O Rio Cambongo-Negunza e os seus afluentes: um exemplo da complexidade de padrões de drenagem em Angola

Autores

  • Ilídio Amaral

DOI:

https://doi.org/10.18055/Finis1447

Resumo

Foi escolhida a bacia do rio Cambongo-Negunza, situada na zonacentro-litoral de Angola, como exemplo da complexidade das redes hidrográficasnaquele país. Desde as suas nascentes em maciços da Montanha Marginal (altitudesde mais de 2 000m), o rio desce pela escadaria de aplanações até ao mar, ao qualchega por um troço de vale encaixado em rochas sedimentares. Revela nos diversossectores, não só ele, mas também a maioria dos seus afluentes, traçados impostospor estruturas tectónicas – fracturas e falhas, geralmente em redes ortogonais. Longostroços quase rectilíneos do Cambongo-Negunza são outros testemunhos dessas influências (Cretácico-Quaternário).A superfície de aplanação litoral, incluindo as praias levantadas (altitudes decerca de 40 a 100m), rasoirando terrenos da Orla Sedimentar e do Maciço Antigo,sobe para leste, gradualmente, até um limite topográfico bem marcado, o da base(altitudes de cerca de 280 a 300m) dos contrafortes ocidentais de uma crista quartzítica NNE-SSW de perfil transversal dissimétrico – a serra do Engelo, com altitudes entre 1 400 e 1 700m –, também ela com falhas, sublinhadas por nascentes deáguas termais.Daquela superfície litoral, na faixa das rochas cristalinas emergem alguns relevos residuais com características de inselberge ou montes-ilhas, que levantam váriosproblemas, como o da extensão, para ocidente, das formações quartzíticas e do seudesmantelamento, o comportamento dos mesmos materiais nos processos complexosda génese e evolução da extensa linha regional de escarpas N-S contra as quais terminam as superfícies aplanadas da orla litoral. Nos calcários próximos da costa o rioCambongo-Negunza tem um percurso subterrâneo, por galerias e grutas de grandesdimensões, exsurgindo pouco antes da pequena planície terminal. Não longe do seuvale são observáveis dolinas de vários tamanhos e superfícies lapiezadas. As condi-ções climáticas revelam semi-aridez: a precipitação anual é inferior a 700mm, a evaporação é elevada, a cobertura vegetal é a de um mosaico de savanas, estepes e balcedos xerofíticos, com árvores dispersas ou sem elas.Entre a serra do Engelo e os maciços da Montanha Marginal estende-se amplaárea de afloramentos de rochas graníticas e afins, por vezes cobertas por rególitosde espessuras variadas. As altitudes da aplanação geral estão entre 1 100 e 1 200m.

A área está coberta por bosques e savanas de árvores baixas, arbustos e capins altossobre solos pouco espessos e muito variáveis, embora os fersialíticos sejam os maisvulgares. As temperaturas médias rondam os 22ºC e a precipitação anual é de cercade 1 400mm. Em muitos locais são visíveis horizontes de lateritização ou bauxitização e couraças expostas.Acima daquela superfície de aplanação elevam-se, abundantes, os relevos residuais do tipo inselberg, isolados ou agrupados; ligados ou não aos traçados geomé-tricos das redes hidrográficas, com predomínio dos quadriculados, traduzindo a acomodação dos cursos de água, grandes e pequenos, permanentes e temporários, afracturas e falhas. É de notar que a maioria dos inselberg não está na proximidadedas vertentes escarpadas da Montanha Marginal, limites leste da superfície de 1 100--1 200m, mas bem mais para o lado ocidental, da crista quartzítica do Engelo. Omesmo sucede em bacias vizinhas, como a do Cuvo-Queve a norte e a do CubalQuicombo a sul. Vales de fractura e relevos residuais mereceram explanações de pormenor, com indicação de critérios para o seu estudo.Mais uma vez houve a preocupação de correlacionar os vários factores de dinâ-mica externa (dito de modo simplificado, meteorização e erosão em sentido lato) ede dinâmica interna (geologia e tectónica) para explicar a génese e evolução das formas do relevo. Por isso mesmo o estudo termina com breves considerações para umaexplicação geocronológica dinâmica.

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Como Citar

Amaral, I. (2006). O Rio Cambongo-Negunza e os seus afluentes: um exemplo da complexidade de padrões de drenagem em Angola. Finisterra, 41(82). https://doi.org/10.18055/Finis1447

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