Recomendações Portuguesas para a Abordagem Multidisciplinar da Hemorragia Obstétrica - Elaboradas por Grupo Multidisciplinar de Consensos 2017
DOI:
https://doi.org/10.25751/rspa.14811Palavras-chave:
Complicações na Gravidez, Complicações do Trabalho de Parto, Consenso, Hemorragia Pós-Parto, Hemorragia Uterina Sistemas Automatizados de Assistência Junto ao LeitoResumo
Estes consensos têm como objetivo fornecer uma ferramenta alicerçada na evidência científica atual, que possa ter aplicabilidade prática e que contribua para a abordagem multidisciplinar, transversal e sistemática, da hemorragia em obstetrícia. Constituem uma revisão das recomendações existentes, visando facilitar a sua divulgação e implementação, e introduzir consistência na prática clínica. Estas orientações foram elaboradas, sob a égide da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia, por consenso multidisciplinar, entre especialistas de Anestesiologia, Ginecologia/Obstetrícia, Imunohemoterapia e Hematologia.
A hemorragia em obstetrícia é a principal causa de morbimortalidade materna, mesmo em países desenvolvidos, sendo a causa mais evitável de mortalidade. A hemorragia pós-parto é a sua forma mais frequente (5% - 10% dos partos), tendo vindo a aumentar na última década.
Os fatores que contribuem para outcomes adversos são: atraso no tratamento pela subestimação das perdas, atraso na disponibilidade de componentes sanguíneos, ausência de algoritmos de atuação, falta de conhecimentos/treino, comunicação interdisciplinar insuficiente e organização inadequada.
É fundamental identificar os fatores de risco para hemorragia obstétrica.
A definição clássica de hemorragia pós-parto minor é perdas sanguíneas > 500 mL após parto vaginal e > 1000 mL após cesariana e hemorragia pós-parto major com perdas > 1000 mL. A hemorragia pós-parto major pode, ainda, ser subdividida em moderada (1000-2000 mL) e severa (> 2000 mL), no entanto o American College of Obstetricians and Gynecologists reviu recentemente esta definição como sendo perdas sanguíneas cumulativas ≥ 1000 mL ou perdas hemáticas acompanhadas de sinais e sintomas de hipovolemia nas 24 horas após o parto. Esta definição vai de encontro à definição de hemorragia massiva da European Society of Anesthesiologists e da Direção Geral de Saúde.
Todas as Unidades Obstétricas devem ter um protocolo institucional multidisciplinar para gestão da hemorragia em obstetrícia, devendo envolver precocemente uma equipa multidisciplinar. Este protocolo deve dar origem a um algoritmo de atuação, prático e sucinto, cujo objetivo é sistematizar e organizar a resposta dos profissionais e da instituição, de acordo com a gravidade da hemorragia.
É recomendável monitorização “point-of-care” para orientação terapêutica e a possibilidade de utilização imediata de ácido tranexâmico, concentrado de fibrinogénio e balões hemostáticos.
Todos os profissionais envolvidos nos cuidados maternos devem realizar regularmente treino multidisciplinar na hemorragia em obstetrícia.
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