epistemologia da disciplina. Contudo, esse processo está a decorrer sem escrutínio científico, o que é relevante, porque sabemos que as avaliações externas das aprendizagens podem ter efeitos imprevistos e levar a discursos de autoridade ideológica sobre a escola. Assim sendo, importa questionar sobre quais são os discursos que justificam as provas de aferição, qual é a validade e confiabilidade das provas; e quais são as interações entre o conhecimento oferecido pelas provas e as práticas letivas. Para responder, foi implementada uma investigação, inscrita no paradigma interpretativo, na modalidade de estudo de caso instrumental e com abordagem qualitativa, com recurso a análise documental e a análise de conteúdo. Os resultados sugerem que as provas de aferição são implementadas, também, com objetivos de controlo das práticas de Educação Física no 1.º ciclo, de valorização social da disciplina e medem uma parte diminuída das aprendizagens dos alunos, através de processos muito pouco confiáveis. Ainda assim, os resultados são usados para influenciar a generalidade do processo de ensino, o que traduz encobrimento curricular. Conclui-se que as provas suportam a metamorfose epistemológica da Educação Física, do cuidado para o clínico, do sentido para o dever, do jogo para a repetição e da coevolução para a linearidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografias Autor

Nuno José Miranda e Silva, Universidade de Évora, Portugal

Nuno Miranda e Silva, é licenciado em Ciências do Desporto, pela Universidade Técnica de Lisboa, Mestre em Gestão e Administração Educacional, Pela Universidade Aberta e investigador de Doutoramento em Ciências da Educação, junto do Centro de Investigação em Educação e Psicologia da Universidade de Évora. Tem desenvolvido investigação nas áreas das políticas educativas e liderança educacional à luz da Teoria da Complexidade e projetos e pesquisas na área do desporto e da sua relação com a inclusão social e na área da Educação Física.

Atualmente, dedica-se principalmente a um projeto de investigação acerca da relação entre as Ciências da Educação, os processos de investigação e a serendipidade.

É professor do Ensino Básico e Secundário no Agrupamento de Escolas de Montemor-o-Novo, e formador de professores. ORCID ID: 0000-0002-3574-7679. E-mail: nunosilva@aemn.pt.

Sónia Pereira Dinis, Universidade de Évora, Portugal

Sónia Dinis é licenciada em Psicologia e Mestre em Psicologia na Área da Educação, pela
Universidade de Évora e investigadora de Doutoramento em Ciências da Educação no Centro de Investigação em Educação e Psicologia da Universidade de Évora. Foi professora no Ensino Superior Angolano, em cursos nas áreas da Psicologia e da Educação e tem desempenhado cargos de gestão e liderança em instituições de ensino superior do país. Presentemente, desenvolve investigação na área do desenvolvimento profissional dos professores e das aprendizagens significativas. tem publicações nas áreas das práticas letivas, do desenvolvimento profissionals dos professores, da Educação Física e do ensino superior angolano.

Referências

Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo (L. A. Reto & A. Pinheiro, Trads.). Edições 70.

Bart, D. (2015). Le discours de la recherche dans le programme international de suivi des acquis des élèves: Un mode d’exposition pour un effet d’imposition?. Revue Française de Pédagogie, 191(2), 89-100. https://doi.org/10.4000/rfp.4764

Berger, G. (2009). A investigação em educação: Modelos sócioepistemológicos de inserção de inserção institucional. Educação, Sociedade & Culturas, (28), 175-192.

Berkovich, I., & Benoliel, P. (2020). The educational aims of the OECD in its TALIS insight and lesson reports: Exploring societal orientations. Critical Studies in Education, 61(2), 166-179. https://doi.org/10.1080/17508487.2017.1370428

Borralho, A. M., Fialho, I., & Cid, M. (2015). A triangulação sustentada de dados como condição fundamental para a investigação qualitativa. Revista Lusófona de Educação, 29(29), 53-69. https://revistas.ulusofona.pt/index.php/rleducacao/article/view/5094

Debeer, D., Buchholz, J., Hartig, J., & Janssen, R. (2014). Student, school, and country differences in sustained test-taking effort in the 2009 PISA reading assessment. Journal of Educational and Behavioral Statistics, 39(6), 502-523. https://doi.org/10.3102/1076998614558485

DeLuca, C., LaPointe-McEwan, D., & Luhanga, U. (2016). Approaches to classroom assessment inventory: A new instrument to support teacher assessment literacy. Educational Assessment, 21(4), 248-266. https://doi.org/10.1080/10627197.2016.1236677

Direção-Geral de Educação [DGE] (2023a). Aprendizagens Essenciais: Educação Física (8.º ano) [Currículo escolar]. Direção-Geral de Educação. https://www.dge.mec.pt/sites/default/files/Curriculo/Aprendizagens_Essenciais/3_ciclo/educacao_fisica_3c_8a_ff.pdf

Direção-Geral de Educação [DGE] (2023b). Aprendizagens Essenciais: Educação Física (Anexo I) [Currículo do Ensino Básico]. Direção-Geral de Educação. https://www.dge.mec.pt/sites/default/files/Curriculo/Aprendizagens_Essenciais/1_ciclo/anexo1_ef.pdf

Direção-Geral de Educação [DGE] (2023c). Aprendizagens Essenciais: Educação Física (Anexo III) [Currículo do Ensino Básico e do Ensino Secundário]. Direção-Geral de Educação. https://www.dge.mec.pt/sites/default/files/Curriculo/Aprendizagens_Essenciais/3_ciclo/anexo3_ef.pdf

Direção-Geral de Estatísticas da Educação. (2022). Resultados escolares por disciplina: 3.º Ciclo do ensino público geral (Portugal continental – 2011/12-2020/21). Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência. https://www.dgeec.mec.pt/np4/413/%7B$clientServletPath%7D/?newsId=899&fileName=DGEEC_Resultados_por_disciplina_3ciclo_s3.pdf

Fernandes, D. (2019). Avaliações externas e aprendizagens dos alunos: Uma reflexão crítica. Linhas Críticas, 25, e24579. https://doi.org/10.26512/lc.v25.2019.24579

Fialho, N., & Fernandes, D. (2011). Práticas de professores de Educação Física no contexto da avaliação inicial numa escola secundária do concelho de Lisboa. Meta:Avaliação 3(8)168-191.

Gess-Newsome, J. (2015). A model of teacher professional knowledge and skill including PCK: Results of the thinking from the PCK Summit. In A. Berry, A. Frieddrichsen & J. Loughran (Eds.), Reexamining pedagogical content knowledge in science education (pp. 28-42). Routledge.

Gilligan, C. (2016). In a different voice: Psychological theory and women’s development. Harvard University Press.

González-Calvo, G., Barba-Martín, R. A., Bores-García, D., & Hortigüela-Alcalá, D. (2022). The (virtual) teaching of Physical Education in times of pandemic. European Physical Education Review, 28(1), 205-224. https://doi.org/10.1177/1356336X211031533

Grawitz, M. (1993). Méthodes des Sciences Sociales (9e Éd.). Éditions Dalloz.

Guba, E. G., & Lincoln, Y. S. (1998). Competing paradigms in qualitative research. In N. K. Denzin, & Y. S. Lincoln, The landscape of qualitative research: Theories and issues (pp. 195-219). SAGE Publications.

Hatch, J. A. (2002). Doing qualitative research in education settings. State University of New York Press.

Instituto de Avaliação Educativa. (2018). Prova de Aferição de Educação Física – Critérios de Classificação. Instituto de Avaliação Educativa. https://iave.pt/wp-content/uploads/2020/04/PA-EF84-2018-CC-V1.pdf

Instituto de Avaliação Educativa. (2019). Prova de Aferição de Expressões Físico-Motoras. Instituto de Avaliação Educativa. https://iave.pt/wp-content/uploads/2020/01/PA-EFM28-2019-GUIAO-V1.pdf

Instituto de Avaliação Educativa [IAVE] (2022a). Informação-prova: 5.º ano de escolaridade. Instituto de Avaliação Educativa. https://iave.pt/wp-content/uploads/2022/11/IP-PA-5-2023-2.pdf

Instituto de Avaliação Educativa [IAVE] (2022b). Provas de Aferição do Ensino Básico 2022: Resultados Nacionais. Instituto de Avaliação Educativa. https://iave.pt/wp-content/uploads/2022/12/Relatorio-Provas-de-Afericao_Resultados-Nacionais_2022_Final.pdf

Instituto de Avaliação Educativa [IAVE] (2022c). Prova de Aferição de Educação Física. Instituto de Avaliação Educativa. https://iave.pt/wp-content/uploads/2022/06/PA-EF84-2022-GUIAO-V1_net.pdf

Instituto de Avaliação Educativa [IAVE] (2022d). Prova de Aferição de Educação Física – Critérios de Classificação. Instituto de Avaliação Educativa. https://iave.pt/wp-content/uploads/2022/06/PA-EF84-2022-CC_net.pdf

Jacinto, J., Carvalho, L., Comédias, J., & Mira, J. (2001). Programa de Educação Física: 10.º, 11.º e 12.º [Programa de formação geral dos cursos científico-humanísticos]. Ministério da Educação. https://www.dge.mec.pt/sites/default/files/Secundario/Documentos/Documentos_Disciplinas_novo/Curso_Ciencias_Tecnologias/Educacao_Fisica/ed_fisica_10_11_12.pdf

Jensen, D. (2016). Metaphors as a bridge to understanding educational and social contexts. International Journal of Qualitative Methods, 5(1), 36-54. https://doi.org/10.1177/160940690600500104

Lopo, T. T. (2021). The political decision on Portugal’s entry into PISA: A research note. Policy Futures in Education, 19(6), 723-729. https://doi.org/10.1177/1478210320971537

Madaus, G., Russell, M., & Higgins, J. (2009). The paradoxes of high stakes testing: How they affect students and their parents, teachers, principals, schools and society. Information Age Publishing.

Méndez, A., Valero, A., & Casey, A. (2010). What are we being told about how to teach games? A three-dimensional analysis of comparative research into different instructional studies in Physical Education and School Sports. Revista Internacional de Ciencias del Deporte, VI(18), 37-56. https://doi.org/10.5232/ricyde2010.01803

Merriam, S. B., & Tisdell, E. J. (2016). Qualitative research: A guide to design and implementation (4th Ed.). Jossey-Bass.

Neves, R., Almeida, D. M., & Capela, A. J. (2023). Educação Física no 1.º Ciclo do Ensino Básico (1.º CEB), Provas de Aferição e pais: Perceções globais. Motrivivência, 35(66), 1-13. https://doi.org/10.5007/2175-8042.2023.e93994

Neves, R., Morato, D., & Capela, A. (2024). Os professores do 1.º CEB e as Provas de Aferição em Educação Física: Importância, preparação e expecativas. Conhecimento & Diversidade, 16(41), 1-16. https://doi.org/10.18316/rcd.v16i41.11363

Öhman, M., & Quennerstedt, A. (2017). Questioning the no-touch discourse in Physical Education from a children’s rights perspective. Sport, Education and Society, 22(3), 305-320. https://doi.org/10.1080/13573322.2015.1030384

Parlebas, P. (2001). Juegos, deporte y sociedad: Léxico de praxiologia motriz (F. G. Campo Román, Trad.). Editorial Paidotribo.

Peräkylä, A. (2005). Analyzing talk and text. In N. K. Denzin & Y. S. Lincoln (Eds.), The SAGE handbook of qualitative research (pp. 869-886). SAGE Publications.

Pools, E., & Monseur , C. (2021). Student test-taking effort in low-stakes assessments: Evidence from the English version of the PISA 2015 science test. Large-scale Assessement in Education, 9(10). https://doi.org/10.1186/s40536-021-00104-6

Portaria n.º 223-A/2018, de 3 de agosto. Diário da República, 1.ª série – N.º 149 (1.º suplemento). https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/portaria/223-a-2018-115886163

Schlosser, A., Neeman, Z., & Attali, Y. (2019). Differential performance in high versus low stakes tests: Evidence from the Gre Test. The Economic Journal, 129(623), 2916-2948. https://doi.org/10.1093/ej/uez015

Silva, N. M. (2019). Liderar organizações complexas: O caso das escolas. Chiado Books.

Silva, N. M. (2022). Grounded Theory para iniciantes: Contributo para a investigação em educação. Cadernos de Pesquisa, 52, e08563. https://doi.org/10.1590/198053148563

Silva, N. M. (2024). Material complementar: As provas de aferição e a epistemologia da Educação Física. Harvard Dataverse. https://doi.org/10.7910/DVN/GXT4EX

Silva, N. M., & Dinis, S. P. (2022). A Educação Física nos tempos de crise: Que estatuto emerge?. Revista Portuguesa de Investigação Educacional, (23), 1-33. https://doi.org/10.34632/investigacaoeducacional.2022.11400

Silva, N. M., & Dinis, S. P. (2023). As práticas letivas na educação física durante a pandemia: Expectativas e realidades. Educação e Pesquisa, 49, e234016. https://doi.org/10.1590/S1678-4634202349262256

Stake, R. E. (2009). A arte da investigação com estudos de caso (A. M. Chaves, Trad., 2.ª Ed.). Fundação Calouste Gulbenkian.

Varea, V., & González-Calvo, G. (2021). Touchless classes and absent bodies: Teaching Physical Education in times of COVID-19. Sport, Education and Society, 26(8), 831-845. https://doi.org/10.1080/13573322.2020.1791814

Downloads

Publicado

2024-09-30

Como Citar

Miranda e Silva, N. J., & Dinis e Silva, S. M. P. D. e S. (2024). As provas de aferição e a epistemologia da Educação Física . Revista Portuguesa De Educação, 37(2), e24033. https://doi.org/10.21814/rpe.30795