Se a economia circular não está a circular, vamos ultrapassar a narrativa
DOI:
https://doi.org/10.29352/mill0218e.41263Resumo
Durante anos, a economia circular foi apresentada como a solução perfeita para as questões de sustentabilidade: um sistema capaz de reduzir os resíduos, diminuir as emissões e assegurar o crescimento económico sem esgotar o planeta (EMF, 2013; 2015). Uma espécie de poção mágica que poderia transformar resíduos em recursos e gerar um ciclo virtuoso sem fim. Mas a realidade é bem diferente: atualmente, a economia circular não está a circular o suficiente.
Os números falam por si. O Circularity Gap Report (2024) mostra que a taxa de circularidade global caiu de 9,1% em 2018 para 7,2% em 2023. Por outras palavras, o mundo está a tornar-se cada vez menos capaz de reutilizar materiais para criar novos recursos. E não é só isso: nos últimos seis anos, a economia global consumiu 582 mil milhões de toneladas de materiais, quase tanto como o que foi utilizado em todo o século XX. O atual sistema de produção está a levar os ecossistemas para além dos seus limites, enquanto a biocapacidade da Terra está a diminuir cada vez mais (Siegel, 2021).
De acordo com o Relatório sobre a Economia Circular em Itália (2024), o país é líder europeu em investimentos e emprego no setor. Com 12,4 mil milhões de euros investidos em 2021 e mais de 613 000 trabalhadores, a Itália está entre as nações mais avançadas. No entanto, quando se trata de resultados concretos, surgem desafios: A taxa de reciclagem da Itália continua a ser de 33,8%, muito abaixo da média da UE de 46,2% e longe do objetivo de 65%.
As políticas europeias e nacionais estão a tentar inverter a tendência (UE, 2018; 2021). O Pacto Ecológico da UE e os novos regulamentos sobre embalagens, matérias-primas essenciais e gestão de resíduos são passos importantes, mas não são suficientes. A questão é mais profunda e exige mudanças estruturais. O Circularity Gap Report 2024 sublinha que para colmatar esta lacuna são necessárias políticas arrojadas, reformas financeiras que penalizem os produtos insustentáveis e investimentos em competências para a transição ecológica.
No entanto, como demonstrado por Kirchherr (2017), que analisou 114 definições diferentes de economia circular, o próprio conceito permanece ambíguo e qualitativo, dificultando a sua medição efectiva. Os indicadores atuais, incluindo os desenvolvidos pela Comissão Europeia (Moraga et al., 2019), ainda não conseguem avaliar completamente a circularidade de um sistema, levando a conclusões diferentes dependendo das métricas adotadas (Spina et al., 2025). Esta lacuna metodológica complica ainda mais a adoção de estratégias eficazes.
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