How can Agriculture position itself for a sustainable ecological transition?
DOI:
https://doi.org/10.25746/ruiips.v8.i3.21325Abstract
Como poderá a Agricultura posicionar-se para a transição ecológica sustentável?
O Pacto Ecológico Europeu, Green Deal, evidencia 50 medidas para a neutralidade carbónica até 2050. Este é sem dúvida um dos maiores desafios colocados à comunidade científica e à sociedade em geral para definirem estratégias colaborativas e políticas fundamentais que alavanquem a transição ecológica sustentável. Os objetivos de desenvolvimento sustentável patentes na Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU) (2015) reconheceram igualmente a importância do sector agroalimentar e alertaram para o imperativo urgente de promover a transição dos sistemas alimentares globais para sistemas agroalimentares, de base territorial, assentes em modos de produção, de distribuição e de consumo mais sustentáveis. Estas preocupações são também consubstanciadas na estratégia “From farm to fork” que, em consonância, estabeleceu, em termos de mitigação das alterações climáticas, a redução dos efeitos de estufa em 55% dos níveis verificados em 1990. A nível nacional foram apresentadas 15 iniciativas que constam na Agenda de Inovação para a Agricultura 2020-2030, as quais deverão ser implementadas em forte articulação com as Escolas Superiores Agrárias da rede de Ensino Politécnico, não só pela sua distribuição territorial, como também pela sua capacidade reconhecida de produção de conhecimento, de tecnologia e criação de valor.
Neste mês de outubro, em que esta revista é publicada, celebra-se mais um Dia Mundial da Alimentação, criado pela FAO (Food and Agriculture Organization - ONU) com o objetivo de promover a consciencialização e a ação global para aqueles que sofrem de fome e para a necessidade de garantir dietas saudáveis para todos. Espera-se que não seja em vão, que se reiteram alguns números atuais - 820 milhões são afetadas pela fome, enquanto se desperdiça um terço da comida produzida no mundo (mais de mil milhões de toneladas de alimentos por ano). Estima-se que até ao ano de 2050 a produção de alimentos tenha de aumentar 60% para conseguir acompanhar o crescimento da população mundial.
Como poderá o sistema agroalimentar nacional posicionar-se para atingir estes ambiciosos objectivos?
É imperativo delinear estratégias que garantam um maior acesso à alimentação segura e de qualidade, baseada em modos de produção mais sustentáveis. A importância da Inovação Tecnológica nos sistemas de produção para o incremento de sustentabilidade é inquestionável. A evolução para uma agricultura mais sustentável, numa altura em que se prevê uma drástica redução do número de pesticidas, a par de uma preocupação crescente sobre os efeitos dos pesticidas, nomeadamente por parte da sociedade, é absolutamente necessário, promovendo o uso de meios de luta alternativos, rumo a uma agricultura resíduo zero. Nesta óptica, reforça-se a importância de práticas que muitas vezes são relegadas para segundo plano, nomeadamente as práticas culturais, meios de luta genéticos, utilização de variedades melhoradas. A investigação e desenvolvimento no sector agroalimentar tem-se também desenvolvido ao nível da fronteira, importando para o sector modelos de gestão e de automação, baseados no uso de sensores em tempo real, contribuindo assim para a maior eficiência de utilização do nexus água/nutrientes/energia, num contexto de agricultura 4.0. A nível energético há ainda um longo caminho a percorrer. No entanto, a importância da procura de novas fontes de água, bem como a gestão eficiente deste recurso é hoje um paradigma que necessita de uma abordagem séria, estratégica e integrada a nível nacional. A utilização sustentável de raças autóctones melhor adaptadas às condições edafoclimáticas portuguesas é um aspeto cada vez mais relevante no decurso das alterações climáticas. Portugal, sendo um país europeu de reduzida extensão territorial, apresenta uma vasta e rica biodiversidade de recursos genéticos animais, espelhada nas mais de 50 raças de animais domésticos reconhecidas no país. Interessa então o desenvolvimento do conhecimento técnico-científico nesta área da criação, da preservação e do estudo de várias raças autóctones portuguesas. Outro aspeto relevante para se assegurar uma produção animal cada vez mais eficiente centra-se no aumento da produtividade, com redução da mortalidade.
É, num quadro concetual para a transição ecológica sustentável, que decorrem as atividades de investigação e desenvolvimento versadas no presente número, dedicado ao domínio das Ciências Naturais e Ambiente. Reúnem-se 14 artigos que analisam questões e conhecimentos atuais no âmbito dos sistemas agroalimentares, propondo soluções de inovação para a agricultura, zootecnia e agroindústrias, introduzindo preocupações económicas, sociais e ambientais e de auxílio aos consumidores na escolha de dietas saudáveis. São ainda palavras-chave nos 14 artigos que se apresentam: melhoria de produtividade, diminuição de custos, aumento da rentabilidade, desenvolvimento de novos produtos, valorização de resíduos e requalificação de subprodutos, combate ao desperdício alimentar, circuitos curtos de distribuição, escolhas dos consumidores, mercados de produtores, a valorização de produtos nacionais, raças autóctones, a segurança alimentar e nutricional e o desenvolvimento das economias locais.
A agricultura, a produção animal e a indústria alimentar são atividades com uma importância estratégica na sociedade e na economia do País, especialmente determinantes na sequência da pandemia causada pela COVID-19, não apenas pela perspetiva de criação de riqueza, mas pelas mudanças na forma e na diversidade de produtos com que poderá satisfazer novos padrões de consumo. Com este volume pretende-se apoiar os investigadores, decisores, professores, agricultores e políticos que desejem construir um sistema agroalimentar seguro e sustentável para as gerações futuras.
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