2020 | Artigo do ano

A​ Finisterra felicita os/as vencedores/as do Pr​é​mio Melhor Artigo de 2020 e do Melhor Artigo do Número Temático Covid-19.

Os/as vencedores/as são determinados por votação de uma Comissão nomeada para o efeito. Os manuscritos publicados na Finisterra são avaliados pela clareza da escrita e conteúdo, organização, gráficos, contribuição para o conhecimento, etc.

​No dia 23 de novembro, após a Conferência Anual de Finisterra (Jacques Lévy), a Presidente do juri, Jennifer McGarrigle, apresentou os/as vencedores/as do Artigo do Ano 2020 e uma menção honrosa, enquanto Nuno Marques da Costa apresentou os vencedores/as do Melhor Artigo do Número Temático Covid-19 e uma menção honrosa.

O Artigo do Ano da Finisterra, destinado a premiar o melhor artigo publicado na revista em 2020, foi atribuído a:

Nuno Travasso, Aitor Varea Oro, Mariana Ribeiro de Almeida, Luísa Sousa Ribeiro, Acesso ao mercado de arrendamento em Portugal. Um retrato a partir do Programa de Arrendamento AcessívelFinisterra – Revista Portuguesa de Geografia, LV(114), 105-126.

Com o objectivo de reagir à actual crise no acesso à habitação em Portugal, o governo lançou o Programa de Arrendamento Acessível (PAA), que visa dar resposta às populações de rendimentos intermédios com dificuldades para aceder a habitação em condições de mercado. O programa é acompanhado por um conjunto de dados estatísticos e critérios que permitem monitorizar o mercado de arrendamento e calcular taxas de esforço máximas. O presente artigo parte desses dados e critérios para: 1) quantificar e territorializar o desfasamento entre mercado de arrendamento e rendimento das famílias; e 2) avaliar o impacto que uma adopção generalizada do PAA teria na mitigação desse desfasamento. Para além de apontar limitações na adequação do programa à heterogeneidade dos territórios, as análises permitem perceber que, em grande parte do território, o PAA poderá dar resposta a uma camada relativamente delimitada, mas significativa, da população (cerca de 10%) com rendimentos medianos. Contudo, nas áreas sob maior pressão urbanística, esta camada reduz-se para metade, passando a corresponder às camadas de rendimentos mais elevados. De um modo geral, identifica-se um largo segmento da população que permanece sem resposta. Conclui-se que o PAA pode ser um instrumento útil, mas por si só não permite dar resposta a todo o segmento da população ao qual se destina. O artigo termina com uma reflexão sobre a necessidade e caminhos possíveis para uma política de habitação mais abrangente e capaz de responder aos actuais desafios. Em termos metodológicos, o trabalho apresenta um conjunto de cartografias produzidas a partir de Sistemas de Informação Geográfica que permitem visualizar o modo como tanto os problemas como as oportunidades se territorializam (sendo a inexistência de dados para algumas áreas e a variável escala de desagregação dos mesmos tanto um condicionante dos exercícios como um descritivo do funcionamento do país). Em termos de resultados, pretende-se não só quantificar a magnitude e localização dos problemas como reflectir sobre o papel que podem ter os vários actores que intervêm no problema e que podem fazer parte de uma solução que, entendemos, deve estar ancorada na acção colectiva, catalisada pelo poder público.

 

Menção honrosa, de 2020, foi atribuída a:

Alcides Lopes, Júlia Carolino, Formas resilientes da tradição na diáspora africana em Lisboa: Kola San Jon e o Direito à CidadeFinisterra – Revista Portuguesa de Geografia, LV(114), 173-188.

O urbano contemporâneo coloca desafios de várias (des)ordens, sendo em si, uma das maiores questões enfrentadas. Focamos o uso coletivo da cidade em contexto neoliberal e nas modalidades e consequências da sua apropriação para a vida social, segundo Lefebvre. Este ensaio incide sobre o Bairro da Cova da Moura e a inscrição, em 2013, da prática performativa cabo-verdiana Kola San Jon, no Inventário Nacional de Património Cultural Imaterial. A análise baseia-se em pesquisa etnográfica realizada entre 2011 e 2018, incidindo sobre o Kola San Jon, simultaneamente como prática cultural que actualiza os processos sociais e como dispositivo identitário estratégico que reivindica a visibilidade da comunidade. Assim, focamos a festividade organizada anualmente na Cova da Moura e a agenda anual de atividades externas, na sua relação com a luta pela valorização do lugar na Área Metropolitana de Lisboa (AML), bem como o próprio processo de patrimonialização do Kola San Jon em Portugal. A reflexão sobre esta prática comprometida com estratégias de ação que geram formas de resistência e afirmação de base identitária, remete-nos para a questão do direito à cidade, na sua qualidade de prática cultural de um lugar que o capitalismo empurra para as margens, mas também enquanto evento lúdico com capacidade de gerar centralidades cidadãs. Kola San Jon faz jus à noção de que habitamos hoje, com crescente intensidade, redes que cruzam um emaranhado de trajetórias mais importantes do que as fronteiras.

 

Melhor Ano do número temático sobre a Covid-19 da Finisterra em 2020, foi atribuído a:

Teresa Sá Marques, Hélder Santos, Fernando Honório, Márcio Ferreira, Diogo Ribeiro, Marcelo Torres, O mosaico territorial do risco ao contágio e à mortalidade por Covid-19 em Portugal ContinentalFinisterra – Revista Portuguesa de Geografia, LV(115), 19-26.

A dimensão espacial dos riscos associados à Covid-19 é a motivação para se explorarem as estruturas socio-territoriais que influenciam a vulnerabilidade face ao contágio e à mortalidade, respondendo a uma lacuna de investigação identificada pela literatura. Assim, esta pesquisa visa identificar o mosaico territorial de riscos face ao contágio e à mortalidade por Covid-19, retratando os diferentes perfis de vulnerabilidade que emergem no território de Portugal Continental. A variabilidade, à escala local, dos níveis de vulnerabilidade sustenta a opção por uma análise à escala do concelho. Pretende-se contribuir ainda para informar as políticas dirigidas à prevenção e mitigação dos riscos de contágio e morte, atendendo à espacialidade das situações identificadas como potenciadoras destes riscos. Assim, após a análise dos perfis territoriais de risco ao contágio e à mortalidade, é elaborado um cenário que identifica três perfis territoriais de vulnerabilidades que carecem de políticas diferenciadas face aos seus riscos.

 

Menção honrosa do número temático sobre Covid-19 atribuída a:

Juliana Chatti Iorio, Adélia Verônica Silva, Maria Lucinda Fonseca, O impacto da Covid-19 nos e nas estudantes internacionais no ensino superior em PortugalFinisterra – Revista Portuguesa de Geografia, LV(115), 153-161.

Neste ensaio apresentam-se os resultados de uma análise exploratória dos impactos da pandemia COVID-19, nos e nas estudantes em mobilidade internacional e nas pessoas de nacionalidade estrangeira que frequentam uma instituição de ensino superior em Portugal. O estudo baseia-se num questionário online dirigido a essa população, efetuado entre 7 de abril e 7 de maio de 2020. Foram analisadas as perspetivas dos respondentes, relativamente aos efeitos desta crise sanitária na continuidade dos seus estudos em Portugal, bem como nas estratégias de ensino e aprendizagem, emprego, habitação e saúde e bem-estar. Embora os problemas criados pelo novo coronavírus e as restrições à mobilidade humana para fazer face à sua propagação tenham afetado toda a comunidade estudantil, os seus efeitos não foram homogéneos, destacando-se diferenças segundo o género, idade, origem geográfica e fontes de financiamento dos estudos em Portugal.

 

juri do Artigo do Ano 2020 foi composto por: Jennifer McGarrigle (Presidente) (CEG, IGOT, ULisboa, Portugal), João Cabral (Faculdade de Arquitetura, ULisboa, Portugal), Joseli Maria Silva (Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brasil), José Carlos Teixeira (University of British Columbia, Canadá), Núria Benach (Universitat de Barcelona, Espanha), Maria Helena Esteves (CEG, IGOT, ULisboa, Portugal), Nuno Costa (CEG, IGOT, ULisboa, Portugal), e Sérgio Oliveira (CEG, IGOT, ULisboa, Portugal).

juri do Melhor Artigo do Número Temático Covid-19 foi composto por: Nuno Costa (Presidente) (CEG, IGOT, ULisboa, Portugal), Ana Louro (CEG, IGOT, ULisboa, Portugal) e Raquel Melo (CEG, IGOT, ULisboa, Portugal).