Risco de alergenicidade de insectos comestíveis, uma revisão sistemática de estudos em humanos
DOI:
https://doi.org/10.25746/ruiips.v11.i3.32027Palavras-chave:
insects; edible; allergiesResumo
INTRODUÇÃO: O consumo de insetos é uma prática comum na África, Ásia, Austrália ou na América Latina, onde os insetos constituem uma importante fonte de nutrientes. A produção de insetos comestíveis é mais ecológica, uma vez que requer menor uso de alimentos, água e solo e emite menos gases de efeito estufa, em comparação com as fontes tradicionais de proteína animal. Tal, despertou o interesse dos países ocidentais e, na Europa, os insetos edíveis como fonte emergente de alimento são enquadrados na categoria de novos alimentos e novos ingredientes alimentares. Ainda assim, existem preocupações sobre questões de segurança dos alimentos, nomeadamente alergias alimentares induzidas por sensibilização direta ou reatividade cruzada de imunoglobulinas E (Ig E) entre alérgenos de insetos, crustáceos e ácaros da poeira doméstica (APD), conhecidos como pan-alérgenos. Considerando a possibilidade de cultura e comercialização de insetos na Europa, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos solicitou avaliações científicas de risco com foco na alergenicidade. O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão sistemática de forma a atualizar informações sobre estudos de avaliação de alergenicidade a insetos. MÉTODOS: Realizaram-se pesquisas no PubMed, Web of Science e Science Direct usando palavras-chave específicas relacionadas a insetos comestíveis e alergias. Os critérios de inclusão foram estudos humanos publicados entre 2012 e 2022, artigos escritos em idiomas europeus; utilizaram-se dois conjuntos de palavras-chave. A extração de dados foi realizada de forma independente por dois investigadores e construiu-se ainda um formulário padronizado com base na ferramenta da Cochrane Collaboration para avaliar o risco de viés para estudos em humanos. RESULTADOS: Os trabalhos consultados evidenciaram a significância clínica dos alérgenos na larva Mopane numa comunidade rural africana ocupacionalmente exposta, com 50% dos participantes alérgicos e com sintomas respiratórios. Um relato de caso descreveu ainda uma anafilaxia alimentar grave em França, causada pelo consumo de uma larva da farinha cozida num indivíduo alérgico a APD, mas não a crustáceos; as proteínas específicas identificadas como alérgenos incluíram a hexamerina, a tropomiosina, a α-amilase (estruturalmente semelhante ao APD) e proteínas da cutícula da larva A1A e A2B. A reatividade cruzada entre grilos e camarões foi demonstrada num outro trabalho, com a tropomiosina identificada como o principal alérgeno. Noutro estudo, demonstrou-se ainda a reatividade cruzada entre alérgenos de larva da farinha, crustáceos e APD, com a tropomiosina e a arginina quinase identificadas como os principais alérgenos de reação cruzada. Um estudo sobre o efeito do processamento térmico na alergenicidade demonstrou que algumas proteínas eram termoestáveis e que o efeito do tratamento térmico no reconhecimento cruzado de IgE dos alérgenos era específico da proteína, da espécie e do tratamento. Apesar de o processamento térmico reduzir parcialmente a alergenicidade cruzada, pacientes alérgicos a APD, camarão e larvas foram aconselhados a serem cautelosos ao consumir insetos. CONCLUSÃO: Os estudos consultados destacam a necessidade de cautela ao consumir insetos edíveis em indivíduos com alergias conhecidas a alérgenos relacionados, e forneceram informações relevantes sobre potencial alergénico, reatividade cruzada e impacto do processamento na compreensão e gestão dos riscos alérgicos associados aos insetos edíveis.
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