Perceção háptica em bebés utilizadores de chupeta ergonómica
DOI:
https://doi.org/10.25746/ruiips.v7.i2.19311Palavras-chave:
Perceção Háptica, Bebés, Boca, Chupeta ErgonómicaResumo
Os bebés são sensíveis e reagem às mudanças nas características dos objetos (Rochat, 1987; Streri, Lhote & Dutilleul, 2000), podendo explorar o espaço e ser sensíveis a diferentes orientações de uma haste sustentada pelas mãos (Gentaz & Streri, 2002). Os bebés de um ano de idade apresentam memória de reconhecimento háptico após um curto período de familiarização háptica, manipulando objetos novos de maneira diferente de objetos familiares (Gottfried & Rose, 1980).
A sucção não nutritiva (NNS) é definida como sucção sem receção de fluido, sendo um comportamento natural reconhecido como um mecanismo de pacificação para crianças pré-termo e de termo. A sucção do polegar e outros movimentos de sucção ocorrem em fetos humanos a partir da 12.ª semana de gestação (Hepper, Shahidullah & White, 1991).
Durante a familiarização com os mamilos duros simulados, bebés de dois meses revelam diminuição de atividade irregular da boca, enquanto que a quantidade de NNS aumenta, o que sustenta a hipótese de que a informação sobre objetos é detetada na boca durante NNS (Pêcheux, Lepecq & Salzarulo, 1988).
A exploração através da boca aumenta até aos sete meses de idade e depois diminui até aos onze meses, enquanto as habilidades manuais progridem e se diversificam entre cinco e onze meses de idade (Ruff, Saltarelli, Capozzoli & Dubiner, 1992).
Os objetivos deste trabalho foram verificar se os bebés respondiam as diferentes orientações espaciais da chupeta na boca; e, em caso afirmativo, quais as ações motoras implementadas por eles, quando restringidos com diferentes orientações espaciais de uma chupeta ergonómica na boca.
A amostra compôs-se de 10 bebés (idade decimal: 271,6 ± 60,8 dias, mínimo: 191 dias, máximo: 352 dias), 5 do género feminino, pertencentes a dois jardins de infância, utilizadores de chupetas ergonómicas (razão de sucção: 1,1 ± 0,8/segundo). Consentimento informado foi obtido. Assentimento foi assumido se o bebé não evitasse a chupeta, não chorasse, não estivesse sonolenta e não rejeitasse a presença da experimentadora. Foi usada a chupeta de cada bebé.
As chupetas foram colocadas por uma mesma experimentadora nas bocas dos bebés, em três posições relativamente à posição padrão: (i) rodada 90 graus no sentido horário; ii) rodada 90 graus no sentido anti-horário; iii) rodada 180 graus. As condições foram alternadas entre os bebés. Os dados foram recolhidos com a criança despertada e de bom humor, usando sua cadeira reclinada aproximadamente 110 a 130 graus (Harrison et al., 1999), num lugar com poucos objetos e ruído mínimo. A gravação foi realizada com a câmara na diagonal, ao nível da boca do bebé. A chupeta era apresentada ao nível dos olhos da linha mediana da criança e a aproximadamente a 50 cm (e.g., Banks, 1980). Cada criança fez 1 ensaio em cada condição.
Quando confrontados com os constrangimentos espaciais da posição da chupeta, todos os bebés apresentaram comportamentos motores ativos, divisíveis em 3 categorias: i) reposicionou a chupeta na posição espacial padrão, através de 3 modos possíveis - girando-a com a boca; agarrando-a e giranda com a mão; ou cuspindo-a e recolocando-a na boca; ii) reposicionou a chupeta, mas 180 graus em relação à posição espacial padrão, através das mesmas ações mencionadas em i); e, iii) rejeitou a posição chupeta, cuspindo-a ou mordendo-a. Os resultados revelaram que não houve associação entre a idade decimal e a frequência de ocorrência de comportamentos. Não foi encontrada diferença entre géneros na frequência de ocorrência de comportamentos. O comportamento sucedido de recolocação da chupeta com a boca ocorreu 11 vezes (em 30 ensaios possíveis), enquanto a rotação da chupeta sucedida ocorreu 2 vezes. Houve casos de bebés que fizeram ações sucessivas para recolocar a chupeta, e.g., na condição anti horária, uma criança do sexo masculino com 221 dias de idade agarrou-a e girou-a, mas também a girou com a boca, e uma criança do sexo feminino com 303 dias de idade, cuspiu-a, agarrou-a e recolocou-a na boca, e, finalmente, girou-a com a boca. De uma questão aberta colocada aos pais, pedindo-lhes para relatar comportamentos lúdicos com a chupeta que tivessem observado na sua criança, obtivemos respostas relatando comportamentos como: deslocamentos para a frente e para trás com a boca; fazê-la tremer com a boca; agarrá-la e olhar para ela; mordê-la, girá-la com a boca, retirá-la e recolocá-la na boca.
Os resultados revelam que estes bebés detetaram a posição incorreta da chupeta na boca, suportando a hipótese de que as propriedades de um objeto são detetadas durante a exploração deste na boca (cf., Rochat, 1987; Streri, Lhote & Dutilleul, 2000). A equivalência motora (e.g., Wing, 2000) esteve presente nas suas ações motoras, i.e., as crianças implementaram variações de uma solução motora para uma mesma necessidade, e.g., rodar a chupeta com a boca nos dois sentido, horário e anti-horário; ou, apresentaram diferentes soluções motoras para essa mesma necessidade, e.g., rodar a chupeta com a boca ou com a mão. Algumas crianças revelaram a capacidade de tentar resolver seu problema através de ações motoras sucessivas, o que significa que ciclos perceção-ação estiveram presentes, i.e., após a deteção percetiva de posição de chupeta incorreta, uma ação motor foi realizada, e se a posição de chupeta era detetada como novamente incorreta nova ação motora era implementada. Todas estas ações revelam que os bebés detetam e procuram a affordance ergonómica da chupeta, para a ter confortavelmente na boca (cf., Rochat, 1987). A ocorrência destes ciclos perceção-ação prova que a perceção háptica está presente na boca, é usada por bebés para resolver um problema espacial através de ações motoras e que as chupetas, como implementos, são usadas em brincar funcional (relatórios dos pais).
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