Padrão de infeção e antibioterapia em unidade de cuidados intensivos

Autores

  • Natércia Coelho Centro Hospitalar Tondela-Viseu, Viseu, Portugal
  • Madalena Cunha Instituto Politécnico de Viseu, Escola Superior de Saúde, UICISA:E, SIGMA – Phi Xi Chapter, CIEC - UM, Viseu, Portugal

DOI:

https://doi.org/10.29352/mill0205e.33.00339

Palavras-chave:

infeção associada aos cuidados de saúde, microrganismos multirresistentes, antibioterapia

Resumo

Introdução: A temática central deste estudo é a infeção, mais especificamente as Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde (IACS), associadas ao uso de dispositivos invasivos, como o Tubo Endotraqueal (TET) e Ventilação Mecânica, Cateter Venoso Central (CVC) e Cateter Vesical (CV), bem como os microrganismos envolvidos e antimicrobianos utilizados, em contexto de cuidados intensivos. 

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) são os serviços com maior probabilidade para a ocorrência de IACS e resistência à antibioterapia, sendo os profissionais de saúde confrontados com a gravidade do estado clínico dos doentes e com a sua suscetibilidade para a aquisição de IACS. 

É essencial reduzir o uso de dispositivos invasivos para prevenir a infeção e minimizar a transmissão cruzada. A problemática da resistência aos antimicrobianos é superior nas UCI, maioritariamente associada à severidade da situação clínica dos doentes, ao uso frequente de antibióticos e à heterogeneidade na implementação das medidas de prevenção e controlo das IACS. 

Objetivos: 

- Identificar as IACS relacionadas com dispositivos invasivos (TET, CVC e CV) adquiridas na UCIP; 

- Calcular as Taxas de Incidência e a Densidade de Incidência das IACS relacionadas com o uso de TET, do CVC e do CV, na UCIP; 

- Calcular as Taxas de Exposição aos dispositivos invasivos TET, CVC e CV, na UCIP; 

- Descrever a tipologia de microrganismos existentes na UCIP; 

- Identificar os antimicrobianos mais prescritos na UCIP. 

 

Métodos: O estudo equacionado para esta investigação engloba os métodos de análise quantitativa; insere-se no tipo de investigação não experimental; é um estudo, descritivo e analítico porque, visa analisar essencialmente os fatores de risco para as IACS extrínsecos ao doente, tais como o tempo de exposição aos dispositivos invasivos, como o TET e a Ventilação Mecânica, o CVC e o CV, mas também analisa a situação prévia dos doentes críticos antes da admissão na UCIP, quanto aos dias de hospitalização e submissão a antibioterapia. Pretende também identificar quais os principais microrganismos responsáveis pelas IACS adquiridas na UCIP e respetiva antibioterapia instituída, acreditando-se que é nestes fatores que a mudança das práticas pode diminuir a incidência deste tipo de infeção. 

Este estudo inclui doentes internados numa UCIP, que pertence a um Centro Hospitalar da zona centro de Portugal, submetidos a ventilação mecânica num período superior ou igual a 48 horas, com três ou mais dias de internamento nesta unidade. Retrospetivamente foram analisados os registos clínicos correspondentes a um período de 6 meses situado entre, 1 de Julho a 31 de Dezembro, dos anos 2010, 2011 e 2012. A escolha deste período residiu na tentativa de procurar amostras similares, suportada na semelhança do tipo de doentes admitidos nas épocas dos anos em estudo. 

Resultados: Na UCIP, no período em estudo, 26 doentes (16%) desenvolveram IACS durante o internamento, verificando-se também uma diminuição destes valores ao longo dos três anos. 

Um dos principais resultados deste estudo consiste na identificação da Infeção Respiratória Associada à Ventilação (IRAV) como a IACS mais incidente, afetando 18 doentes (69,2%) dos 26 que adquiriram IACS; em segundo plano ficam a infeção da corrente sanguínea associada ao CVC e a infeção do trato urinário associada ao cateter vesical, ambas com 15,4% de taxa de incidência. Constatou-se que o CV foi o dispositivo com Taxas de exposição mais elevadas (0,98), ficando em segundo plano o TET com 0,81 e o CVC foi o dispositivo com taxas mais baixas (0,79). Quanto aos microrganismos responsáveis pelas IACS diagnosticadas neste estudo foram maioritariamente o Staphylococcus aureus Meticilino-Resistente (45,8%), a escherichia coli (12,4%), e a enterobacter aeroginosas (8,4%). Relativamente aos microrganismos responsáveis pela IRAV isolados neste estudo, o que surge em maior número nos três anos é o Staphylococcus aureus meticilino-resistente (50%), seguido da escherichia coli (12,4%) e pseudomonas aeruginosa (6,2%). Em 96,2% dos casos de IACS foi instituída antibioterapia, na sua maioria como antibioterapia empírica (65,2%), denotando-se que apenas 34,8% correspondiam a antibióticos dirigidos ao agente causal. A maioria dos doentes admitidos na UCIP (86,5%) nos três anos é submetido a antibioterapia prévia ao internamento nesta unidade, e na maioria dos casos (84,8%) de forma empírica. 

Conclusões: Este estudo mostra que a IACS mais incidente na UCIP é a IRAV, o agente infetante isolado na maioria dos casos foi o Staphylococcus aureus Meticilino-Resistant, e a antibioterapia instituída foi maioritariamente empírica. A exposição dos doentes aos dispositivos invasivos é significativa, identificando-se taxas de exposição ao CV, TET e CVC elevadas. 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

American Thoracic Society (2005). Guidelines for the management of adults with Hospital-acquired, ventilator-associated, and healthcare-associated pneumonia. Am J Critical Care Med, 171, 388-416. DOI: 10.1164/rccm.200405-644ST.

Arroliga, A. C., Pollard, C.l., Wilde, C.d., Pellizzari, S.J., Chebbo, A., Song, J.S., Ordner, J., Cormier, S., & Meyer, T. (2012). Reduction in the incidence of ventilator-associated pneumonia: A multidisciplinary approach. Respiratory Care, 57(5), 688-696. Acedido em http://search.ebscohost.com

Bianco, A., Capano, M., Mascaro, V., Pileggi, C., & Pavia, M. (2018). Prospective surveillance of healthcare-associated infections and patterns of antimicrobial resistance of pathogens in an Italian intensive care unit. Antimicrobial Resistance and Infection Control, 7, 48. DOI: org/10.1186/s13756-018-0337-x

Bonten, M. J. M. (2011). Ventilator-Associated Pneumonia: Preventing the Inevitable. Clinical Infectious Diseases, 52(1), 115-21. DOI: 10.1093/cid/ciq075

Bouadma, L., Deslandes, E., Lolom, I., Le Corre, B., Mourvillier, B., Regnier, B., Porcher, R., Wolff, M., & Lucet, J. C. (2010). Long-Term Impact of a Multifaceted Prevention Program on Ventilator-Associated Pneumonia in a Medical Intensive Care Unit. Clinical Infectious Diseases, 51(10), 1115-1122. Doi:10.1086/656737

Cardoso, T., Ribeiro, O., Aragão, I. C., Costa-Pereira, A., & Sarmento, A. E. (2012). Aditional risk factos for infection by multidrug-resistant pathogens in healthcare-associated infection: a large cohort study. BMC Infectious Diseases, 12(375). DOI:10.1186/1471-2334-12-375.

Caserta, R., Marra, A. R., Durão, M. S., Silva, C.V., Pavão dos Santos, O. F., Neves, H.S., Edmond, M.B., & Timenetsky, K. T. (2012). A program for sustained improvement in preventing ventilator associated pneumonia in an intensive care setting. BMC Infectious Diseases, 12(234). Acedido em http://www.biomedcentral.com/1471-2334/12/234

Centers for Disease Control and Prevention (CDC) (2013). National Healthcare Safety Network (NHSN) Report, Data Summary for 2011, Device-associated Module. National Center for Emerging Zoonotic Infectoius Diseases. Acedido em http://www.cdc.gov/nhsn

Centers for Disease Control and Prevention (CDC) (2017). Management of Multidrug-Resistant Organisms in Healthcare Settings, 2006. Acedido em https//www.cdc.gov/infectioncontrol/guidelines/mdro/

Comissão de Controlo da Infeção (2013). Relatório de 2012: Inquérito de Prevalência de Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde e utilização de antimicrobianos nos Hospitais da Europa. Viseu, Centro Hospitalar de Tondela-Viseu.

Comissão de Controlo da Infeção e Resistências aos Antimicrobianos, (2017). Vigilância Epidemiológica: UCIP 2015. Viseu, Centro Hospitalar de Tondela-Viseu.

Damani, N. (2012). Surveillance of Health care associated infections in low to middle resource countries. Internacional Journal of Infection Control. DOI:10.3396/ijic.v8i4.033.12

Direção Geral da Saúde (2015). Norma 019/2015 de 16/1272015– “Feixe de Intervenções” de Prevenção de Infeção Urinária Associada a Cateter Vesical www.DGS.pt

Direção Geral da Saúde (2015). Norma 021/2015 de 16/12/2015– “Feixe de Intervenções” de Prevenção de Pneumonia Associada à Intubação www.DGS.pt

Direção Geral da Saúde (2015). Norma 022/2015 de 16/1272015– “Feixe de Intervenções” de Prevenção de Infeção Associada a Cateter Venoso Central www.DGS.pt

European Centre for Disease Prevention and Control (2019). Healthcare-associated infections acquired in intensive care units: Annual Epidemiological report for 2017. Stockholm: ECDC;.

Frykholm, P., Pikwer, A., Hammarskjöld, F., Larsson, A. T., Lindgren, S., Lindwall, R., & Akeson, J. (2014). Clinical guidelines on central venous catheterisation. Swedish Society of Anaesthesiology and Intensive Care Medicine. Acta Anaesthesiologica Scandinavica, 58(5), 508-524. DOI:10.1111/aas.12295

Gonzalez, L., Cravoisy, A., Barraud, D., Conrad, M., Nace, L., Lemarié, J., Bollaert, P. E., Gibot, S., (2013). Factors influencing the implementation of antibiotic de-escalation and impact of this strategy in critically ill patients. Critical Care, 17 (R:140). DOI:10.1186/cc12819.

Halm, M. (2014). Do System-Based Interventions affect Catheter-Associated Urinary Tract Infection? American Journal of Critical Care, 23(6), 505-509. DOI: http://dx.doi.org/10.4037/ajcc2014689

Hentrich, M., Schalk, E., Schmidt-Hieber, M., Chaberny, I., Mousset, S., Buchheidt, D., & Karthaus, M. (2014). Central venous catheter-related infections in hematology and oncology: 2012 updated guidelines on diagnosis, management and prevention by the Diseases Working Party of the German Society of Hematology and Medical Oncology. Annals of Oncology, 25, 936-947. DOI:10.1093/annonc/mdt545

Hsu, V. (2014). Prevention of Health Care-Associated Infections. American Family Physician, 90(6). Acedido em www.aafp.org/afp

Huis, A., Schouten, J., Lescure, D., Krein, S., Ratz, D., Saint, S., & Greene, M. (2020). Infection prevention practices in the Netherlands: results from a National Survey. Antimicrobial Resistance and Infection Control, 9,7. DOI: https://doi.org/10.1186/s13756-019-0667-3

Institute for Healthcare Improvement (2007). Five Million Lives Campaign: Prevent Ventilator-Associated Pneumonia. Acedido em http://www.ihi.org/IHI/Programs/Campaign

Iordanou, I., Middleton, N., Papathanassoglou, E., & Raftopoulos, V. (2017). Surveillance of device associated infections and mortality in a major intensive care unit in the Republic of Cyprus. BMC Infectious Diseases, 17, 607. DOI:10.1186/s12879-017-2704-2

Laan, B., Spijkerman, I., Godfried, M., Pasmooij, B., Maaskant, J., Borgert, M., & Geerlings, S. (2017). De-implementation strategy to Reduce the Inappropriate use of urinary and intravenous CATheters: study protocol for the RICAT-study. BMC Infectious Diseases, 17,53. DOI: https://doi.10.1186/s12879-016-2154-2

Lawrence, P., & Fulbrook, P. (2011). The ventilator care bundle and its impact on ventilator-associated pneumonia: a review of the evidence. Nursing In Critical Care, 16(5), 222-234. DOI: 10.1111/j.1478-5153.2010.00430.x

Loveday, H.P., Wilson, J., Pratt, R., Golsorkhi, M., Tingle, A., Bak, A., & Wilcox, M. (2014). Epic3: National Evidence-Based Guidelines for Preventing Helathcare-Associated Infections in NHS Hospitals in England. Journal of Hospital Infection, 86S1, S1-S70. Elsevier Ltd. Acedido em www.sciencedirect.com

National Services Scotland, (2008). VAP Prevention Bundle: Guindence for Implementation. Acedido em http://www.sicsebm.org.uk/welcome.htm

O’Neil, J. (2016). Tackling drug-resistant infections globally: final report and recommendations. Review on Antimicrobial Resistance. Acedido em https://amr-review.org/sites/default/files/160518_Final%20paper_with%20cover.pdf

Paiva, J. A., Pina, E., & Silva, M. G. (2013). Portugal-controlo da Infeção e Resistência aos Antimicrobianos em números-2013. Programa de Prevenção e Controlo de Infeção e das Resistências aos Antimicrobianos. ISSN:2183-072X. Acedido em http://www.dgs.pt

Park, S., Ko, S., An, H., Bang, J., & Chung, W. (2017). Implementation of central line-associated bloodstream infection prevention bundles in a surgical intensive care unit using peer tutoring. Antimicrobial Resistance and Infection Control, 6,103. DOI 10.1186/s13756-017-0263-3

Pina, E., Ferreira, E., Marques, A., & Matos, B., (2010). Infeções associadas aos cuidados de saúde e segurança do doente. Revista Portuguesa de Saúde Pública, 10, 27-39. Acedido em http://www.elsevier.pt

Programa Nacional de Controlo de Infeção (PNCI) (2006). Recomendações para prevenção da infeção associada aos dispositivos intravasculares. Acedido em http://www.dgs.pt

Programa de Prevenção e Controlo de infeções e de Resistências aos Antimicrobianos (PPCIRA) (2017). Programa de Prevenção e Controlo de infeções e de Resistências aos Antimicrobianos. Lisboa: Direção Geral da Saúde. ISSN: 2184-1179. Acedido em www.dgs.pt

Programa de Prevenção e Controlo de infeções e de Resistências aos Antimicrobianos (PPCIRA) (2018). Infeções e Resistências aos Antimicrobianos: Relatório Anual do Programa Prioritário 2018, Lisboa: Direção Geral da Saúde. Acedido em :www.dgs.pt

Rello, J., Lode, H., Cornaglia, G., & Masterton, R., (2010). A European care bundle for prevention of ventilator-associated pneumonia. Intensive Care Medicine, 36(5), 773-780. DOI 10.1007/s00134-010-1841-5.

Resende, M. M., Monteiro, S. G., Callegari, B., Figueiredo, P. M. S., Monteiro, C., & Monteiro-Neto, V. (2013). Epidemiology and outcomes of ventilator-associated pneumonia in northen Brazil: na analytical descriptive prospective cohort study. BMC Infectious Diseases, 13 (119). DOI:10.1186/1471-2334-13-119.

Różańska, A., Chmielarczyk, A., Romaniszyn,D., Bulanda, M., Walkowicz, M., Osuch, P. & Knych, T. (2017). Antibiotic resistance, ability to form biofilm and susceptibility to copper alloys of selected staphylococcal strains isolated from touch surfaces in Polish hospital wards. Antimicrobial Resistance and Infection Control, 6, 80. DOI: https// doi 10.1186/s13756-017-0240-x

Ruiz-Giardin, J., Chamorro, I., Ríos, L., Aroca, J., Arata, M., López, J. & Santillán, M. (2019). Blood stream infections associated with central and peripheral venous catheters. BMC Infectious Diseases, 19,841. DOI: https://doi.org/10.1186/s12879-019-4505-2

Sedwick, M. B., Lance-Smith, M., Reeder, S. J., & Nardi, J. (2012) Using evidence-based practice to prevent ventilator-associated pneumonia. Critical Care Nurse, 32(4), 41-51. DOI: http://dx.doi.org/10.4037/ccn2012964

Suetens, C, Latour, K., Kärki, T., Ricchizzi, E., Kinross, P., Moro, M., & Monnet, D. (2018). Prevalence of healthcare-associated infections, estimated incidence and composite antimicrobial resistance index in acute care hospitals and long-term care facilities: results from two European point prevalence surveys, 2016 to 2017. Euro Surveill.2018; 23 (46). DOI: https//doi.org/10.2807/1560-7917.ES.2018.23.46.1800516

Vincent, J., Barros, D. S., & Cianferoni, S. (2010). Diagnosis, Management and Prevention of Ventilator-Associated Pneumonia An Update. Drugs, 70(15), 1927-1944. Acedido em http://search.ebscohost.com

Wichmann, D., Campos,C., Ehrhardt, S., Kock, T., Weber, C., Rohde, H., & Kluge, S., ((2018). Efficacy of introducing a checklist to reduce central venous line associated bloodstream infections in the ICU caring for adult patients. BMC Infectious Diseases, 18, 267. DOI: https://doi.org/10.1186/s12879-018-3178-6

World Health Organization (2011). Report on the burden of Endemic Health Care-Associated Infection Worldwide: Clean care is safer care. Geneve: WHO Document Production. ISBN: 9789241501507

Downloads

Publicado

2020-06-18

Como Citar

Coelho, N., & Cunha, M. (2020). Padrão de infeção e antibioterapia em unidade de cuidados intensivos. Millenium - Journal of Education, Technologies, and Health, 2(5e), 317–338. https://doi.org/10.29352/mill0205e.33.00339

Edição

Secção

Ciências da vida e da saúde